A Polícia Civil de Flores da Cunha investiga uma tentativa de homicídio motivada por uma discussão política pré-eleições. A vítima é Leonardo Castellan da Silva, 18 anos, que foi atacado com uma garrafa e sofreu um corte no pescoço. O autor já foi identificado e deverá prestar depoimento nos próximos dias. A identidade dele não foi divulgada.
O ataque aconteceu em uma lancheria da Rua Quatorze de Julho, no bairro São José, por volta das 21h da sexta-feira (30). O frentista Jair Antunes da Silva, 47 anos, relata que foi com o filho buscar um xis. O pai esperou no carro, enquanto Leonardo desembarcou e foi conversar com uma atendente.
— O meu guri estava conversando com a moça sobre política, sobre o (candidato a presidência) Lula; e este cara chegou e se intrometeu. Começou a peitar meu piá, que me chamou e, daí, eu desci para ver o que estava acontecendo. Foi quando ele deu uma garrafada no meu guri. É uma situação que nunca acreditei que ia acontecer em Flores da Cunha — lamenta Jair.
Conforme o relato do pai, a garrafa quebrou e causou um corte no pescoço do jovem. Leonardo foi levado para o atendimento médico e precisou fazer 18 pontos.
— Foi um corte muito feio. Ele foi quase degolado. Por milímetros que não matou ele. Cortou da orelha até o pescoço. Agradeço a Deus pelo meu filho estar vivo. Ele nasceu de novo — relata o frentista.
A Polícia Civil confirma que vítima e agressor não se conheciam. Inicialmente, a ocorrência foi registrada como tentativa de homicídio. O delegado Rodrigo Duarte, contudo, aguarda o resultado da perícia para classificar definitivamente o crime.
— Dependemos da conclusão pericial para determinar se foi um homicídio tentado ou lesão corporal grave. A autoria já está esclarecida. Ainda iremos interrogar o investigado. A motivação foi discussão política pré-eleitoral — afirma o delegado de Flores da Cunha.
Após atingir Leonardo com a garrafada, o suspeito brigou com o pai da vítima e, depois, fugiu antes da chegada da Brigada Militar (BM). O caso foi registrado na Polícia Civil na manhã de sábado (1º) e o exame de corpo delito feito nesta terça-feira (4), em Caxias do Sul.
— Ficamos apavorados com o ódio por política em Flores da Cunha. Meu filho não dirigiu uma palavra a este homem. Ele conversava com a guria do estabelecimento, quando esse descontrolado se intrometeu, começou a falar de (presidente Jair) Bolsonaro, e foi agressivo. Fiz o que qualquer pai faria, entrei em luta corporal e ele fugiu. Não conhecíamos ele, nunca conversamos — descreveu Jair.
Divergência ideológica qualifica agressão por motivo torpe
Conforme o delegado Duarte, o fato do ataque ser motivado por uma divergência política configura motivo torpe — uma qualificadora no caso de homicídio tentado ou uma agravante se foi desclassificado para lesão corporal grave. O termo crime político, conforme a legislação, é utilizado apenas quando o ato coloca em risco a segurança do estado democrático de direito, tipificação criada a partir da revogação da Lei de Segurança Nacional em 2021.
— O presidente manda fechar um partido, a polícia vai até lá e acaba matando algum opositor. Este seria um crime comum com conotação política. Agora, duas pessoas que são um qualquer, esta agressão (por divergência ideológica) é assemelhada com briga de bar ou de futebol. Por isso, é um motivo torpe — exemplifica o advogado criminalista Ivandro Bitencourt Feijó.
O motivo torpe qualifica o crime, o que aumenta a pena. No homicídio simples, a punição prevista é de seis a 20 anos de reclusão. No qualificado, a pena é de 12 a 30 anos de prisão.