Estreante na política, Claudio Branchieri, o professor Claudio, já começa a trajetória como deputado estadual. Eleito com 33.707 votos, o economista de 51 anos tem uma vida dedicada ao ensino e à consultorias para empresas. A partir do próximo ano, estará na Assembleia Legislativa para defender liberdade econômica e ajudar o Estado a se desenvolver mais.
— O Rio Grande do Sul nem é Estado competitivo. Nós estávamos ontem (quarta-feira) conversando com um prefeito do Espírito Santo e ele mostrando como o Espírito Santo está vivendo uma era de ouro em termos de crescimento e desenvolvimento enquanto o nosso Estado está parado, absolutamente estacionado. Precisamos voltar a ter investimentos em infraestrutura. O RS é um Estado falido, é o segundo mais endividado da União e precisamos encontrar alternativas sob pena de que as empresas vão embora simplesmente porque não encontram aqui condições mínimas para poder exercer suas atividades — destacou, durante entrevista ao Gaúcha Hoje, da Gaúcha Serra, desta quinta-feira (6).
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O deputado eleito também defende uma revisão no modelo de pedágios e, por considerar injusto, além do homeschooling (ensino doméstico). Assim como o deputado federal eleito Mauricio Marcon, com quem fez dobradinha na campanha eleitoral, se define um "antipetista ferrenho". Confira:
Qual sua expectativa com o mandato e quem é o professor Claudio?
A expectativa é a melhor possível. A gente entrou na política para mudar e melhorar a vida das pessoas e tem a expectativa de que possa contribuir com isso durante o nosso mandato na Assembleia. Eu tenho 51 anos, sou formado em Economia pela Universidade Caxias do Sul e tenho mestrado pela universidade federal. Fui professor do departamento de Economia por 18 anos. Tenho uma carreira na iniciativa privada, atuando em consultoria de empresas na área de gestão, e resolvi entrar na política para poder exatamente melhorar a vida das pessoas. Foi o que me impeliu a concorrer a um cargo público e graças a Deus obtive sucesso.
Quais são as suas propostas?
A minha carreira na iniciativa privada sempre foi marcada pela defesa da liberdade econômica. Essa é a minha principal pauta na Assembleia. Meus projetos serão todos no sentido de melhorar o ambiente de negócios no Estado para que o Rio Grande do Sul volte a ser competitivo. Esse é o pilar central do nosso mandato.
O senhor chega ao cenário político e carrega no nome a palavra professor. O que os professores podem esperar do professor Claudio como deputado? E temos uma discussão grande relacionada ao teto de gastos, que acaba conflitando com o entendimento de que a educação é investimento e é tratada como custo. Como o senhor vê essa situação? Que atenção pode ser dada à educação e aos professores levando-se em consideração essa situação do teto de gastos?
Obviamente, sendo um professor, eu entendo a importância da educação. Eu vim de uma família muito humilde e desde criança meus pais, meus avós me ensinaram que o caminho para uma vida digna passa pelos estudos. Obviamente, a nossa atuação na Assembleia em relação à educação vem muito da ideia de que temos que trazer um pouquinho mais de razoabilidade para aplicação dos recursos na educação. Eu divirjo quando tu fala que o teto de gastos conflita com investimento em educação, uma vez que o teto de gastos trataria educação como um custo e não como um investimento porque nós precisamos de uma âncora fiscal, qualquer que seja ela. Todos os países do mundo que deram certo têm âncoras fiscais. Optamos por uma delas, que é o teto de gastos. Se o teto de gasto não existisse, eu precisaria adotar outra. A lei de responsabilidade fiscal era uma. Se acabarmos com o teto de gastos eu vou ter que criar uma outra âncora, seja limite de endividamento ou meta de superávit primário. Então, não é um fato consolidado de que a lei rouba recursos da educação. Eu acho só que a gente tem que usar esses recursos com um pouco mais de inteligência.
O senhor é um defensor do homeschooling (ensino doméstico). Por que defende esse método?
A primeira coisa que a gente faz é defender a liberdade, a liberdade dos pais escolherem o que é melhor para seus filhos. Nem todos nós vivemos a mesma realidade. Existem pais que gostariam de optar, ao invés de colocar os filhos numa escola pública, de eles mesmos cuidarem da educação do seu filho. Eu entendo que esses pais têm o direito de fazê-lo desde que, obviamente, dentro de algum tipo de controle ou de critérios que o Estado possa supervisionar. Mas a defesa do homeschooling é a defesa da liberdade.
Como o senhor pretende atuar em conjunto com o deputado federal eleito Mauricio Marcon (Podemos)?
Eu e o Mauricio temos uma ligação que transcende a política, é uma relação pessoal que vem de antes da política. Temos princípios e valores muito alinhados. Talvez por isso a nossa candidatura deu tão certo. O Mauricio, por ser hoje um fenômeno eleitoral, me emprestou essa visibilidade. Os eleitores do Mauricio enxergavam em mim os mesmos valores que enxergavam nele e os meus eleitores enxergavam no Mauricio os mesmos valores que enxergavam em mim. As mesmas pautas de defesa da liberdade que o Mauricio vai levar para o Congresso nós vamos defender aqui. A responsabilidade fiscal como princípio basilar de gestão de Estado que o Maurício vai levar para o Congresso Nacional vamos defender aqui. Essa atuação tende a ser conjunta exatamente por conta dessa ligação íntima.
A primeira manifestação do vereador Mauricio Marcon quando assumiu o mandato na Câmara de Vereadores, há dois anos, foi no sentido de dizer que iria trabalhar pela formação de uma frente anti-PT. O senhor é tão antipetista quanto o vereador Marcon e vai pautar isso em seus discursos e manifestações na Assembleia?
Sou. Sou tão antipetista quanto o vereador e agora deputado eleito Mauricio Marcon. A divergência, digamos assim, esse antipetismo, vem porque as nossas divergências são inconciliáveis. É difícil você encontrar um ponto de convergência entre a visão de mundo que a esquerda representa e a nossa. Não há ponto de convergência. Essas pautas que hoje a esquerda defende avançaram no Brasil nas últimas décadas sem encontrar resistência. Mas essa resistência agora existe e a gente quer fazer isso na Assembleia. Tenho certeza que o Congresso Nacional, hoje eleito de maneira conservadora, também vai ser resistência caso o desastre aconteça e Lula seja eleito. É exatamente por isso, por essas divergências inconciliáveis que, sim, você podem me caracterizar como um antipetista ferrenho.
O senhor já disse que quer rever o modelo de pedágios nas estradas gaúchas. Qual é a sua proposta?
O modelo de pedágio, hoje, penaliza eventualmente algumas comunidades porque acabou tendo poucas praças e praças muito caras. Obviamente, isso é um equívoco, porque se você tem um determinado trecho pedagiado e um outro não pedagiado, e você tem toda uma praça sendo administrada por uma empresa, as pessoas que usam o trecho pedagiado subsidiam a recuperação da estrada do trecho que não é pedagiado. A gente entende que é um modelo até injusto, por isso a gente deveria olhar o modelo. Eu sou a favor das estradas pedagiadas. As pessoas entendem que já pagam o IPVA e que teriam direito a receber estradas em condições de tráfego. Elas estão corretas. Mas quando o Estado administra recursos a gente já sabe da ineficiência e o resultado é esse. Hoje, pagamos muitos impostos. O Rio Grande do Sul nem é um Estado competitivo. Estávamos conversando com um prefeito do Espírito Santo e ele mostrando como o Espírito Santo vive uma era de ouro em termos de crescimento e desenvolvimento, enquanto o nosso Estado está parado, absolutamente estacionado. Precisamos voltar a ter investimentos em infraestrutura. O RS é um Estado falido, é o segundo mais endividado da União e precisamos encontrar alternativas sob pena de as empresas irem embora simplesmente porque não encontram aqui condições mínimas para poder exercer suas atividades. É por isso que eu defendo pedágio, acho que os gaúchos pagam impostos demais. Mas também precisamos encontrar alternativas para viabilizar a infraestrutura do Estado, que está absolutamente sucateada e não avançou nada nos últimos governos, tampouco no governo (Eduardo) Leite.