Mais de um século de idade e muitas experiências com eleições para contar. Da urna de lona com o voto em cédulas de papel às urnas eletrônicas com sistema de biometria, Celina Lea Dal Pra Zengerling, 104 anos, vivenciou vários tipos de exercício da democracia. Ela está entre as 12 mulheres e os três homens com mais de cem anos de idade aptos a votar neste ano em Caxias do Sul , e dona Celina já se prepara para ir às urnas em outubro.
— Não sei se eu vou votar, se vou chegar até lá. De hoje até lá faltam alguns dias ainda —brinca a centenária.
As eleições de outubro irão marcar a segunda votação de dona Celina como centenária na cidade. Em 2018, ano das últimas eleições gerais no Brasil, eram apenas dois eleitores com mais de cem anos, incluindo a Celina. Já em 2022, a cidade conta com 15 idosos centenários.
Natural de Caxias do Sul, dona Celina viveu grande parte dos 104 anos em Galópolis. A tradição e a disposição em ajudar a decidir o futuro do país é um ensinamento que vem de casa. O legado foi deixado pelo seu pai, José Dal Pra, conhecido como Marconi na comunidade de Galópolis.
— O meu pai sempre disse que era para votar e votar bem [...] Meu filho vem me buscar para votar. Ano passado (ela quis dizer em 2020) ele veio me buscar para votar. Esse ano eu vou votar também, se Deus quiser.
Apesar de ter votado por muitos anos em Galópolis, Celina teve seu local de votação alterado para o salão paroquial Nossa Senhora de Lourdes em 2015, mais próximo de onde residia com os netos. Atualmente, ela fica em uma casa de repouso, mas com a família sempre por perto.
“Ela vota com muito gosto, sai bem feliz”
O neto Italo João Franzoi Junior, 46 anos, conta que desde sempre a avó foi assídua nas eleições. Mesmo sem a obrigatoriedade de votar, ela faz questão de exercer a cidadania e, aos poucos, vai deixando esse exemplo para toda a família.
— Quem não vota se isenta e depois não pode cobrar. A minha vó sempre me ensinou isso. Ela sempre teve alguns candidatos que ela gostava de votar. Eu, claro, tenho os meus candidatos preferidos também, e a gente sempre respeitou a idade da minha vó. Ela sempre nos fala os candidatos que ela quer votar [...] Ela vota com muito gosto, sai bem feliz, é uma maneira dela passear, ver os amigos dela, ela curte esse momento da votação — conta Franzoi.
Celina também acumula os papéis de mãe, avó e bisavó. Para o neto Italo, ela é um exemplo de vitalidade e de comprometimento com o país.
— A Ana daqui dois anos está apta a votar, que é a bisneta mais velha dela. Com certeza, ela (Celina) vai deixar isso como um legado. Eu espero que por várias gerações para que todo mundo cumpra sua obrigação (do voto), que é um direito nosso.
Na hora do voto
A partir dos 70 anos de idade, o voto passa a ser facultativo para os brasileiros. Em Caxias do Sul, 30.477 eleitores atingiram essa faixa etária para as eleições deste ano. Apesar da não obrigatoriedade do voto, muitos idosos ainda querem manter vivo o exemplo de cidadania e não perdem a chance de votar em seus candidatos.
O titular da 136ª Zona Eleitoral de Caxias do Sul, Vicente Angelo Cadore, explica que os mesários sempre são orientados a dar preferência para esse público, assim como ocorre com as pessoas com deficiência.
— Tem o mesário que organiza a fila e quando ele identifica a pessoa idosa, já passa na frente [...] Isso é bem enfatizado no curso dos mesários para auxiliar os idosos. Normalmente, esse público já está em uma seção de fácil acesso. Em locais com escadas, por exemplo, temos as seções especiais, que são reservadas para os idosos e pessoas com deficiência, até para facilitar o momento do voto.
De acordo com Cadore, também é permitido que uma pessoa de confiança, normalmente alguém da família, auxilie o idoso na cabine de votação, podendo até digitar o número para a pessoa, caso o idoso tenha dificuldade.