Em sua segunda passagem pela Serra gaúcha neste ano, o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, cumpriu agenda em Bento Gonçalves nesta quinta-feira (16). Pela manhã, visitou expositores da ExpoBento e da Festa Nacional do Vinho (Fenavinho) e, à tarde, palestrou para empresários e convidados no Centro da Indústria, Comércio e Serviços (CIC-BG). Questionado pelos jornalistas, Mourão disse que a discussão sobre o voto impresso é "bizantina" e disse confiar no processo eleitoral.
Discurso para empresários
Após a visita, Mourão almoçou com lideranças empresariais da região em uma agenda fechada para convidados. Por fim, no último compromisso oficial do dia, Mourão falou com os empresários sobre o “Desenvolvimento de uma nação e os desafios do RS”. Essa programação também foi restrita apenas para convidados.
Durante quase uma hora, ele fez análises sobre o cenário econômico mundial. Reconheceu a importância da vacinação contra a covid-19 e destacou que era impossível tomar uma decisão centralizadora nas medidas de combate ao coronavírus - relacionando a autonomia de prefeitos e governadores na adoção de restrições.
— O antídoto não é 100% eficaz, mas é 95% eficaz porque, se ele não impede que a doença ocorra, ele praticamente impede que a pessoa sucumba — destacou.
Em seguida, Mourão disse que, após a pandemia, a crise atual é provocada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, que impacta em diferentes setores. Para o vice-presidente, a pandemia causou uma ruptura na cadeia mundial de suprimentos e isso faz com que países como o Brasil aproveitem a oportunidade para se tornarem menos dependentes de outros países na importação de insumos para a produção local.
— As grandes empresas empreendedoras entenderam, há um tempo atrás, chegaram a conclusão que era mais barato produzir na China e agora se deram conta que estão produzindo do outro lado do mundo para um mercado que é aqui. Eles estão agora buscando trazer a sua produção para mais perto,. O país, esse estado e essa região tem potencial para suprir essas necessidades e vamos ter que nos preparar e nos preparar para esse jogo, nos apresentando para esse jogo e transmistindo confiança para os grandes empreendedores — disse.
Veja outros trechos da palestra em Bento e da entrevista concedida após o encontro:
Morte do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips
"Enfrentamos, agora, essa questão da morte do indigenista Bruno Pereira e mais do repórter inglês transformada em um caso que parece que o Brasil não tem soberania. [...] Vamos analisar isso sem querer colocar a conta em cima do nosso governo, em particular do presidente Bolsonaro. O que acontece naquela região? A terra indígena Vale do Javari, na fronteira com o Peru, tem 85 mil quilômetros quadrados. A distãncia da terra indígena até Manaus, em linha reta, é 1.163 quilômetros. Equivalente a distância de Londres a Barcelona. É necessário que as pessoas conheçam essas problemáticas da Amazônia e, principalmente, que os dois marginais que executaram o Bruno e o Dom, são dois ribeirinhos, que vivem da pesca e da caça. [..] São dois marginais e não uma questão de soberania"
Reconquistar o orçamento
"O Congresso Nacional capturou o orçamento do Executivo. Isso foi feito pouco a pouco. Primeiro, com a presidente Dilma (Rousseff), as emendas parlamentares se tornaram impositivas. A emenda era uma negociação do Executivo com o parlamentar. Você vota comigo e eu te libero a emenda, digamos assim. A Dilma estava em posição de desvantagem, em processo de pré-impeachmente, e essas emendas se tornaram obrigatórias. O (Michel) Temer viveu outra situação complicada e as emendas de bancadas se tornaram obrigatórias. No nosso governo, também em situação difícil, ocorre a chamada emenda de relator. E, hoje, o que acontece? O relator do orçamento tem, dentro desse orçamento de 2022, R$ 16 bilhões na mão dele para dizer se vai pra lá ou pra cá, sem que exista projeto e planejamento. Ou seja, o Executivo tem que reconquistar o orçamento"
Ativismo judicial
"Como é que nasce o ativismo judicial? Ele nasce porque a lei é para nós, cidadão comum, que tem um lei e diz isso aqui eu posso e isso aqui eu não posso. Agora, se o magistrado A diz que pode e o magistrado B diz que não pode, como é que eu fico? Isso é ativismo judicial. Essa é a insegurança jurídica que nós"
Confiança na urna eletrônica
"Todo o processo que tem o uso de equipamentos tem que ter segurança e evoluir. Cada vez mais o hacker, ou quem quer que seja, busca atacar esse tipo de sistema. São providências que estão sendo tomadas. Houve uma discussão muito mal-conduzida no passado, quando o anseio era que, você, ao digitar o seu voto da urna, ele saísse impresso e você conferisse, e com isso teria uma auditoria daquilo que você efetivamente fez e depositasse em uma urna ao lado, e caso tivesse dúvida, houvesse a recontagem desses votos físicos. Julgo que essa discussão (voto impresso) está meio bizantina. Mas, as providências que estão sendo tomadas, pelo conjunto das instituições, vão dar garantia a esse processo"
Pré-candidatura ao Senado
"A minha pré-candidatura ao Senado é para aproveitar a minha experiência, não só os 46 anos que passei dentro do Exército, mas também esses quatro anos como vice-presidente da República e continuar, dentro do Congresso, o trabalho de fazer avançar as reformas que o país precisa para a gente sair dessa armadilha da renda médica que estamos aprisionados desde a década de 1980, no século passado. E isso tem consequências diretas para o Rio Grande do Sul e para essa região. A partir do momento que a gente consiga alavancar mais investimentos em infraestrutura, reduzir e organizar melhor nosso sistema tributário, todos vão ganhar e isso vai gerar mais emprego e renda"