Os alvos da 8ª fase da Operação Caritas tiveram bens bloqueados e carros apreendidos após o cumprimento dos mandados de busca e apreensão na manhã desta quinta-feira (19). A informação foi confirmada pelo delegado de Canela, Vladimir Medeiros, em entrevista coletiva nesta manhã.
Além da prisão preventiva do secretário municipal do Meio Ambiente, Jackson Müller, encontrado em sua residência em Novo Hamburgo, foram afastados seis servidores da pasta – dois por 120 dias e outros quatro por 60 dias. Eles ficarão sem receber salários.
Foram cumpridos 40 mandados de busca e apreensão, principalmente de documentos, relativos a 24 do total de 27 alvos. Também houve bloqueio de 10 contas correntes, com o objetivo de que os valores sejam devolvidos se confirmados desvios. Foram apreendidos sete veículos, avaliados em R$ 1 milhão no total. E ainda foi determinada a indisponibilidade de venda de um imóvel em Canela.
Além disso, foi feita uma prisão em flagrante em São Leopoldo de um suspeito com arma de fogo e munição. Ele pagou a fiança e foi solto. Outro investigado também foi preso com arma de fogo, porém, o delegado afirma que ainda está sendo avaliada a situação dessa prisão.
De acordo com Medeiros, foram investigados contratos feitos sem licitação, em uma soma de mais de R$ 7,3 milhões de recursos públicos envolvidos, e quase R$ 1 milhão em contratos que os empreendedores tiveram que fazer com as empresas sugeridas de fora de Canela.
— O que conseguimos compreender nesses seis meses de investigação específicos para este núcleo da Secretaria de Meio Ambiente são duas práticas investigadas: a primeira é que haveria um grupo comandando a secretaria, servidores CCs, nomeados, e que esse grupo indicaria empresas para contratarem com a prefeitura municipal de Canela sem licitação, algumas delas de propriedade desses servidores — diz o delegado.
Uma segunda prática investigada eram os pedidos de licença ambiental para os empreendimentos e construções em Canela, alguns deles de grande porte.
— Os empreendedores não conseguiam obter ou tinham atrasadas as licenças e, em determinado momento, era sugerida ou indicada uma empresa, geralmente de fora da cidade, por vezes, até com valores mais elevados, e essas empresas que fariam laudos, estudos, teriam ligação com os servidores da pasta do Meio Ambiente —diz a autoridade policial,
De acordo com o delegado, os empreendedores que fecharam contrato com as empresas investigadas são vistos como vítimas ou testemunhas do esquema criminoso.
— São empresários que vêm à cidade para investir, para buscar efetivar os seus negócios. Muitos deles estavam com licenças inviabilizadas, dificultadas ou atrasadas. Estão no inquérito como testemunhas ou como vítimas. Muitos foram ouvidos formalmente pela Polícia Civil — detalha Medeiros.
O delegado relatou que as empresas investigadas na prestação de serviços em Canela, também realizam serviços em outras cidades vizinhas. Ele disse ainda que não tem nos autos indicação de envolvimento do prefeito de Canela, Constantino Orsolin (MDB).
Desde a primeira fase da Operação Caritas, seis pessoas foram presas. Segundo a Polícia Civil, são 27 alvos das medidas cumpridas nesta quinta, sendo 18 pessoas físicas e nove pessoas jurídicas. Ao todo, desde o início da primeira fase da Caritas, são mais de 30 os investigados no inquérito policial. Foram 130 policiais civis atuando na operação nesta manhã.
A operação tem apoio da Divisão de Combate à Corrupção do Deic, e da Divisão de Inteligência Financeira da Polícia Civil.
— Identificamos que o grupo que estava na Secretaria de Meio Ambiente de Canela é muito bem organizado, também age em outras prefeituras e em outras empresas e instâncias, em sistema de revezamento entre eles — disse o delegado, referindo que o grupo age desde que assumiu a gestão na secretaria.
Também tiveram buscas em Bom Princípio, no hospital municipal São Pedro Canísio. Alguns investigados já tinham sido alvos de operações anteriores.
— Como nós temos o desenvolvimento de fatos anteriores, alguns fatos e vínculos se comunicam.
O advogado Ricardo Cantergi, que representa o secretário Jackson Müller, diz que o cliente nega que tenha cometido os crimes.
— Entendemos que a prisão preventiva imposta ao secretário é desproporcional, na medida em que este já foi afastado de suas atribuições como secretário, seus bens já foram apreendidos e todas suas contas, bloqueadas. Frisamos que o secretário está colaborando com a investigação que se encontra em andamento, com a certeza de que, ao final, será inocentado — afirma Cantergi.
Em nota oficial, a prefeitura de Canela informa que o governo municipal não compactua com qualquer tipo de irregularidade. Confira a nota na íntegra:
"Em relação aos fatos ocorridos nesta manhã em Canela, já amplamente divulgados pelos veículos de comunicação, a Administração Municipal vem a público esclarecer que:
- As ordens judiciais foram cumpridas na manhã de hoje;
- O governo não compactua com qualquer tipo de irregularidade e está à disposição para colaborar com as investigações policiais;
- A Prefeitura de Canela segue trabalhando em prol da comunidade e colaborando com as autoridades para o pleno esclarecimento dos fatos;
- É pertinente reforçar que o prefeito Constantino Orsolin não foi citado em nenhum momento na operação e não é alvo das investigações policiais, conforme afirmação do delegado responsável pela ação."