Um grupo de vereadores protocolou nesta semana indicação (recomendação) ao Executivo sugerindo o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em locais abertos abertos e fechados em Caxias. De autoria do vereador Mauricio Marcon (sem partido), o ofício foi assinado também pelos parlamentares Adriano Bressan (PTB), Alexandre Bortoluz (PP), Maurício Scalco (Novo), Olmir Cadore (PSDB), Ricardo Daneluz (PDT) e Sandro Fantinel (Patriota). O posicionamento repercutiu de forma controversa.
De acordo com o proponente, a indicação teve como base situações de outros países que aderiram à desobrigatoriedade do uso de máscara.
— Uma matéria do Jornal Nacional (de maio deste ano) apontava que, com 46% de primeira dose, os Estados Unidos já foi liberado inclusive em locais fechados, só era proibido em transporte público e outros lugares. Nessa mesma reportagem, tinha uma médica de um instituto de saúde dos Estados Unidos dizendo que estaria tudo ok. Tivemos (a desobrigatoriedade) na Alemanha, Inglaterra, Argentina. O Brasil é um dos poucos países do mundo, senão o único, que exige máscara em local aberto — afirma Marcon.
Embora mencione Estados Unidos e Inglaterra, ambos os países apresentam atualmente altas taxas de contaminação. Os EUA, por exemplo, registraram na última terça (19) mais de 2 mil mortes de covid. A agência Lupa, que realiza trabalho de verificação de informações divulgadas na internet, desmentiu na última semana que o Brasil seria o único país a não decretar o fim do uso de máscaras. Na publicação, citavam o Chile, que alcança aproximadamente 75% de imunização da população e ainda não definiu pelo uso facultativo do equipamento de proteção.
Conforme especialistas, para atingir a imunidade de rebanho, a vacinação completa teria de abranger mais de 70%. A partir de 60%, o planejamento poderia ser projetado para fim da obrigatoriedade de máscaras. Caxias, na última atualização, havia atingido 51,5% de imunização das duas doses ou dose única e 73,91% tomaram a primeira dose.
FALHA NA INDICAÇÃO
Marcon reconhece que a indicação foi protocolada com falha. Na proposta, os vereadores defendem a liberação do uso das máscaras para ambientes abertos e fechados. No entanto, de acordo com o parlamentar, para locais fechados a sugestão é que fosse estabelecido um planejamento diferente — o que não é mencionado na indicação.
— Foi uma falha, o foco é em locais abertos. (Para locais fechados) a ideia é que o governo estabeleça uma meta para que seja retirada, exemplo, 70% dos vacináveis com imunização completa _ explica Marcon.
Especialistas recomendam prudência
Duas especialistas consultadas pelo Pioneiro afirmaram não considerar o momento adequado para desobrigar o uso de máscaras.
— Ainda não é o momento, com a situação de cobertura vacinal ainda não liberaria a retirada das máscaras, principalmente em local fechado — declarou a infectologista Lessandra Michelin, que integra a direção da Sociedade Brasileira de Infectologia.
A médica infectologista coordenadora do Controle de Infecção do Hospital Geral, Viviane Buffon, também considera o alcance de imunização na cidade ainda insuficiente em Caxias.
— A imunidade de rebanho ou de grupo é um conceito teórico que representa o nível de proteção coletiva suficiente para conter a transmissão do vírus, inclusive sem restrições. Está pautada na premissa de que, quando uma porcentagem suficiente da população é imune ao vírus, cria uma barreira de proteção que protege do vírus o restante da população. De acordo com a maioria dos modelos epidemiológicos, espera-se que essa imunidade de grupo seja alcançada quando a proteção atinge entre 60% e 80% da população _ defende.
Segundo ela, a análise para tomada de decisão deve ser de responsabilidade conjunta da Vigilância Epidemiológica e do poder público e deve ser baseada na análise do número de casos de cada município, curva de contaminação e também percentuais de internação hospitalar e de UTIs.
— Com retorno da taxa de ocupação que corresponda o período anterior da pandemia, com porcentagem acima de 70% da população vacinada nas duas doses, entende-se que se pode fazer planejamento da retirada do usos das máscaras. A suspensão será um marco social e econômico muito significativo — reconhece a especialista.
O Brasil ultrapassou ontem 50% da população com imunização completa.
"DAQUI OU DO MUNDO"?
Questionado se o posicionamento dos vereadores não contraria a avaliação técnica de especialistas, Marcon contesta:
— Ou escutamos especialistas daqui ou o que o mundo tem a nos dizer. Gosto de sempre ter a maior opinião possível e podemos olhar nesses países que foi liberado que não tem problema nenhum. (...) Achar que estamos protegidos usando máscara em local aberto nada mais é que uma restrição inócua.
Marcon ressalta que o principal objetivo da indicação é estimular planejamento para a retirada das máscaras.
— É bom que se estabeleça uma meta para quando podemos retirar, senão ficamos nessa.
Ele reitera que a proposta é de tornar facultativo o uso da máscara, portanto, deixando a critério de cada cidadão o uso ou não do equipamento.
A INDICAÇÃO
- Sugere ao Poder Executivo Municipal a elaboração de um plano de desobrigação do uso de máscaras em ambientes abertos e fechados na circunscrição do Município, de acordo com o desenvolvimento da cobertura vacinal da população caxiense.
- Alguns trechos mencionados: "experiências bem sucedidas no Exterior no sentido da flexibilização do uso de máscaras conforme o desenvolvimento da imunização da população, como nos EUA, por exemplo"; "iniciativas no mesmo sentido que vêm ocorrendo no Brasil, como, por exemplo, na cidade do Rio de Janeiro"; "73,41% da população caxiense já imunizada com ao menos uma dose e 48,37% com imunização completa (dados referentes à data em que a matéria foi protocolada), a campanha de imunização em nosso Município demonstra ótimos resultados e nos permite planejar de forma responsável a redução das medidas restritivas no município".
CONTRARGUMENTOS
- Infectologistas recomendam atingimento da chamada imunidade de rebanho, que se configuraria na imunização completa de 60% a 80% da população. O meio termo defende proteção de mais de 70%.
- Especialistas também sugerem que a articulação da política de desobrigação do uso da proteção deve ser feita pelo poder público em conjunto com a Vigilância Epidemiológica.
- Os EUA, citado na indicação, apresenta alta taxa de mortes por covid, mais de 4 vezes maior do que o Brasil, por exemplo. A própria discussão sobre uso da máscara é assunto controverso no país.