Apenas um vereador da Câmara de Caxias do Sul ainda não se submeteu a pelo menos uma dose da vacina contra covid. Sandro Fantinel (Patriota) afirma que não tem certeza se vai se imunizar e que, se acontecer, será somente quando houver disponibilidade de dose da Janssen.
— Se eu dissesse que iria me vacinar semana que vem, estaria mentindo e parto do princípio da transparência. Eu acredito que eu vá me vacinar, até porque não tem porquê, a minha esposa vai, meu filho já se vacinou, mas já disse que vou me vacinar se for com aquela vacina (Janssen), porque nos EUA se vacinaram com essa vacina e tá todo mundo livre, liberado, voltou à vida normal — afirma.
Apesar da fala do vereador, os Estados Unidos na verdade também apresentam problemas e polêmicas semelhantes com o Brasil, desde opositores à vacinação até controvérsias como exigência de comprovante de vacinação para participação de eventos ou acesso a estabelecimentos.
Fantinel diz que não acredita que a posição o torne um mau exemplo:
— Mau exemplo é o que temos na política até hoje, que é um bando de mentirosos que diz para o povo uma coisa e faz outra. É um pensamento meu, a gente é livre para pensar o que quer.
O parlamentar, no entanto, ocupa posição solitária entre os 23 integrantes da Câmara, que reiteram apoio pela vacinação. Muitos dos quais, inclusive, já completaram a imunização. Onze deles, conforme levantamento da reportagem, já tomaram as duas doses ou a dose única (vereadora Estela Balardin).
Onze também é o número de vereadores que só passaram pela primeira fase da imunização. Um deles, contudo, Rafael Bueno (PDT) deve se vacinar neste sábado (4).
A imunização avançada do plenário reflete o próprio avanço da campanha no município e também inspira segurança para a retomada das atividades parlamentares, incluindo recepção de visitas nos gabinetes (ainda limitadas) e agenda ativa dos vereadores em bairros.
EXEMPLO DE DENTRO
Na visão do presidente da Câmara, Velocino Uez (PTB), a adesão simboliza engajamento importante da Câmara em assumir seu papel de autoridade e exemplo para a população.
— Eu defendo sempre dar exemplo de dentro para fora, mas não posso interferir no pensamento dos vereadores, porém, acho importante a vacinação, o exemplo tem de ser dado começando por nós. Se a pessoa acha que está tudo errado, a primeira pergunta é: o que estou fazendo para mudar?
Embora parte dos vereadores consultados informe que a previsão da segunda dose é para início de novembro, a projeção do governo do Estado e do próprio Ministério da Saúde, é de que a segunda dose esteja aplicada em todos os brasileiros adultos, acima dos 18 anos, até final de outubro.
A polêmica do passaporte
O novo episódio polêmico das questões políticas que envolvem a pandemia também afeta a Câmara de Caxias: a exigência de estabelecimentos pela comprovação de vacinação para acesso de público. Dois vereadores assumiram os polos da discussão: Juliano Valim (PSD) e Sandro Fantinel (Patriota).
Valim apresentou indicação (sugestão ao Executivo), com assinatura de 16 parlamentares, pela obrigatoriedade de apresentação de certificação da imunização em casas noturnas, shows, cinemas e outros ambientes públicos.
— É importante que adotemos isso se quisermos nos livrar o quanto antes dessa pandemia. Outro ponto é que o risco de contaminação é maior nos lugares fechados com pouca circulação de ar e aglomeração de pessoas. Temos que pensar no bem coletivo e não levar no lado de ideologias partidárias e sim políticas públicas para o bem comum. A minha liberdade vai até onde começa ao do outro — defende o parlamentar.
Na outra ponta, Fantinel apresentou projeto que visa proibir o chamado "passaporte sanitário", nome que tem sido dado à exigência de apresentação da comprovação de vacinação.
— Que se faça campanha para o pessoal que não quer se vacinar faça esse teste, que pelos comprova que ele tem anticorpos e não precisa fazer a vacina. Obrigar as pessoas a fazer a vacina é inconstitucional — afirma Fantinel.
Já Valim acredita que o debate sobre o assunto foi contaminado politicamente:
— Tem pessoas mais fanáticas que dizem que está ferindo a Constituição. O (Supremo) Tribunal Federal considerou constitucional que Estados e municípios podem fazer ações, estimular vacinação compulsória, o que não significa vacinação forçada. Esses fanáticos, quando acontecer na família deles, no irmão, num pai, numa mãe, garanto que eles mudam de opinião. Enquanto é no umbigo dos outros, não se preocupa.
"Como vereador, tenho de ser exemplo"
Diagnosticado em 2004 com neurocisticercose (condição causada pelo alojamento da tênia do porco), Juliano Valim vive uma condição frágil contínua de saúde, o que torna sua bandeira um reflexo de uma preocupação de vivência pessoal.
— Se eu pegar coronavírus eu morro, mesmo tomando as duas doses, não tenho imunidade, mas penso no bem coletivo — afirma.
Apesar de sentir-se vulnerável por sua condição, ele afirma que o incentivo à vacinação é muito mais estimulado pela percepção que tem do seu próprio papel como figura pública.
— O maior exemplo tem de vir de cima, eu como vereador tenho de ser exemplo. O nosso presidente da República não é exemplo para a sociedade. Hoje, infelizmente, a opinião dele, da imprensa, de um vereador, se joga na rede social ela tem muita relevância, tanto para o lado positivo quanto negativo.
Valim também aponta os riscos que recaídas da contaminação podem voltar a representar para a economia, o que reafirma, segundo ele, a necessidade da adesão à imunização o quanto antes.
— A variante Delta é gravíssima, 300% mais contagiosa. Não adianta se preocupar só depois quando começar tudo de novo e termos flexibilizações de comércio, empresas — pontua.
Imunização na Câmara
Primeira dose
- Clóvis Xuxa (PTB), Ricardo Daneluz (PDT), Alexandre Bortoluz (PP), Adriano Bressan (PTB), Marisol Santos (PSDB), Felipe Gremelmaier (MDB), Mauricio Marcon (sem partido), Tatiane Frizzo (PSDB), Rafael Bueno (PDT), Denise Pessôa (PT), Elisandro Fiuza (Republicanos).
Doses completas
- Olmir Cadore (PSDB), Renato Oliveira (PCdoB), Maurício Scalco (Novo), Estela Balardin (PT), Lucas Caregnato (PT), Gladis Frizzo (MDB), Gilfredo De Camillis (PSB), Juliano Valim (PSD), Wagner Petrini (PSB), Velocino Uez (PTB), Zé Dambrós (PSB).
Não se vacinou
- Sandro Fantinel (Patriota).