Antes mesmo da atual legislatura assumir, Mauricio Marcon (Novo) plantou uma polêmica ao defender boicote ao PT assumir a presidência da Mesa Diretora da Câmara de Vereadores na atual legislatura. Na ocasião, o vereador do Novo rechaçou o acordo informal de bancadas que, em tese, conduz a composição da Mesa. O rodízio na presidência da Câmara é previsto entre os partidos com maiores bancadas, o que, nesta legislatura ficaria a cargo de PSDB, PSB, PTB e PT. O critério prioriza o princípio da proporcionalidade, que considera que partidos com maior número de votos e de cadeiras têm direito a ocupar lugares na Mesa Diretora e mais vagas nas comissões parlamentares justamente por terem obtido maior respaldo eleitoral.
Antes da polêmica se instaurar, a tendência indicava que Denise Pessôa (PT) assumiria a função principal da Mesa no segundo ano do mandato, ou seja, 2022. Nos bastidores, entretanto, a chamada frente anti-PT já efetiva movimentos para sondar um possível candidato para angariar votos com o propósito de impedir a eleição de Denise Pessôa à Mesa. O primeiro contato, admite Marcon, foi feito recentemente com a vereadora Gladis Frizzo (MDB).
— A conversa existe de forma bem informal. Como sabemos que não vamos votar no PT, a gente levanta nome. 'Quem sabe a gente lança a dona Gladis, o Felipe (Gremelmaier/MDB), a Tati (Tatiane Frizzo/PSDB), o Bortola (PP)'. Mas é muito cedo ainda.Todos os nomes estão na mesa, inclusive o meu, o do (Maurício) Scalco (Novo), tem de tentar achar um nome para fazer uma oposição e que consiga agregar maior número de votos possível — declara Marcon. Ele confirmou que Gladis foi a primeira pessoa sondada.
Gladis confirma que a sugestão de disputar a presidência da Casa surgiu de conversa com Marcon e Ricardo Daneluz (PDT), mas afirma que ainda não refletiu sobre o assunto ou falou com o partido.
— Me pediram pra colocar meu nome à disposição, mas não refleti ainda. Eu disse que posso estudar. Possibilidade sempre há, vamos ver— comenta a emedebista.
A frente anti-PT é composta por Marcon, Scalco, Bortola, Adriano Bressan (PTB), Daneluz, Sandro Fantinel (Patriota) e Juliano Valim (PSD).
"JAMAIS NO PT"
Marcon salienta compromisso eleitoral de "jamais apoiar o PT" como principal justificativa em insistir na questão:
— Eu jamais votaria no PT. Não faz sentido, não é o que o meu público espera, e tenho de representar elas (essas pessoas).
O vereador do Novo estende seu raciocínio a qualquer candidatura de partidos de esquerda.
— Caxias não escolheu a ideologia de esquerda para governar.
"Jogo democrático é feito na urna"
Apesar de o PT ter umas das maiores bancadas no Legislativo, Marcon fundamenta sua defesa em evitar que "partidos de esquerda" assumam a presidência do Legislativo por considerar o grupo minoria frente aos demais vereadores "de direita".
Marcon também argumenta que a escolha da candidatura opositora à do PT para a Mesa também deve contar com apoio do PSDB:
— Temos os sete ou oito vereadores que têm restrição com nome da Denise, por ser do PT, (...) e também os vereadores da base governista. Uma coisa é votar no (Velocino) Uez, que é governista, outra é votar no PT, que vai trancar a pauta, ser oposição em nível municipal, principalmente ano eleitoral. Então acredito que a gente amplie apoio por esse motivo. Para o governo municipal, não é interessante ter a oposição controlando a Casa.
O vereador do Novo ainda refuta a tese do "jogo democrático" como justificativa para permitir que a oposição também comande a Mesa Diretora.
— O jogo democrático é feito na urna. Quando a cidade decide eleger quatro vereadores de esquerda num universo de 23, não é justo dar a presidência da Câmara contra o que o povo decidiu.
Sobre o acordo informal de condução de presidentes, Gladis também nega o respaldo:
— Não existe acordo, eu pelo menos não participei de acordo nenhum. O que foi definido é que todo ano será feita nova eleição, agora se partidos que têm mais vereadores fizeram acordo, eu não sei.
Marcon e Gladis negam que a recente assinatura da emedebista ao projeto de redução de vereadores tenha sido concedida em troca de apoio à candidatura dela à presidência da Casa. Gladis assinou a proposta no último dia 7 de maio. O fato foi registrado em foto, onde apareciam com a emedebista justamente Marcon e Daneluz.
Já sobre possível proximidade com a frente anti-PT, Gladis disse que nutre boa relação com todos os vereadores.
Presidente do PSDB diz que tendência é respeitar acordo
O presidente municipal do PSDB, Ozório Rocha, afirma que o partido deve manter o acordo prévio.
— Já tínhamos inicialmente conversado dentro do partido de que teríamos um procedimento de forma elegante. Se existe um acordo que o partido entender que deve acompanhar, estaremos acompanhando. Nossos próprios vereadores acharam por bem cumprir o acordo — ressalta.
Ainda assim, ele comenta que, por serem do partido do prefeito e da vice, deve ser considerado o cenário que se apresentar antes de tomada decisão definitiva:
— Entendemos que a questão é a composição da Mesa. Presidente não é totalitário nas decisões, depende muito da Mesa, então acho que (a presidência do PT) não prejudicaria. A princípio, a posição é de se manter o que estava acordado — atesta.
Olmir Cadore, Tatiane Frizzo e Marisol Santos formam a bancada do PSDB.
"Até agora funcionou"
Denise Pessôa, que seria a representante do PT cotada a assumir a presidência, reitera argumentação da funcionalidade do acordo para manter o critério da composição da Mesa Diretora.
— Até agora, sempre funcionou a questão da proporcionalidade, se respeitando o resultado eleitoral. Temos a maioria dos vereadores, inclusive das maiores bancadas, em apoio a manter essa lógica. Os vereadores do MDB tiveram nas outras legisturas. Se fala como se o acordo fosse algo obscuro, na verdade não, ele respeita o resultado eleitoral. A movimentação pode ser legítima porque essa frente (anti-PT) se colocou dessa forma. Mas eu acredito no compromisso com a democracia dos vereadores — avalia.
Denise também questiona a possível quebra do acordo por partidos que outrora ratificavam o sistema:
— Fora disso, se os partidos que acordaram e agora não concordam com essa regra, talvez a única justificativa possa ser uma "politicagem".