Para quem frequenta a Câmara de Vereadores — e a prefeitura— nos últimos 15 anos, certamente topou ou interagiu com João Uez. Quem o encontrou no início dos anos 2000 provavelmente não o reconheça hoje, afinal, João começou a atuar, de forma voluntária, no Legislativo quando tinha apenas 11 anos. Hoje com 28, João se considera peça de confiança do prefeito Adiló Didomenico (PSDB), tanto que coordenou a campanha que elegeu o tucano no último ano.
No governo de Adiló, ele assumiu a frente da Secretaria de Urbanismo. Já havia atuado no cargo na administração de Flávio Cassina (PTB). O período não poderia ser mais conturbado: a SMU é responsável pela aplicação e fiscalização dos protocolos da pandemia. Não fosse isso trabalho suficiente, a pasta ainda está envolvida diretamente com os projetos de atualização da lei de regularização fundiária, da implantação do Aeroporto da Serra Gaúcha e do próprio processo de agilização de licenças para instalação de empreendimentos na cidade.
A proatividade tornou João Uez figura emblemática do governo. O Pioneiro conversou com ele para saber sua percepção de importância na administração e dos desafios da pasta que comanda. Confira trechos:
Conta um pouco da sua trajetória.
Eu comecei com 11 anos no gabinete do então vereador Francisco Spiandorello como voluntário. De manhã, ia para a escola, e de tarde, ia para o gabinete auxiliar, fazia servicinho de estagiário, acompanhava o Chico em reuniões, em bairros. Isso perdurou até eu fazer 16 anos, quando o Chico veio a assumir a Secretaria de Urbanismo, então vim para cá como estagiário. Fiquei dois anos ali, e quando o Chico retornou para a Câmara em 2012, eu retornei para lá como assessor político, depois virei assessor de bancada do PSDB. Na época, faziam parte o vereador Spiandorello e o então vereador Daniel Guerra. Em 2013, a gente foi para a Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico e fui como assessor de governo. E quando o Chico saía de férias ou compromisso fora da cidade, eu assumia a secretaria. Tive a oportunidade de assumir a secretaria por um período contínuo de 60 dias com 21 anos e, à época, me tornei o secretário mais novo na história de Caxias. A então vereadora Paula me convidou para voltar para a Câmara, de novo como assessor da bancada do PSDB, cargo no qual fiquei quase até o final de 2019, quando Cassina assumiu a prefeitura de forma interina e vim para a prefeitura assumindo na época sete secretarias do município. Entre elas, a Chefia de Gabinete, à época com 27, também secretário mais novo. Primeira vez que uma pessoa acumulou sete secretarias, desafio enorme, dinâmicas muito diferentes entre elas. Depois, a partir de janeiro de 2020, assumi uma oitava secretaria, que foi a de Urbanismo, na qual estou até hoje.
Teve contato com vários perfis, Chico Spiandorello, o próprio Daniel Guerra, a Paula...
Sim, o Daniel Guerra foi um ano, mas, enfim, sem diálogo, sem conversa nenhuma, até em função da relação que ele tinha com o PSDB, até depois foi expulso do partido. Enfim, foram vários perfis, mas os ensinamentos de base foram do Chico. Ele é e sempre vai ser o meu maior professor.
Se considera uma peça de confiança do Adiló?
Me considero. Coordenei a campanha dele, desde a pré-campanha. Me considero uma pessoa de confiança do Adiló e também do ex-prefeito Cassina, até pela oportunidade que ele me deu de dar o primeiro passo em assumir pela primeira vez as secretarias.
Então, ao final deste governo o senhor vai completar 20 anos de atuação política, de certa forma. Qual momento foi divisor de águas para você se tornar convicto de que era isso que queria?
Sempre tive uma atividade comunitária, mesmo com 11 anos a gente enfrentava várias situações no (bairro) São Leopoldo, tínhamos problema enorme de alagamento, fui vereador por um dia, fui Jornalista Por um Dia, levei o assunto e o Chico tomou pé e começamos a frequentar o gabinete, primeiro uma vez por mês e, quando percebi, estava indo de forma voluntária todas as tardes. Eu sempre brinco que desci as escadas no final de 2011 como estagiário da secretaria e voltei como secretário quase 10 anos depois. É uma construção, mas para mim é uma realização muito grande.
Ficou 15 anos em construção e assumiu em meio à pandemia e na linha da frente. Como foi esse choque?
Construímos ao longo da vida, são oportunidades. Acompanhamos a elaboração do Plano Diretor, ou mesmo fazendo toda a assessoria do impeachment, onde a Paula era relatora, são oportunidades que a vida nos dá que a gente nunca imagina. Assumir a SMU, que tem diversas áreas de atuação, pensar o futuro da cidade e a parte fiscalizatória, ganhando a questão da fiscalização da covid, claro, é um desafio grande, mas a gente não faz tudo sozinho, temos servidores qualificados, é isso que dá motivação diária.
Além de assumir a questão de fiscalização do cumprimento de protocolos da pandemia, também se envolve no projeto do Aeroporto da Serra Gaúcha, regularização fundiária... É possível dedicar plena atenção a tudo isso?
Com certeza, o secretário sozinho não faz nada, tenho equipe muito boa. Trabalhar na questão da fiscalização, agilização na aprovação de projetos, eles pegam junto. São diversos assuntos, dá para trabalhar, sim, e se vierem mais demandas, vamos abraçar.
O senhor acha que o nível de fiscalização da covid é adequado?
Pela estrutura que nós temos, quantidade reduzida de fiscais, quando fui estagiário tínhamos em torno de 25 fiscais, hoje temos um fiscal para cada 70 mil pessoas. Pelo número de fiscais que temos, fazemos milagre. Gostaria de ter um fiscal em cada esquina da cidade, mas não é possível.
Alguns índices apontam volta do crescimento de contaminação na cidade. O que estaria causando isso? Abertura abrangente? Indisciplina da população? Fiscalização reduzida?
A abertura tem de ser feita, pois não podemos deixar a cidade morrer economicamente. Temos uma cidade extremamente empreendedora, então temos de flexibilizar, mas também cuidar a parte da saúde. E não adianta termos fiscais em cada esquina, campanhas, se uma parcela não colaborar. Tem a grande parcela que colabora, claro que é um período longo de ficar em casa, mas precisamos da consciência plena da população até a vacinação. Não podemos deixar a economia e nem as pessoas morrerem.
Vê como viável fechar novamente?
Se precisar fazer fechamento, mas que se faça de forma flexibilizada e unânime para várias categorias, não adianta fechar uma e deixar outra aberta. Tem de ser uma questão bem pensada para não prejudicar sempre os mesmos, que tiveram mais tempo fechado e tiveram as atividades bem reduzidas.
Como o senhor se posiciona ideologicamente? Também simpatiza com o presidente Jair Bolsonaro, assim como o Adiló?
O meu candidato na última eleição foi o Geraldo Alckmin (PSDB). No meu ponto de vista era a pessoa mais preparada que se apresentou para governar o país, com ampla experiência, com os melhores projetos e conhecimento. Não foi para o segundo turno, então no segundo turno votei no Bolsonaro, em função de uma ideologia, a gente é PSDB desde a essência, me filiei no PSDB aos 15 anos, então tenho uma ideologia anti a visão do outro candidato, que era o Haddad, uma visão petista. Não simpatizo com essa linha doutrinária, simpatizo com outra, por isso votei no Bolsonaro.
E você sendo linha de frente na pandemia, te agradou a atuação do presidente com relação à pandemia?
O presidente é sempre nosso guia, a nossa liderança maior. E certamente algumas posições e iniciativas que ele tomou acabam prejudicando o dia a dia do combate à covid-19. Na fiscalização, por exemplo, chegamos em alguns locais e orientamos as pessoas a colocarem a máscara e elas respondem: "Ah, o presidente não usa". Então, alguns atos e postura do presidente durante a pandemia às vezes não colaboram na parte fiscalizatória também.
Tem ambições políticas?
Acho que isso se constrói ao longo do tempo. Se as pessoas que acompanham o nosso trabalho entenderem que a gente pode disputar uma eleição ao Legislativo, Executivo, estamos dispostos, mas tudo construído de forma coletiva.
Qual dos projetos o senhor tem um carinho especial, qual deles você gostaria mais de ser lembrado?
Tivemos pessoas que foram lembrado por vários projetos. Me inspiro muito no Chico, vivi com o Chico muito mais do que vivi com meu pai e minha mãe em casa. Ele foi muito reconhecido quando foi secretário de Habitação em função dos loteamentos populares. Então, no período que eu ficar na secretaria e conseguir deixar meu legado, com certeza vai ser na questão da regularização fundiária, onde consigamos trazer a essas pessoas o direito da escritura, conseguirem vender seus imóveis ou poderem ser donas através do título de propriedade.