O jornalista Ciro Fabres colabora com a colunista Rosilene Pozza, titular deste espaço
A próxima legislatura promete ser explosiva. Minutos depois de o prefeito Adiló Didomenico ter proferido uma conclamação para apaziguar a cidade em seu primeiro discurso oficial como prefeito eleito, no ato de diplomação na Câmara, o vereador Mauricio Marcon, do Novo, anunciou sua intenção de construir "uma frente contra o PT".
Marcon gravou um vídeo do lado de fora do prédio do Legislativo, após receber seu diploma, em que repudia "um acordo e uma forte tendência para que o PT, em 2022, assuma a presidência da Câmara e tenha a presidência da Comissão de Educação". Refere-se a acordo que vem vigorando em outras legislaturas, orientado por um critério geral de proporcionalidade, de que as bancadas com mais vereadores ficam com a presidência da Casa por um ano. Na futura legislatura, o acordo contemplará PSDB, PTB, PT e PSB com o rodízio. Vale lembrar que a proporcionalidade é um critério democrático.
Marcon foi demolidor:
— Vim para cá não para fazer amizade. Eu estou construindo uma frente contra o PT.
De imediato, o vereador eleito Sandro Fantinel (Patriota) somou-se a Marcon. "Deixar o PT presidir a Casa do Povo é inadmissível", escreveu em uma rede social. O atual presidente da Câmara, Ricardo Daneluz (PDT), veio a seguir e também gravou seu vídeo:
– O PT não tem o meu apoio para presidir a Câmara de Vereadores durante os próximos quatro anos.
Foi uma sucessão de vídeos. O vereador Alexandre Bortoluz, o Bortola (PP), foi o próximo:
— Não compactuo com esse pré-acordo que está ocorrendo dentro dos maiores partidos. Não compactuo e não quero o PT presidindo a Câmara ao longo desses quatro anos.
O dia da diplomação foi bastante revelador. E deu uma amostra do que vem por aí.
Vídeos petistas
Também tem vídeos de vereadoras do PT sobre o assunto. Foram divulgados pela estreante Estela Balardin e por Denise Pessôa. Estela frisou que a articulação que circulou freneticamente nesta sexta-feira "visa excluir apenas o Partido dos Trabalhadores da composição dos espaços." Lembrou ainda que o PT foi o segundo partido mais votado na última eleição.
Convivência política
Com suas inúmeras e até gritantes diferenças, todos os partidos sem exceção têm sabido conviver pacificamente na Casa até agora — na legislatura que está findando, e nas anteriores. Inclusive o Republicanos do prefeito Daniel Guerra e seus representantes na Câmara, colocado na alça de mira durante a legislatura que está findando, participava da convivência política.
"É uma casa de parlar", costumava lembrar o então vereador Renato Nunes, hoje no PL, que também foi líder do Governo Guerra.
E é uma casa que representa a pluralidade da população. Deve ter espaço para a representação de todos.
Não pacifica a cidade
Frentes anti isso ou anti aquilo não ajudam a pretensão de Adiló de pacificar a cidade.
— Caxias precisa de muita força, muita energia convertida para o mesmo ponto. Precisamos apaziguar essa cidade (...) Após a eleição, se encerraram os partidos políticos, hoje o nosso partido é Caxias do Sul — discursara Adiló, minutos antes.
Parte dos vereadores não deu ouvidos. O discurso não foi bem entendido. Ou simplesmente foi ignorado. Só há essas duas opções.