Diante do momento crítico da pandemia, o Pioneiro realiza uma série de entrevistas com deputados estaduais que representam a região da Serra. Além de assuntos políticos, a ideia é ouvir posicionamentos dos parlamentares acerca do enfrentamento ao coronavírus. O entrevistado desta semana é o deputado Neri, O Carteiro (Solidariedade). Confira trechos da entrevista:
O momento exige uma atuação mais proativa e focada dos agentes políticos. Qual sua linha de atuação na questão do coronavírus?
Neste momento difícil, mesmo com dificuldades, precisamos mais do que nunca assumir o papel de agente político para ajudar. Uma das minhas características foi sempre de trabalhar de maneira muito presencial, e claro que desde o ano passado tivemos de nos reinventar, trabalhando de maneira mais virtual, mas nunca paramos. Busco me reunir com prefeito, vereadores, diretores de hospitais, sindicatos, entidades, secretários estaduais e, claro, ser o elo da comunidade e levar reivindicações para o governador. Cobramos muito recursos para Caxias do Sul, insumos, respiradores. Estamos atentos a essas questões, mas claro, dentro da Assembleia Legislativa, buscamos fazer economia e já conseguimos destinar R$ 5 milhões para alguns municípios. Também conseguimos parceria entre Legislativo, Executivo e Judiciário pela qual vamos conseguir distribuir em torno de R$ 60 milhões para a saúde do nosso Estado. Trabalho também levando conscientização às pessoas, orientando uso da máscara, do álcool gel e distanciamento. Também consegui destinar R$ 1 milhão de verba parlamentar para Caxias, que, claro, acaba atendendo toda a região.
Como o senhor avalia a atuação do governo do Estado no enfrentamento à pandemia?
Para todo mundo, essa pandemia chegou do dia para a noite, ninguém esperava. Entendo que o Estado não estava preparado, passávamos já por um momento difícil, mas acredito que o Estado vem tentando fazer o melhor, sempre de forma consciente, e busca consultar especialistas, especialmente na área da saúde. Mesmo com o agravamento e aumento do contágio, busca também olhar para a parte econômica, justamente para buscar equilíbrio. Vejo esforço do Estado no sentido de conseguir quase triplicar o número de leitos, claro que com recursos federais, mas nós tínhamos em torno de 933 leitos de UTI, hoje temos 2.109. Vejo que o Estado, mesmo em meio às dificuldades, tem tentado ao máximo fazer o melhor. Todo mundo é humano, pode errar, mas todo mundo neste momento quer acertar. Vejo até uma atuação bastante positiva do Estado.
E o que você pensa sobre a política do Estado com relação às flexibilizações?
Entendo que essa questão do fechamento do comércio tem de ter um olhar especial, não adianta a gente fechar as portas. Num ano de pandemia, ficou provado que a culpa não é dos comerciantes, não é dos nossos empreendedores. Até porque, se fosse, esse aumento expressivo do contágio teria acontecido antes, mas aconteceu só agora. Os empreendedores mantêm todos os cuidados do mundo, até porque sabem que, se não se cuidarem, vão pagar um preço muito alto. O que a gente percebe é que do início do ano para cá, período do Carnaval e os finais de semana depois, o pessoal meio que afrouxou um pouco. Se avaliar a questão do Litoral, as praias estavam lotadas. No meu ver, esse foi um dos agravantes que influenciou para aumentar o contágio e também muitas festas clandestinas e pessoas se aglomerando de forma irresponsável e não levando a sério. Mas temos de cuidar com prioridade a vida das pessoas na questão da saúde, tem de haver fiscalização por parte dos municípios, mas tem de existir a cogestão, cada prefeito tem de fazer interpretação do seu município e poder direcionar as regras de flexibilização, porque ele conhece a realidade. Não podemos criar outro problema que é a questão de fechar tudo, pois estamos criando um segundo problema, que é a questão da economia. Acho que tem de ter fiscalização, mas não podemos fechar o comércio.
E a atuação do Governo Bolsonaro?
Eu entendo que, entre erros e acertos... eu até prefiro falar na questão dos acertos... eu destaco a disponibilização de recursos aos governos de Estado para se investir em estrutura dos hospitais, também vejo como positivo a questão do auxílio emergencial que ajudou a movimentar a economia, ajudou as pessoas que precisam, embora eu acho que tenha sido meio mal organizado, algumas que precisavam não receberam e outras que não precisariam receberam. Também acho que o governo poderia ter sido mais ágil na compra das vacinas, e a politização também acaba prejudicando um pouco, ele se expressa um pouco mal, isso gera constrangimento no nosso país. Ele teria de entender que esse é o momento de a gente se unir, sem levar para o lado ideológico, não tem de pensar na eleição, todos agentes políticos têm de trabalhar na mesma linha, no mesmo horizonte.
Mas o saldo é positivo ou negativo?
Que nem eu disse, tem muitos acertos e tem erros também.
O senhor circula muito pelos bairros, não sei se ainda faz isso neste momento de distanciamento, mas tem algum apelo mais específico que o senhor receba com frequência durante a pandemia?
A gente percebe que a esperança é a vacina. É o que as pessoas mais esperam neste momento, o dia de estarem vacinados. Também tem muito a questão social, muitas pessoas ficaram desempregadas, então tem muita gente pedindo ajuda com cesta básica, temos feito muitos encaminhamentos para a área social do município, e isso corta o coração. Chegar numa casa e uma mãe, já me aconteceu isso, abrir os armários e balcões e mostrar que não tem nada para dar aos filhos. Outra pauta que as pessoas têm cobrado muito é a volta às aulas, os pais da família trabalham e não têm onde deixar os filhos, que muitas vezes ficam em casa ou são deixados com avós, que são do grupo de risco. Por outro lado, há pais que não querem levar os filhos para a escola. Aquele pai que tem lugar seguro para o filho e acha que não tem que levar não tem que levar mesmo. Mas tem muita gente reclamando que precisa da volta das aulas presenciais.
O prefeito Adiló frisava que você estaria bastante envolvido com o governo municipal. Isso está ocorrendo? O senhor está participando? De que modo?
Na verdade, não tenho me envolvido muito nas questões municipais, até porque estamos com uma agenda bastante extensa em nível estadual, tem muita demanda e pauta em nível de Estado, mas estou sempre me colocando à disposição do município, sempre que precisarem o nosso mandato está à disposição.
E o seu futuro político, pretende concorrer à reeleição, ou a prefeito?
Neste momento, a gente está com a cabeça tão focada na pandemia, tenho mais um ano e meio antes da eleição e a gente está quase com dois anos ainda de mandato e recém saímos de uma eleição, na qual acabamos nos envolvendo diretamente, com o Adiló. Então confesso que, neste momento, a gente não parou para pensar nisso.
E a questão do partido, pretende migrar para o PSDB?
Até falei para o meu presidente estadual que, para eu ficar no Solidariedade, precisaria ter uma legenda. Se não tiver pessoas concorrendo, eu não tenho como sobreviver dentro do partido, preciso de uma nominata. E preocupa que vários vereadores saíram do partido, os meus suplentes saíram, então, se não tiver nominata, é claro que teríamos de sair. Mas temos de ver isso ali na frente. Temos uma relação boa com o pessoal do PSDB, mas o futuro a Deus pertence.
Na sua opinião, além da vacina, o que poderia melhorar no enfrentamento à pandemia?
Primeiro tem de ter muito diálogo entre os agentes políticos, principalmente escutar as pessoas com conhecimento científico. Ninguém é dono da verdade, há pessoas, por exemplo, que defendem a questão do tratamento precoce, outras já não defendem. Confesso que fico um pouco preocupado, não estou dizendo que defendo ou não defendo, mas me preocupa um pouco que a pessoa positiva o teste de covid, vai ao médico e as pessoas reclamam que é dado Dipirona, Paracetamol e mandam para casa. Acho que não fazer nada não é a solução, temos de buscar algum medicamento, não vou dizer qual porque não tenho conhecimento técnico, mas algum medicamento para que a gente possa fortalecer esse combate no início da doença, pode ser uma alternativa. Não falo com conhecimento técnico, precisamos escutar quem conhece, mas não adianta dar nada e mandar pra casa. A gente percebe que as pessoas são mandadas para casa e dias depois são entubadas.