Há 12 anos, a advogada de formação Grégora Fortuna dos Passos iniciou um estágio na Secretaria da Habitação de Caxias do Sul. Lá conheceria Flávio Cassina (PTB), em 2009, de quem se tornou assessora. Desde então, Grégora se tornou braço direito de Cassina e com ele seguiu para a Câmara de Vereadores, quando o petebista foi eleito parlamentar e assumiu a presidência da Comissão de Constituição, Justiça e Legislação (CCJL), setor para o qual convidou Grégora para assessorar.
— A comissão é importante, pois ali tramitam todos os projetos de lei. E é complexo esse trabalho, pois tem de ser feita análise tanto dos projetos dos vereadores, quanto os que chegam do Executivo — explica Grégora.
Em 2015, Cassina foi eleito presidente da Câmara e, novamente, convidou Grégora para assumir a direção da Casa.
— Naquele momento, eu passei a conhecer muito mais o Legislativo, não só a comissão (CCJL) e o trabalho dos vereadores, mas também o funcionamento da Câmara — relata.
Sempre ao lado Cassina, Grégora teve a oportunidade de conhecer os meandros da política, do operacional às relações. A consolidação de uma trajetória lapidada para a articulação definiu-se no início deste ano, quando Flávio Cassina foi eleito prefeito de Caxias do Sul e Grégora, convidada para assumir a chefia de gabinete e a Secretaria de Governo da prefeitura, o que complementou sua experiência: se até então ela dominava o funcionamento do Legislativo, terminado 2020, Grégora detém o conhecimento do outro lado, a administração pública.
— Este ano também foi muito rico, porque a chefia (de gabinete) tem relacionamento com todas as outras secretarias dos municípios, portanto, acaba acompanhando o trabalho de todas as pastas, e isso enriqueceu muito a minha bagagem. Aprendi bastante e acompanhei todos os projetos que nós executamos ao longo do ano — conta.
O fim da gestão Cassina e o anúncio de seu afastamento da vida pública, entretanto, não significou a interrupção da trajetória política de Grégora, pelo contrário: filiada ao PTB desde 2009, ela construiu sua relação partidária e, nesse tempo, conheceu Adiló Didomenico (PSDB), então filiado ao PTB. Com o PTB apoiando a chapa de Adiló e Paula Ioris (PSDB), Grégora novamente foi uma escolha natural do partido para ser indicada ao governo. E assim se concretizou. Grégora, contudo, não assumirá uma pasta qualquer, retornará para a Secretaria de Governo, responsável pela relação entre Executivo e Legislativo.
Ao Pioneiro, Grégora falou a respeito de sua experiência no curto, mas intenso governo de Flávio Cassina e suas expectativas com relação à gestão de Adiló. Confira:
Pioneiro: Ocupou cargos importantes no Governo Cassina, foi uma peça de confiança chamada às pressas, digamos assim, para compor aquele governo tampão. No entanto, agora no Governo Adiló, você foi reiterada como uma figura permanente. Como enxerga essa confiança e o trabalho que entregou para se consolidar na política caxiense?
Grégora: Primeiramente, agradeço a confiança depositada pelo Adiló e a Paula. Acredito que minha experiência na Câmara de Vereadores contou bastante, porque a Secretaria de Governo é responsável pelo relacionamento com a Câmara de Vereadores. Eu trabalhei por cinco anos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e fui por dois anos diretora da Câmara. Trabalhei junto com o Adiló e a Paula, ambos compuseram a CCJL quando eu assessorei a comissão. Então, tem um tempo que eles conhecem meu trabalho.
Você sempre teve vínculo com o Cassina, agora vai estar próxima do Adiló. Será uma relação a ser construída?
Eu iniciei na vida política pelo PP e, quando eu conheci o Cassina eu acabei me filiando ao PTB, foi uma experiência muito boa, porque o PTB é um partido muito bom, de pessoas acolhedoras e te faz se sentir bem. E eu respeito muito o Adiló, a minha referência política é o Cassina, mas eu respeito muito o Adiló, respeito a Paula também, trabalhei com ela na Câmara. Conheci a Paula, respeito muito o trabalho dela, é uma pessoa muito boa para se trabalhar. Ela escuta muito e constrói junto, a mesma coisa o Adiló. São pessoas competentes, honestas, e foi isso que me motivou a aceitar o convite.
Como foi migrar da advocacia para a política? Apesar de as funções que você exerceu flertarem bastante com questões jurídicas, ainda assim, são ambientes e propósitos totalmente diferentes... O que te atraiu na política para permanecer?
Eu continuei fazendo alguns trabalhos nos horários em que era possível conciliar as duas funções. Claro que, nos últimos anos, devido à complexidade da função, tive que parar efetivamente de advogar. Mas o que me motivou foi o sentimento de satisfação em ajudar a cidade. Fazer o bem da população, trabalhando em prol da população, a gente vê os problemas da cidade e poder contribuir para resolvê-los é muito gratificante.
Qual diferença das relações políticas da Secretaria de Governo e da Chefia de Gabinete?
A Chefia de Gabinete é o elo do prefeito com as demais secretarias. E a de Governo é o elo do município com a Câmara e também tem relação com outras secretarias, porque todos os projetos que as secretarias precisam elaborar, todos os contratos, convênios e decretos são publicados e feitos com a Secretaria de Governo.
São cargos de menos apelo popular, quase de "bastidor": você enxerga como duas funções essencialmente políticas?
Isso. A Chefia de Gabinete é um trabalho muito mais político do que a Secretaria de Governo, pois a de Governo auxilia as demais secretarias a executar seu trabalho e esse elo com a Câmara de Vereadores, é a secretaria responsável pela tramitação dos projetos do Executivo.
A sua experiência na Câmara, então, te deu uma boa vantagem para desempenhar o cargo?
Sim, porque a gente, conhecendo o funcionamento do Poder Legislativo, tem mais facilidade até para elaborar os projetos de lei. Como eu trabalhei numa comissão que é extremamente técnica, isso me deu o know how para encaminhar as matérias para a Câmara com muito mais facilidade.
E como foi desempenhar os dois cargos no Governo Cassina, tanto pelo contexto político de mandato temporário quanto hostil após a cassação de um perfeito, quanto também pela situação da pandemia?
Desafiador. Trabalhamos muito durante esse ano. Montamos em março o gabinete de crise, trabalhamos muito nas normas municipais na questão da saúde, para hoje chegar no patamar que estamos, cidade com menos óbitos do nosso porte. Estamos felizes pelo trabalho que desenvolvemos, nem nós sabíamos que fosse possível fazer tanta coisa nesse ano tão turbulento, com covid, com chuvas, secas, com tudo que aconteceu, entregamos um resultado muito bom para o próximo prefeito. Ele vai iniciar a sua administração muito melhor do que a que encontramos quando iniciamos o governo.
No governo de Daniel Guerra você desempenhava qual função na Câmara?
Eu fiquei dois anos na CCJ e um ano na direção da Câmara.
E qual foi a sua percepção na época da relação da prefeitura com a Câmara? Colheu algum exemplo positivo ou negativo?
O relacionamento era quase inexistente. Se vê a diferença de governar tendo um bom relacionamento, pois na verdade os poderes são independentes, mas eles têm de ser harmônicos, pois é uma engrenagem.
Acabou sendo um exemplo do que não fazer?
Pra mim sim.
Pela sua experiência na Câmara, você diria que essa dificuldade de relação também foi causada pela Câmara, ou foi unilateral?
A Câmara tentou. Trabalhando lá, a gente sempre acompanhou, a Câmara tentou muitas vezes ter esse relacionamento, puxar o governo, mas não foi possível.
E essa relação harmônica foi algo que o Adiló exaltou bastante. Então caberá a você a responsabilidade de fazer esse elo se fortalecer?
Com certeza, foi o que nós fizemos durante o ano. Tanto é que todos os projetos que levamos ao Legislativo, nós fomos ao Legislativo, marcamos com os vereadores para explicarmos as matérias, a gente entende que isso facilita muito a proximidade com os vereadores, para que eles possam entender a importância de cada projeto. As indicações que vieram do Legislativo para o Executivo foram todas encaminhadas para as devidas secretarias. Então, esse papel é fundamental para que a cidade possa crescer e se desenvolver.
Tem pretensões políticas para o futuro?
Neste momento, não sei te dizer se tenho alguma pretensão futura política, mas estando aqui a gente sabe que é importante contribuir para a sociedade. Neste momento, vou exercer a função para a qual fui convidada, e não sei, mais adiante talvez possa responder melhor, mas neste momento não tenho isso claro ainda.
A senhora representa a mulher mais próxima do gabinete do prefeito Adiló e também foi bastante próxima na gestão de Cassina. Como vê desempenhar essa representatividade? Acha que houve avanço nessa participação de mulheres no governo?
A eleição de uma vice-prefeita já é um aumento da representatividade das mulheres. O aumento das mulheres na Câmara também. É uma crescente e tende a crescer e é muito importante, pois a visão de gêneros é diferente, a forma de trabalhar é diferente. E eu me senti muito lisonjeada quando o Cassina me convidou para chefiar o gabinete dele, por ser uma mulher, jovem, então a confiança que ele depositou em mim fez eu me sentir muito lisonjeada.
Perfil
- Quem é: Grégora Fortuna dos Passos, 37 anos.
- Formação: advogada.
- Trajetória: assessora da Secretaria da Habitação durante a gestão de José Ivo Sartori (MDB), foi assessora da Comissão de Constituição, Justiça e Legislação da Câmara de Vereadores e, neste ano, foi chefe de gabinete e secretária de governo da gestão de Flávio Cassina.
- Pasta que vai assumir: Secretaria de Governo.
5 principais desafios
- Continuar destravando o município.
- Tornar o município mais tecnológico: "A pandemia veio mostrar ainda mais a necessidade de o município ter os serviços na palma da mão dos contribuintes."
- Conseguir encaminhar e aprovar importantes projetos. Tem matérias já gestadas esperando os encaminhamentos.
- Manter diálogo com todos os setores da sociedade
- Implantação do processo eletrônico: o "legix" da Câmara no Executivo. Inserir a tecnologia nos processos do município.