Após duas décadas liderando a Polícia Civil da Serra, o delegado regional Paulo Roberto Rosa da Silva, 65 anos, encontrou um novo desafio. Ele aceitou o convite do prefeito eleito Adiló Didomenico (PSDB) e assumirá a Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção Social. Para assumir tal missão, o delegado encaminha sua aposentadoria como policial. É o fim de uma carreira de 42 anos, mas sem se afastar do trabalho na área.
Em razão dos trâmites necessários para a aposentadoria, o delegado Paulo não assumirá a pasta no dia 1º de janeiro de 2021, como o restante da equipe da gestão Adiló Didomenico. A missão continuará com o atual secretário, Hernest Larrat dos Santos Júnior, uma prova da boa relação entre a gestão atual e a do prefeito Flávio Cassina. O futuro secretário ressalta as qualidades e bom trabalho de Hernest Júnior e afirma que o convidará para fazer parte da futura equipe:
— São ajustes que estamos fazendo. Em razão da pandemia (de coronavírus, que adiou as eleições), está tudo acontecendo muito rápido.
O futuro secretário de Segurança relata que tomou sua decisão de forma muita rápida, após uma conversa com o prefeito Adiló e a vice-prefeita Paula Ioris no final de semana dos dias 19 e 20 de dezembro. O delegado Paulo vê a sua experiência administrativa e os bons contatos junto aos órgãos de segurança como uma vantagem para conseguir recursos para a cidade. Em sua primeira entrevista após ser anunciado, porém, o delegado regional evitou fazer promessas.
— Não sou político, as pessoas me conhecem. Só que o meu trabalho é este, administrativo, de fazer as coisas acontecerem. Não é hora de ficar falando. Meu trabalho é em equipe — afirma.
Enquanto aguarda a publicação oficial de sua aposentadoria, o delegado continuará trabalhando na Delegacia Regional. A escolha do novo delegado cabe à Chefia da Polícia Civil. Será a primeira mudança no comando regional em duas décadas.
Pioneiro: Como foi receber este convite e a decisão de aceitar?
Paulo Roberto Rosa da Silva: O convite foi feito pelo senhor prefeito Adiló e pela vice-prefeita Paula Ioris. Foi muito rápido, uma conversa no final de semana (dias 19 e 20 de dezembro). Aceitei porque é um desafio. São 42 anos de Polícia Civil, 10 anos como escrivão e 32 anos como delegado, já tenho tempo para me aposentar. A maioria destes anos atuando em Caxias do Sul. Há esta situação de se aposentar e, o mais importante, que gosto do que faço, por isso aceitei este novo desafio. Vou para o aprendizado, pois sou um eterno aprendiz. Dentro da polícia, estamos sempre aprendendo. O que quero é contribuir com a comunidade, porque este é o trabalho de qualquer secretário: atuar em prol da comunidade.
O seu nome foi cogitado em outros governos. O que o fez decidir pela aposentadoria agora?Realmente, me deixa satisfeito ter sido convidado em outras oportunidades. O prefeito Adiló e o prefeito que está saindo também, Cassina, são pessoas que conheço há muito tempo. Não sou filiado a nenhum partido. É importante ser dentro de Caxias, cidade em que trabalho desde 1995. Maior parte da minha carreira como delegado foi aqui na Serra. Caxias é um município muito grande, com muito potencial e que acredito poder colaborar para o crescimento.
Como delegado regional, o senhor atuou em parceria com diversos secretários de Segurança. Como a sua experiência pode ajudar?
Tenho que contar com o que foi feito e me espelhar nos fatos bons. Houve boas administrações pelos secretários nos últimos anos, principalmente o que está no comando da pasta no momento (Hernest Júnior). Queremos dar continuidade, mas, claro, é natural acontecerem algumas mudanças. O objetivo será sempre pensando na administração municipal e desenvolver o plano de governo, que está muito ligado ao programa RS Seguro (do Governo do Estado). É fundamental essa integração do projeto a nível estadual com o projeto municipal. Este elo permanece e continuarei participando das reuniões do RS Seguro, agora como secretário, tentando auxiliar no desenvolvimento desta secretaria que é ampla, com um grande potencial, mas com diversas atribuições: a parte da segurança, a Guarda Municipal e a parte de Proteção Social, que inclui as coordenadorias da Mulher, da Juventude e de Igualdade Racial.
Quais são as prioridades para a pasta?
Estamos assumindo e já conversei com o prefeito Adiló, mas foi uma conversa muita rápida. Em decorrência da pandemia, a eleição se prolongou até 15 de novembro e a escolha do secretariado e equipe de trabalho pelo prefeito está toda muito rápida. Conversamos, há prioridades e continuaremos conversando dentro de uma transversalidade deste trabalho. O trabalho, principalmente no aspecto social, é preciso ser conversado com os demais secretários para atingir o plano de governo. Na área de segurança, o primeiro item é a questão do cercamento eletrônico que precisa evoluir. Também pretendo ouvir o pessoal da Guarda Municipal e tentar fazer o melhor possível com a equipe que está trabalhando. Ajustes fazem partes, mas considero a situação boa.
Caxias do Sul tem um sistema de câmeras defasado e com menos recursos que muitos municípios da região, por exemplo. É um projeto que o senhor pretende avançar?
É preciso ver a questão financeira do município, mas, dentro de aspecto, pretendemos avançar o cercamento eletrônico com a integração com a Secretaria Estadual de Segurança Pública, que é o projeto do SIM. Teremos o auxílio, certamente, de alguma parceria público-privada que precisará ser desenvolvida. É muito recente ainda, mas é uma situação que já existe há anos e que ficou parada em Caxias do Sul. Realmente, em outros municípios está bem mais avançada. O monitoramento eletrônico e câmeras são fundamentais, tanto para o planejamento do policiamento preventivo quanto para a questão investigativa. Muitos casos são esclarecidos através de filmagens de câmeras. Este monitoramento também pode auxiliar na missão da Guarda Municipal de cuidar dos prédios públicos, praças, escolas e assim por diante.
A aquisição de um software de inteligência, capaz de reconhecer placas de veículos e outras funções, é uma meta?
É o objetivo dentro desta situação do cercamento eletrônico, que já existe em outros municípios. É preciso ter uniformidade para todos se comunicarem, o que é fundamental.
Os convênios do Policiamento Comunitário encerraram. Esta parceria com a Brigada Militar pode ser retomada?
É uma situação que precisamos estudar junto ao comando da Brigada Militar e do pensamento do prefeito Adiló e da vice-prefeita Paula para adequarmos. É preciso ser visto. Não me cabe entrar no mérito do encerramento dos convênios. É preciso estudar a situação. Tudo que vier ao encontro de melhorar a segurança pública, sempre considerando o aspecto econômico, será conversado e viabilizado.
A sua experiência em gestão policial pode auxiliar a Guarda Municipal?
Tenho percebido a Guarda Municipal muito atuante. No último ano, houve um crescimento muito grande. Mas, não está aí para competir com ninguém. Não irá competir com o trabalho da polícia militar. A Guarda está para auxiliar a sociedade como um todo no policiamento dentro das normativas constitucionais. É uma situação uniformizada, em parceria com a Polícia Civil e Brigada Militar, com objetivo de fazer o trabalho para reduzir a criminalidade. É a sua função dentro da sua atuação primordial que é a preservação dos prédios públicos.
Representando a Polícia Civil, o senhor atuava pela evolução do Instituto Geral de Perícias na Serra. É uma missão que continuará como secretário municipal?
Certamente buscaremos investir. Não falo em balística pela dificuldade. O Governo do Estado está comprando um equipamento que é de primeiro mundo e é uma situação que já está encaminhada a nível de estado. Mas, iremos continuar reivindicando para o IGP de Caxias. O IGP sempre foi um grande parceiro. Dentro da Polícia Civil, já há um projeto para a realização do (teste de) funcionamento de armas. É um volume muito grande (de armas apreendidas na Serra) que não precisaria ir para Porto Alegre. É importante até para a redução de custos. Com mais efetividade, será uma resposta mais rápida (para os inquéritos policiais) e isso refletirá para a segurança pública da cidade. Tudo que vem para melhorar e tivermos condições, será feito. Só que tudo passa pela situação econômica e de recursos. O ideal seria ter a balística, mas um equipamento deste é muito caro, é um pleito antigo no estado e que atenderá a Capital.
Como o senhor pode atuar para trazer mais policiais para a cidade?
Vou pleitear sempre, tanto para Polícia Civil, quanto Brigada Militar, IGP e Susepe (Superintendência dos Serviços Penitenciários). Era algo que já fazia e irei continuar, mas sei das dificuldades. O Estado já tem um cronograma, o que não existia há muito tempo, de formação de servidores para a segurança pública. Certamente, o governo irá cumprir a nível de Estado. Como reivindicava para a Polícia Civil, continuarei reivindicando com uma amplitude maior, para todos os órgãos de segurança pública.
O senhor sempre foi um crítico da situação das cadeias de Caxias do Sul, principalmente o acesso que presos têm a celulares. Como secretário, poderá atuar nesta questão?
Certamente continuarei reivindicando. Dentro do meu conhecimento do tema, tentar fazer tudo em prol da segurança pública. Inclusive, na ressocialização dos presos, em que já há projetos interessantes em nível municipal e estadual, com parceria com diversos órgãos e o Poder Judiciário. Como respondi anteriormente, tudo que pudermos reivindicar para melhorar, agilizar e auxiliar o trabalho em segurança pública, será feito.
Após duas décadas, o senhor deixará a Delegacia Regional da Serra. Qual é o sentimento?
Não é fácil. Mas, o sentimento é de dever cumprido. Agradeço o convite do prefeito e da vice-prefeita. É uma nova fase, mesmo com a minha experiência, também estarei me reinventando. Um secretário municipal tem mais atribuições e responsabilidades, principalmente no aspecto social. Estou na área que gosto, a segurança pública. O fundamental é a integração dos órgãos de segurança. Acredito que podemos dar continuidade a esta visão do programa RS, que tem apresentado índices excelentes na Serra.