Quebrar marcas tem se tornado costume na vida de Denise Pessôa (PT). Em 2008, aos 25 anos, ela foi a mais jovem eleita (até então) para a Câmara na história de Caxias; em 2012, foi a única mulher a conquistar vaga no Legislativo e, em 2016 consagrou-se, a mais votada do seu partido. Por isso, quase não seria surpresa o fato de Denise ter sido a mulher com maior número de votos na cidade neste ano, quando contabilizou 5.117 votos _ a segunda melhor votação para a Câmara, atrás apenas de Maurício Marcon (Novo). No entanto, o feito ganha mais significado pela marca ter sido obtida em na sua terceira reeleição seguida e o seu quarto mandato ter sido respaldado com o maior volume de votos que já recebeu nas disputas que participou ao Legislativo, inclusive, aumentou em 54,5% o seu eleitorado em comparação ao pleito de 2016, quando somou 3.312 votos.
— Me sinto com ainda mais responsabilidade e também muito grata com essa votação. Ir para o quarto mandato e na segunda eleição consecutiva aumentando a votação... Isso acaba me exigindo ainda mais responsabilidade para garantir um trabalho conectado com as lutas do povo — afirma Denise.
Em um ano de tempo de campanha reduzida e muitas distrações à parte gerada pela pandemia, a petista acredita que a votação expressiva foi reconhecimento do trabalho que desenvolve na Câmara.
— Foi muito difícil de chegar nas pessoas, por isso acho que refletiu muito o trabalho dos últimos anos. E também por isso pretendemos continuar na pauta que vínhamos trabalhando, principalmente porque a população aprova e demonstrou isso na eleição. E agora é claro com o reforço da bancada do PT — destaca.
Com atuação bastante voltada aos direitos humanos e ao combate à violência contra a mulher, Denise reafirma compromisso de reforçar a luta pelas mesmas bandeiras, e avançar, agora com apoio de uma bancada maior do Partido dos Trabalhadores:
— Nesse último ano fiquei sozinha como vereadora do PT (após saída de Rodrigo Beltrão para o PSB) e agora estamos com mais dois vereadores, a Estela, jovem, aguerrida, super competente, preparada e o Lucas com uma grande experiência na área da educação, professor. Então, temos várias pautas comuns que os três trabalhando juntos vão conseguir reforçar a atuação no parlamento. Com a minha experiência quero auxiliar a fazer conexões com os vereadores e aumentar essa força para resolvermos situações para a nossa cidade.
Estela Balardin, inclusive, foi quem desbancou a marca de Denise se tornando não só a mulher mais jovem a ser eleita em Caxias, como também entre todos os candidatos na história das disputas.
Renovação e diversidade
Há 12 anos no Legislativo, Denise Pessôa torna-se acaba naturalmente sendo a referência para os novos colegas de partido que iniciarão em primeiro mandato: Estela Balardin e Lucas Caregnato.
— Sei da responsabilidade de preparar os colegas para seguir essa luta, dar as mãos para recomeçarmos essa caminhada. Melhor do que a gente lutar é saber que a luta segue. São duas pessoas que tenho muito orgulho de ver no nosso partido. Eu quero um dia sair da Câmara e saber que há pessoas que vão seguir essa luta com a mesma garra e brilho nos olhos — ressalta.
Sobre a relativa renovação no quadro, a petista celebra a diversidade da futura legislatura:
— A diversidade de partidos, que não tinham participação na Câmara e passaram a ter, reflete a força da democracia. Não conheço todos os eleitos, mas aumentou a diversidade. A própria bancada do PT temos composição de três vereadores negros, duas mulheres e uma jovem.
Denise também exalta o recorde de cinco vereadoras eleitas para a próxima legislatura.
— (Em 2008) Eu fui a sétima vereadora eleita na história de Caxias, tinha poucas vereadoras eleitas, agora seremos em cinco em uma legislatura, isso é fantástico mas queremos mais.
Evolução e resistência
Prestes a iniciar o quarto mandato, Denise garante que não sente qualquer comodismo na atuação parlamentar.
— Eu valorizo muito esse espaço de representação. No momento que eu não tiver mais vontade ou ânimo, saberei que não é mais espaço para mim. Mas sei que este momento é muito difícil na política nacional, é movimento de resistência de fato. Eu não me permitiria simplesmente virar as costas e ir para casa _ atesta.
Ela destaca que o momento macropolítico também confronta bandeiras que ela sempre buscou defender na Câmara
— Preciso continuar com essa contribuição de levantar as pautas e demandas que defendemos há anos no momento que se questiona a importância dos serviços públicos, dos direitos das mulheres, dos direitos humanos... Talvez seja o momento mais crucial que vivemos nesse sentido. Não teria esse luxo de dizer "não, vou para casa". Esse momento exige mais de mim, por isso estamos na luta.
Ela também avalia ter amadurecido de forma paralela sua vida pessoa com a atuação como vereadora
— Na primeira eleição, chegamos com todo o peso da esperança da juventude e cobrados duplamente, por ser mulher e jovem. Pessoalmente, fui amadurecendo na política e a população caxiense tem visto isso. A minha história política acaba misturando com a história pessoal. Por exemplo, nesse tempo eu me tornei mãe e trouxe isso para a pauta de forma mais completa. A gente vai vivendo coisas e trazendo para o plenário.
Quem é?
Perfil: 37 anos, arquiteta e urbanista e com mandato ativo na Câmara de Caxias.
Trajetória: foi presidente do DA de Arquitetura da UCS em 2006, diretora da Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura em 2006 e 2007 e agora vereadora eleita para o quarto mandato consecutivo.
Referências: Marisa Formolo, Pepe Vargas e padre Roque Grazziotin.
Pessoal: Vive em um chácara, no interior de Caxias, com a família (marido Danilo e filho Eduardo). Gosta de passar o tempo em casa, especialmente brincando com o filho.
AS PROPOSTAS
Denise Pessôa destaca o que pretende priorizar em seu mandato:
Planejamento urbano
"Quero atuar mais fortemente em projetos de planejamento urbano que há muito tempo estavam tramitando na Câmara e por várias situações não se evoluiu, especialmente também por posições diferentes de outros vereadores que agora não estarão na próxima legislatura. Então, acho que vamos conseguir avançar em várias questões no planejamento da cidade, que é importante. Tem um projeto, por exemplo, que é o estudo de impacto de vizinhança, que apresentei em 2009 e até hoje não foi aprovado. Nele, proponho uma avaliação sobre impacto de empreendimentos e como diminuir esses impactos através de medidas compensatórias."
Habitação
"Também tenho um projeto voltado à assistência técnica para habitação de interesse social. Seria quase um SUS, mas na área da arquitetura. Se precisa regularizar sua casa, o poder público poderia, através de parcerias, contratar arquitetos para fazer esses processos de regularização. Isso já é possível, já tem legislação nacional, mas não avançou no município. Questão de regularização fundiária é muito necessária, precisa ser priorizada, pois além do direito a moradia, a questão da regularização importa porque as pessoas conseguem acessar financiamentos para reformar suas casas, são coisas que podem passar despercebidos, mas temos uma população muito grande que não tem imóvel regularizado. Nos últimos anos pouco se avançou nesse aspecto no nosso município."
Direitos humanos
"Continuaremos atuando na pauta dos direitos humanos, especialmente para as mulheres, sou procuradora especial da mulher atualmente. Desde 2018 estamos atuando nessa questão de aumentar a participação das mulheres na política, combater a violência contra mulheres. Agora, com um número maior de vereadoras, certamente vamos desenvolver um trabalho mais consistente."
Pós-pandemia
"A crise econômica é reflexo das medidas não tão assertivas na questão da pandemia, pois se testássemos mais as pessoas, conseguiríamos rastrear melhor como o vírus está atuando na cidade e melhorar a questão do controle e ter um funcionamento melhor da economia. Da forma que estamos atuando, a economia está adoecendo também. A gente vê que a pobreza aumentou muito. Tem pessoas que estão em situação de miséria, não temos como fugir disso, de atender a fome, a miséria. É diferente de tudo que vimos nos últimos anos, achamos que saímos do mapa da fome, mas acho que neste momento teremos de dar atenção a isso. Qualquer pessoa que queira trabalhar direitos humanos nesse momento histórico que vivemos não pode fechar os olhos para essa situação."
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