A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) protocolou às 9h35min desta segunda-feira (2) um pedido de impeachment do prefeito de Farroupilha, Claiton Gonçalves (PDT). A votação da admissibilidade está prevista para ocorrer ainda na sessão desta segunda na Câmara de Vereadores. Antes, porém, o setor jurídico do Legislativo irá analisar se o documento atende aos preceitos legais. Se acatado, o pedido tramitará de forma simultânea a outro processo, acolhido no último dia 17, que teve como autor o empresário Glacir Gomes.
Dois itens da denúncia feita pela OAB embasam também a que está em análise na Câmara: a abertura de crédito suplementar por decreto para a compra de quatro terrenos para a Secretaria da Saúde e a aquisição dos terrenos sem autorização do Legislativo e do Conselho Municipal de Saúde. Outro diz respeito, de acordo com a denúncia, à nomeação de um fiscal municipal para atuar em função privativa de advogado - Gelso Priotto assumiu a Procuradoria Geral do Município (PGM) sem se exonerar do outro cargo, conforme a OAB. Ele foi afastado da PGM antes da admissibilidade do pedido assinado por Gomes. O quarto item do pedido da OAB é o entendimento de que houve quebra de decoro por parte do prefeito Claiton ao reagir a questionamento feito por 15 entidades do município à aquisição de um software para a área da saúde.
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A denúncia, em que a OAB pede a cassação do mandato do prefeito, tem 20 páginas de denúncia, mais anexos. O documento é assinado pelo presidente da OAB/RS, Ricardo Breier, pelo presidente da OAB em Farroupilha, Maurício Bianchi, e pelo presidente da Comissão Especial de Acompanhamento Legislativo da OAB/RS, João Darzone de Melo Rodrigues Junior. Os três participaram da entrega do processo ao presidente da Câmara de Farroupilha, Fernando Silvestrin (PSB), que disse que deve fazer a votação ainda na sessão desta segunda, que começa às 18h.
Após, em coletiva na sede da Ordem em Farroupilha, Bianchi disse que o trabalho de elaboração do pedido durou cerca de um mês e que, após o anúncio do prefeito de que cancelaria os contratos de compra do software e dos terrenos, houve uma suspensão para que houvesse tempo desses atos serem efetivados. Como não ocorreram, a decisão foi prosseguir com o pedido. Além disso, ele comentou o fato de que os vereadores terão poucas horas para analisar o processo e votar pela admissibilidade ou não.
— Me parece que não haverá nenhum empecilho ou objeção para que os vereadores apreciem de forma bastante tranquila o nosso pedido na data de hoje até porque os fatos que estão co-substanciados na denúncia já são conhecidos pela população de Farroupilha.
O advogado também admitiu que o processo encontrou um ambiente favorável afora as supostas ilegalidades.
— Começou-se a falar em denúncia de impeachment, e eu acho que esse foi o ponto fulcral, que motivou tanto o pedido de impeachment que está em andamento como esse nosso, a falta de diálogo do Poder Executivo com as entidades do município. No momento em que o prefeito recebe uma manifestação externando um pedido de cancelamento desse contrato do software, de 15 entidades que certamente representam 90% ou mais da sociedade farroupilhense, e ele não responde, não atende esse pleito e só o faz nas vésperas de um outro pedido de impeachment, nos entendemos que aí começou a se criar um ambiente para que esse processo fosse iniciado.
O presidente da OAB/RS, que esteve em Farroupilha, disse que este é um dia triste para a cidade e, apesar de outro processo já tramitar na Câmara, avaliou que o novo pedido cumpre um dever institucional da entidade que representa. Disse também que, diante dos fatos, a Ordem estaria prevaricando se não protocolasse o processo e ressaltou que a denúncia não tem caráter político e está de acordo com o papel institucional da OAB. Breier também avaliou que esperar a eleição em outubro e a inevitável troca de prefeito ao final do ano - Claiton já foi reeleito e não pode concorrer novamente - seria aguardar tempo demais diante do entendimento de que o prefeito faz um mandato com irregularidades.
— O procedimento é apolítico. O processo de impeachment é um processo político, feito dentro da Câmara de Vereadores, que tem vários partidos que estão lá representados em vários segmentos ideológicos, partidários. E tem o debate. Lá é a casa do debate.
O prefeito não se manifestou sobre o assunto. Conforme a assessoria de imprensa, ele ainda não foi notificado de nenhum ato na Câmara.
Ação Civil Pública
A OAB também diz que vai protocolar até o final da semana que vem uma ação civil pública junto ao Ministério Público, com os mesmos embasamentos do pedido de impeachment. Conforme o presidente da Comissão Especial de Acompanhamento Legislativo da OAB/RS, é neste documento que devem constar possíveis prejuízos financeiros do município devido à conduta do prefeito.