O senador Paulo Paim (PT) completou 70 anos neste domingo. Com uma trajetória de quatro mandados na Câmara dos Deputados e três no Senado, ele alerta que o momento é de trabalhar para evitar uma nova Reforma Trabalhista proposta pelo Governo Jair Bolsonaro por meio da Medida Provisória 905 (MP 905), que retira direitos dos trabalhadores.
Na entrevista concedida na quinta-feira, por telefone, Paim critica a falta de um plano do governo federal para recuperar a economia do país e aponta a melhor e a pior área do Governo Bolsonaro. O senador ainda defende a construção de uma frente ampla e critica a polarização ideológico do PT. Confira.
O senhor disse que seu mandato quer discutir a revogação da reforma trabalhista e a aprovação do Estatuto do Trabalho, a nova CLT. Há espaço para tais mudanças?
No quadro que se apresenta aqui com certeza não. Eles estão com outra reforma trabalhista pior do que está que está aí, fragilizando a fiscalização dos auditores do trabalho, fragilizando o Ministério do Trabalho, querendo que o cidadão, com a MP 905, fique à disposição de trabalhar aos domingos e isso vai desorganizar às famílias. Eles falam em dividir em 12 parcelas o 13º salário. No momento, estamos travando uma batalha contra a MP 905 para que não prejudiquem ainda mais o trabalhador que a reforma anterior fez. O primeiro embate é não deixar eles fazerem essa outra reforma trabalhista. O mundo do trabalho está mudando com as novas tecnologias, temos que nos preparar para esse outro momento que eu chamo uma mudança de ciclo do trabalho, mas sem deixar de garantir direitos para os trabalhadores com jornada (de trabalho), 13º (salário) e férias. É tempo de lutar para perder menos.
Qual a possibilidade de revogar a Emenda 95, que congela investimentos em saúde e educação por 20 anos?
Há uma série de movimentos no Congresso para revogar a Emenda 95 (teto de gastos) ou uma decisão intermediária, que seria suspender por dois anos. Em curto espaço de tempo vamos flexibilizar a emenda 95.
O há que errado com a economia do país que registrou um Produto Interno Bruto (PIB) de 1,1% em 2019 e o dólar chegou na casa dos R$ 5?
Não sou o dono da verdade, mas a opinião que eu ouço aqui dentro do Congresso é que o governo não tem uma proposta, não tem um programa. Também é a opinião do Centrão. O governo não apresentou uma proposta nem na campanha e nem no momento presente. O governo aprovou a emenda 95, aprovou a Reforma trabalhista com o meu voto contra, depois veio a Reforma da Previdência e a MP da Liberdade Econômica, a própria MP do Mercado Verde Amarelo foi editada em novembro, e qual é o resultado: não gerou nenhum emprego. O governo tem que admitir que está com o viés errado. O governo retirou a política do salário mínimo de reposição de inflação mais o PIB e fez uma Reforma da Previdência que diminuiu a possibilidade das pessoas se aposentarem. O governo precisa de uma política de emprego e de infraestrutura. O governo não tem base aqui no Congresso. O governo manda as propostas e some. As propostas do mercado financeiro podem não ser boas para a produção, inclusive para os empreendedores e trabalhadores.
A Reforma Tributária é uma das soluções para destravar a economia?
Sinceramente, acho que essa é a primeira reforma que deveria ter acontecido. A reforma mais importante ele não fez. Tem que ser uma reforma progressista, solidária, justa, não tributando os produtos de primeira necessidade. O governo poderia pegar como exemplo as leis tributárias da França, Itália, Alemanha, Estados Unidos, que são muito mais generosas do que a nossa.
O país pode entrar em uma nova recessão?
Não tenho dúvida. O governo que está aí tem que governar para todos, e ele está em um debate entre nós e eles, e isso não interessa a ninguém. Torço para que esse país dê certo. A tendência e a perspectiva é de que o PIB seja menor se o governo continuar agindo da mesma forma.
Qual a melhor área do Governo Bolsonaro?
Prefiro não dar uma posição individual, mas a opinião minha e de outros é que esse ministro da Saúde (Luiz Henrique Mandetta) é um cara mais centrado, equilibrado e não diz bobagem como alguém andou dizendo. Não gosto de atacar ninguém, tanto que não falo o nome do atual presidente. O ministro da Saúde é unanimidade no Congresso.
E a pior?
A pior área é o meio ambiente. Estamos diminuindo o apoio de países do Primeiro Mundo. O governo não tem dado a atenção devida do que está acontecendo no Brasil como as queimadas de florestas. O governo errou muito quando acabou com o Ministério da Indústria e Comércio, o Ministério do Trabalho, e da Cultura. Ele criou um superministro (Paulo Guedes) que não vai dar conta. A crítica não é pessoal, a crítica é ao governo. O coletivo funciona muito mais do que individualizar a administração do país.
Como o PT pode recuperar a confiança dos eleitores?
O PT tem que ter uma visão ampla e não entrar nessa polarização ideológica, que não interessa ao Brasil e a ninguém. Não vejo problema nenhum em fazer uma autocrítica sobre onde erramos e ajustar para avançar ali na frente e reconquistar a confiança da população. Diante de tanto ataque, o PT acabou criando um desgaste.
Como a esquerda deve se organizar neste momento político para se constituir em alternativa de poder?
Eu já levantei a ideia da frente ampla pelo Brasil. Neste momento defendo que o centro, a esquerda, e não tenho problema em dialogar com a direita, em cima de causas, de um programa de ideias para a gente unificar o que há de melhor no Brasil para avançarmos na qualidade de vida do povo e que o país volte a ser respeitado a nível internacional. Fora da frente ampla, não vejo caminho. E não dá para fazer uma frente ampla desde que o meu candidato seja o candidato da cabeça de chapa sempre. Tem que ter uma visão de frente ampla, e não de hegemonia desse ou aquele partido que se diz mais realista que o rei.
O senhor nunca quis disputar um cargo executivo. Por quê?
Eu me dediquei sempre ao legislativo e, no final desse mandato, vou completar 40 anos de parlamento. Não pretendo concorrer mais a nada. Me vi sempre na linha do legislador. Eu cheguei onde queria no aspecto de defender as grandes causas. Nunca me vi no Executivo. Meu sonho nesses últimos sete anos (de mandato) é ajudar na renovação da política brasileira com essa visão de frente ampla.
O senhor está fazendo 70 anos e nasceu em Caxias. Qual sua relação atual com a cidade e os caxienses?
Morei da Ribeiro Mendes, 1.220, fui coroinha na igreja Pio X, tenho uma relação com todos os sindicatos, nunca deixei de dialogar com os empresários quando fui provocado. Meu pai trabalhou na Marcopolo. Tenho belas imagens de Caxias. A minha infância foi um dos melhores momentos da minha vida. Eu saía do colégio e ia para de baixo dos parreirais na colônia, ajudar na colheita da uva. Historicamente, sempre recebi uma bela votação da cidade. E quando perguntam sobre a minha ajuda a cidade: eu tenho um método que uso desde que cheguei aqui (no Congresso). Eu mando emenda para os 497 municípios do Rio Grande. Mando emendas para a agricultura e minha emenda principal é para a educação, que mantém a Uergs.
Leia também:
Manifestação pró-Bolsonaro reúne milhares em Caxias do Sul
Comissão emite parecer pelo prosseguimento de processo de impeachment de prefeito de Farroupilha
Três candidaturas na disputa à prefeitura de Farroupilha