Principais polêmicas da política externa tratadas pelos representantes dos países na Cúpula do Mercosul
1. Presidente autoproclamada da Bolívia
Durante o conselho de ministros, chanceleres do Uruguai e da Argentina divergiram sobre a validade da presidência autoproclamada na Bolívia.
Enquanto o ministro de Relações Exteriores argentino, Jorge Faurie contestou os quase 17 anos de poder de Evo Morales, o chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, criticou a situação vivida na Bolívia após a renúncia de Morales, com a consequente autoproclamação de Jeanine Áñez como presidente. Na manifestação, Novoa fez uma crítica indireta ao Brasil. Ele avaliou de maneira crítica quando países definem a legitimidade de governos instituídos por razões ideológicas.
Na reunião dos presidentes, os posicionamentos dos dois países se reiteraram. Enquanto Mauricio Macri, presidente argentino, ressaltou que as eleições podem trazer a estabilidade ao país e defendeu a "valorização da responsabilidade" de Jeanine Áñez em assumir a presidência interina. Já a vice-presidente do Uruguai, Lúcia Topolansky, classificou a situação boliviana como "golpe de estado".
Quando questionado sobre o assunto, o ministro brasileiro, Ernesto Araújo limitou-se a dizer que espera que todas as opiniões sejam respeitadas. Já Jair Bolsonaro não se pronunciou sobre o tema.
Representando a Bolívia, a ministra de Relações Exteriores do país, Karen Longaric Rodriguez, defendeu a presidência autoproclamada e disse estar honrada em "participar em representação" de Jeanine Áñez.
2. Taxação do aço
Não houve manifestação consistente do governo brasileiro sobre o recente anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a reinstalação iminente de tarifas de importação sobre aço e alumínio do Brasil e da Argentina. Ambos os países têm os EUA como expressivo cliente nos segmentos.
Questionado se teria conversado com o chanceler argentino sobre o tema, o ministro de Relações Exteriores brasileiro, Ernesto Araújo, afirmou em tom constrangido que sim.
3. O futuro do Mercosul
Em declarações recentes, o governo brasileiro sugeriu a possibilidade de mudanças no Mercosul, inclusive admitindo a própria saída do bloco, caso não haja convergência de interesses com a Argentina, após eleição de Alberto Fernández para a presidência. Fernández e Bolsonaro possuem reconhecida rivalidade ideológica.
Ernesto Araújo afirmou que o país está disposto a sentar com os novos governos para avaliar a futura dinâmica do bloco.
_ O Brasil está pronto para continuar trabalhando com todos os sócios. Estamos prontos para construir pontes para o futuro _ declarou Araújo.
Além da Argentina, a partir de março, Luis Lacalle Pou assume a presidência do Uruguai. Porém, ao contrário de Fernández, Lacalle e Bolsonaro já reafirmaram sintonia.
A próxima presidência rotativa do bloco será do Paraguai. Ontem, Bolsonaro entregou a função para Mario Abdo.
Embora o assunto não tenha sido abordado tão diretamente, as manifestações de ministros exaltaram os resultados obtidos pela atual composição do bloco e, consensualmente, os chanceleres ressaltaram a importância de continuidade dos trabalhos, que afirmaram ter representado o período mais prolífico do bloco nos últimos anos.