Após 16 anos no PDT, sendo oito como vice-prefeito e sete como prefeito de Porto Alegre, José Fortunati resolveu deixar a sigla e partir para um novo ciclo. Com desejo de concorrer ao Senado em 2018, ele procura um partido que permita sua candidatura. Mas não é só isso. Ele busca uma legenda de acordo com seus princípios, o que exclui um partido que apoie Jair Bolsonaro para presidente.
Nesta entrevista, concedida por telefone na quinta-feira, ele fala de seus planos e analisa os governos do prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan (PSDB), e do governador José Ivo Sartori (PMDB). Confira:
Pioneiro: Por que o senhor deixou o PDT?
José Fortunati: Procurei, ao longo desse período (em que estive no PDT), trabalhar de acordo com o perfil trabalhista, mas, naturalmente, não administrei nos sete anos que fui prefeito em nome do PDT. Administrei em nome dos R$ 1,5 milhão habitantes que a cidade tem. Isso acabou me criando alguns problemas com o próprio partido, tanto é que vereadores do PDT acabaram votando contra o governo. Foi o momento em que me licenciei do PDT para conseguir unificar a base de governo para que a gente tivesse coesão na aprovação de projetos. Aí começou um desgaste muito grande e não somente com a bancada na Câmara, mas com o próprio PDT. Cheguei a conclusão que um novo ciclo deveria ser iniciado, de que as relações estavam muito desgastadas e era muito importante começar um novo processo sem que o conflito se ampliasse. E foi o que eu fiz. Meu afastamento do PDT não significa ruptura, significa simplesmente um novo ciclo.
Para onde o senhor vai?
Abri um processo muito transparente de conversas com vários partidos. Estou discutindo programas, vendo a prospecção para 2018, não somente no que diz respeito àquilo que eu pretendo ser candidato ao Senado, mas também pensando no governo do Estado e na Presidência da República, porque eu não posso estar em um projeto onde haja uma incompatibilidade ou com a questão estadual ou nacional. Vou citar um exemplo: eu teria dificuldade, aliás, seria impossível eu estar em um partido que tivesse como candidato a presidente Jair Bolsonaro (atual deputado federal). Sou amigo pessoal dele, fomos deputados juntos, mas temos ideias muito conflitantes, então, não me sentiria à vontade em estar em um partido apoiando Bolsonaro para presidente. Vou continuar fazendo essa reflexão. Espero que até fevereiro possa ter a tranquilidade de tomar uma decisão.
A Rede seria um caminho natural?
Não. Obviamente essa pergunta vem a partir do momento em que a minha esposa, a deputada estadual Regina Becker Fortunati, está na Rede. Fui convidado, conversei pessoalmente com Marina Silva, mas não é o caminho natural. Faz parte, junto de outras siglas, de possibilidades, mas não existe, neste momento, nenhuma tendência.
Como o senhor avalia o governo Marchezan?
Não quero entrar nesta reflexão sobre o atual governo, acho que a população está se manifestando. Minha contraposição com o atual governo é no que diz respeito à transparência. Entendo que o atual governo não usa dados que sejam confiáveis. Digo isso porque em 2015 e 2016, quando o Tribunal de Contas do Estado fez uma classificação da transparências dos municípios gaúchos, Porto Alegre tirou o primeiro lugar. O Ministério Público Federal, o mesmo que investiga a Lava-Jato e tantas outras, em 2015 e 2016, fez um ranking dos 5,7 mil municípios de acordo com o seu grau de transparência, dando nota de zero a 10. Porto Alegre foi a única capital e a única cidade com mais de R$ 1 milhão de habitantes a tirar nota 10. Qual é a contraposição? Há poucos dias, o Tribunal de Contas divulgou relatório sobre a celeuma do pagamento ou não do salário dos servidores e ficou muito claro que os próprios auditores reclamavam da falta de transparência dos dados da prefeitura. É difícil fazer um debate sério quando os dados são escondidos. O atual governo faz acusações levianas sem qualquer base técnica. Forma de governar, o que está acontecendo, quem tem que dizer é o cidadão.
E o governo Sartori?
Tenho plena e absoluta convicção de que as atuais dificuldades que o governo enfrenta do ponto de vista político-financeiro não nasceram no governo de José Ivo Sartori. Fui deputado estadual de 1987 a 1990 e naquela época já falávamos da dificuldade financeira do Estado, ou seja, elas já vem de muito tempo. É importante não se debitar a responsabilidade única e exclusivamente no governador Sartori. Há uma responsabilidade de vários governadores. Isso é uma coisa. A segunda é se as medidas que estão sendo tomadas pelo governador são as mais adequadas. Eu, honestamente, não vivo o dia a dia dos debates, mas tenho sérias dúvidas de que essa seja realmente a saída. Essa venda do patrimônio público merece muitos questionamentos. Acho que estamos vendendo algumas instituições extremamente relevantes e estratégicas para o Estado em nome de salvarmos a situação fiscal. É um debate profundo, tenho certeza que será feito com bastante propriedade nas eleições do próximo ano porque certamente o próximo governador, seja ele quem for, vai encontrar uma situação muito difícil e esse debate tem que ser muito transparente para que os candidatos apresentem suas sugestões para que o eleitor possa votar nas propostas que lhe pareçam mais adequadas para ajudar a tirar o RS das atuais dificuldades.
O senhor comentou que não se sentiria à vontade em um partido que apoia Bolsonaro. Como o senhor se define no espectro político?
Do ponto de vista ideológico, sou mais de centro. Já fui um cara de esquerda e acabei migrando, paulatinamente, em direção ao centro. Nas políticas sociais, tenho uma compreensão mais de centro-esquerda. Na economia, a minha posição é mais de centro mesmo, como exemplo, defendo ardorosamente a questão das parcerias público-privadas. Entendo que, como exemplo em Porto Alegre, a concessão que se fez para que um grupo de empresas revitalize e administre o Cais Mauá sem a colocação de um único centavo do dinheiro público, é extremamente correta. Me situo nesse campo, nem extrema-esquerda nem extrema-direita.
Dos possíveis nomes a presidente da República, o senhor apoia algum?
É muito cedo para apontar possíveis candidatos, até porque muitos que estão são simples balões de ensaio. Certamente, outros acabarão aparecendo. Existem vários nomes que estão sendo consultados, vários já anunciaram a intenção, como o próprio Luciano Huck, que depois desiste. Mas existem outros que poderão se apresentar. Quero ser cauteloso, aguardar pelo menos até abril, maio, quando o cenário ficará mais claro para poder me posicionar.