Edson Néspolo vai enxugar o gasto com a máquina pública e trata o assunto como "dever de casa". Ele quer ainda dar agilidade a procedimentos internos. Esses serão seus primeiros atos após assumir a prefeitura de Caxias do Sul. O candidato do PDT e da continuidade à atual administração também defende o corte de cargos de confiança, mas diz que a redução será correspondente às secretarias que serão extintas.
Em vídeo, confira a íntegra do bate-pronto:
Néspolo afirma que pretende abrir a discussão sobre a concessão para o transporte coletivo em 2019, um ano antes do prazo legal, por meio de audiências públicas com a participação de lideranças comunitárias, empresariais e técnicos.
– O povo que vai decidir se nós vamos ter mais do que uma concessionária. Muitas vezes não significa que abrir para mais de uma empresa melhora o serviço.
O candidato, defende a flexibilização do Plano Diretor que será discutido no próximo ano. Ele diz que o atual documento está "atravancando coisas" e que o município precisa dar agilidade à expansão de empresas. Néspolo tem três sonhos para sua administração: a revitalização da Maesa, a criação de um parque temático permanente unindo a cultura italiana, gaúcha e religiosa e o desenvolvimento do turismo. Ele ainda quer construir duas estações de transbordo – Norte e Sul – e fazer ajustes no SIM (Sistema Integrado de Mobilidade) Caxias, como a liberação de estacionamento nas ruas Sinimbu e na Pinheiro Machado.
O candidato conversou com o Pioneiro na quinta-feira pela manhã. A seguir, os principais trechos.
Pioneiro: Caso seja eleito, qual será a prioridade do seu mandato? E qual seu primeiro ato?
Edson Néspolo: O primeiro ato é fazermos os deveres de casa dentro da prefeitura. Implementar medidas de enxugamento. Vamos cortar de duas a três secretarias, fundi-las. É um momento de economizar. Vamos adequar bem a máquina (pública) e fazer procedimentos internos para ter a cada dia melhor agilidade.
O Plano Diretor será revisado em 2017. No seu entendimento, o que não pode faltar nesta revisão?
O Plano Diretor anterior era do Mário Vanin (ex-prefeito) e tinha que ser revisado todo o ano. Eu coordenei em 2007, 12 anos depois que o anterior estava feito. Tem coisas que está atravancando. O de 2007 foi cauteloso e responsável na parte ambiental, preservação das bacias hídricas, nas jazidas minerais e disciplinou a questão de zoneamentos. Agora tem que ser revisto. Tem coisas que não precisam estar contempladas. Precisamos através do Plano Diretor dar uma agilidade maior para a expansão de empresas, de indústrias.
A qualidade do transporte coletivo em Caxias do Sul é satisfatória?
É boa. Aliás, é só viajar para fora de Caxias e vai ver de quanta qualidade são os nossos ônibus. O SIM é um projeto que veio para ficar, é democrático, ele prioriza o maior número de pessoas. Na Sinimbu das 7h da manhã às 7 horas da noite passam dentro dos ônibus 105 mil pessoas e 14 mil carros, sendo que nove mil (carros) têm só o motorista. Ele (SIM) diminuiu o tempo, tirou de duas passagens para uma. Agora, tem ajustes. Padece que uma melhor sinalização. Eu defendo que, no período na noite, pode se estacionar na Sinimbu e na Pinheiro. Eu defendo (a construção) das duas estações de transbordo Norte e Sul. Ele (SIM) precisa ser melhor integrado.
A concessão do transporte coletivo vence em maio de 2020. O que precisa ser garantido pela futura concessionária?
Um ano antes, nós temos que abrir uma discussão ampla através de audiências públicas com a participação de técnicos, lideranças empresariais, comunitárias. O perfil do que vai ser traçado vai ser decidido através desses diálogos. O povo que vai decidir se nós vamos ter mais do que uma concessionária, se o perfil ficará esse... Mas obviamente em 2020 tem que licitar. Muitas vezes não significa que abrir para mais de uma empresa é que melhora o serviço. O que for acordado das audiências públicas é o encaminhamento que a prefeitura deverá dar.
A cidade precisa de obras e de outras ações para melhorar o transporte público e a mobilidade urbana?
Sem dúvida nenhuma. Mais duas estações de transbordo, acessos a locais que hoje estão complicados, os acessos ao bairro Planalto, na UCS, em Forqueta, em Ana Rech, na região do Santa Fé que em breve vai começar (a construção) da rotatória. Temos áreas com problemas que vamos atacar.
Como melhorar o atendimento à população na rede pública de saúde?
Primeiro, (é preciso) dizer que temos uma boa rede pública, de muito boa qualidade. Uma rede que atinge mais de 5 mil pessoas todos os dias nos postinhos de saúde e no Postão. Vamos implementar uma gestão mais eficiente, vamos ter indicadores de satisfação das pessoas que são atendidas. Hoje a gente tem só indícios e vamos comprovar que 80% a 90% das pessoas saem satisfeitas. As pessoas que demoram para ser atendidas têm razão. Temos que olhar o nível de desemprego absurdo, as pessoas saindo do plano privado e indo para a rede pública, além da questão regional. A tabela do SUS (Sistema Único de Saúde) do governo federal não é reajustada há 14 anos. Temos que ser mais veementes nessa cobrança. Estamos impactando a responsabilidade da saúde para Caxias que cada dia mais vai tirar recursos de outras áreas.
O senhor tem proposta para dinamizar ou revitalizar o centro histórico da cidade?
Sem dúvida. Nós tínhamos uma região degradada há 10 anos que era São Pelegrino. Essa administração transformou para melhor São Pelegrino. Vocês lembram como era degradada a região, o abandono da Estação Férrea, fizemos obras maravilhosas na Estação até ao lado no shopping (San Pelegrino). Agora temos que focar na praça central (Dante Alighieri), no empreendimento a ser realizado no Eberle que vai dar uma nova vida a cidade e na sequência até a Maesa. Eu imagino transformar essa área central revitalizada, bonita, com mercado público, com bons restaurantes, boa música, artesanato. Eu sonho com a Maesa revitalizada também.
Como vai tratar o comércio ambulante?
Nós temos que cada vez mais estar em sintonia com as entidades do comércio. É responsabilidade da prefeitura e não vamos fugir. Nos últimos 11 anos, Caxias recebeu 100 mil pessoas e obviamente recebe muitas pessoas que não recebem oportunidades em suas cidades e seus países e impacta muito na nossa cidade. Vamos tentar ser rigorosos. Ter a ilusão de que nós vamos eliminar todos os problemas nós não vamos, e não vou fazer proselitismo para ganhar uma eleição. Agora vamos ter uma atitude mais combativa. É justo que os comerciantes que pagam seus impostos que sejam priorizados nessa questão.
A iluminação pública está em boas condições? Como o senhor vai cuidar da iluminação pública?
Temos um desafio que é a cidade inteligente para colocarmos mais inovação e tecnologia à disposição da cidade. A cidade inteligente passa por iluminação, por câmeras de monitoramento e radares móveis. A iluminação é fundamental ser reforçada. Eu acredito muito nessa proposta de cidade inteligente adotada em algumas cidades e que diminuiu muito a violência.
E como garantir calçadas em condições?
Acho que essa fiscalização tem que ser mais rigorosa e cobrar de quem detêm o imóvel. A lei é clara. É responsabilidade dos proprietários. Na região central, muitas vezes obras realizadas pelo poder público não são bem refeitas.
Qual a principal ação que o senhor pretende implementar para ajudar no combate à insegurança?
Eu acredito muito na proposta da cidade inteligente. A atual administração faz muito pela segurança. Se a prefeitura não tivesse ajudando, seria o caos em Caxias. São R$ 3 milhões, R$ 4 milhões por mês para combustível e equipamentos destinados para a Brigada Militar e Polícia Civil. Vamos ter que continuar ajudando. Mas vamos ter pulso firme para cobrar o que é direito de Caxias. Vamos fazer a nossa parte com três, quatro radares móveis implantados daqui um ano pode detectar na hora quando passa um carro roubado. Aumentarmos o policiamento comunitário como já fizemos nos últimos anos. A legislação atual da Guarda Municipal possibilita ter novas formas de atuação.
Quantos CCs o senhor vai cortar?
Vou cortar as secretarias pertinentes. Se forem duas ou três secretarias, vamos cortar os CCs correspondentes a essas. Acho que tem cortes que dá para serem feitos no Samae, na Codeca.
O Orçamento é enxuto e boa parte é comprometida. De onde sairá o dinheiro para as ações que o senhor pretende implementar?
Tem que cortar, começar os ajustes na máquina pública. Mas, mesmo assim, não tem milagre. Caxias pode ter um aumento de receita muito grande já o ano que vem. As regularizações fundiárias são uma grande chave para aumentar ITBI e IPTU do município. O (levantamento) aerofotogramétrico é um instrumento para a gente ajustar muitos imóveis que estão em desacordo com o que pagam atualmente. A médio e longo prazo, acredito em novas formas de geração de emprego e renda. A sustentabilidade pode ser melhorada a curto prazo. A questão da inovação e tecnologia pode ter novas fontes de receita, e essa questão do turismo, a médio e longo prazo, porque tem que se basear em planejamento de turismo. Mas são fontes de renda e emprego que a gente pretende implementar a curto, médio e longo prazo.
Como o senhor vai ouvir a população?
A partir de março do ano que vem, a gente vai abrir a prefeitura de uma forma diferente. Eu pessoalmente vou atender uma vez por mês presidentes de bairro. É uma dinâmica diferente que queremos colocar para ouvir as pessoas. Farei o mesmo procedimento com os empreendedores, com as forças vivas da nossa cidade, com o meio empresarial, seja comércio, indústria e serviços para que a gente possa ter um contato mensal com as pessoas.
Como garantir as vagas necessárias para a educação infantil?
Nós tínhamos 10 escolinhas do governo federal que foram interrompidas por essa tragédia que esse país foi colocado. Vamos ter que buscar o Judiciário, o Ministério Público para fazer uma gestão de toda essa questão da judicialização. Vamos ter que comprar vagas de escolinhas como a gente está fazendo hoje, tem algumas escolinhas que estão em construção, agora imaginarmos que em um ano, dois, vamos resolver todos os problemas de quatro, cinco mil vagas, não vamos. Vamos trabalhar como o Alceu fez, o Alceu triplicou a quantidade de vagas infantis nos últimos quatro anos e mesmo assim nós temos uma defasagem e isso se deve ao crescimento da cidade.
Qual sua principal ação para estimular a criação de novos empregos?
Eu acredito muito no turismo com planejamento de turismo e que toda a administração esteja voltada para uma cidade com potencial turístico, não uma ação isolada da Secretaria de Turismo. Por exemplo, no Vale dos Vinhedos e no Caminhos de Pedra, em Bento, foram profissionais de Caxias que participaram na concepção. Temos, inclusive, em Caxias pessoas que podem contribuir muito e nós conhecemos e vamos fazer essa gestão compartilhada com elas. Acredito muito no turismo do lazer e de negócios. Acho que dentro da Festa da Uva podemos criar o primeiro parque temático de Caxias, de visitação permanente, unindo a cultura italiana com o gaúcho, com a parte religiosa. Eu sonho muito com isso. Isso será uma fonte de renda e emprego. Acredito muito na inovação e tecnologia como ferramenta fundamental, fazer parcerias com a universidade e as faculdades, o Trino Polo (Polo de Informática de Caxias do Sul), com a indústria e o comércio. A questão da sustentabilidade que vejo uma grande ferramenta. Caxias não pode mais ficar enterrando lixo orgânico e deixando que ele se decomponha ao tempo. O lixo tem que ser geração de emprego e renda, seja na geração de gás, de energia, de adubo para os nossos agricultores terem uma despesa menor. Acredito em uma cadeia no lixo reciclável que cada vez mais a gente possa estar proporcionando emprego e renda para a população de baixa renda.
O senhor apoiou o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Seu partido foi contra. O provável futuro candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, disse em Caxias que "o companheiro que não percebeu (que houve um golpe) precisa estudar". O senhor precisa estudar?
Não, não falou isso. Ele disse muito claro, e as gravações dele são de apoio a nossa candidatura. Tu colocou uma parte que te interessa. Não colocou que, no Senado, foi unânime a votação dos senadores do PDT pró impeachment. Então, tu fez uma versão que te interessa. No PDT, sete deputados votaram a favor do impeachment. O Senado inteiro votou pelo impeachment e ficou muito livre. O PDT teve um gesto de lealdade quando todos estavam abandonando o barco e (houve) um pedido da Dilma para serem solidários. O PDT era para ter saído do governo há um ano e foram entregar os cargos e ela fez um apelo dramático. Diante de todas as circunstâncias, de pedaladas, de um processo camuflado para ganhar uma reeleição não tem como defender isso. Minha posição é clara e Caxias sempre teve por unanimidade essa decisão. A gente acompanhou o que Caxias teve.
Qual a marca que o senhor pretende deixar com seu mandato?
Primeiro, de continuar administrando bem como foi nos últimos anos. Ninguém consegue ter melhor qualidade de vida, melhor cidade para criar os filhos, cidade mais limpa do Rio Grande do Sul, melhor cidade de saneamento do Rio Grande, quando chegar o verão vamos ver a importância de ter água. Ocupamos 10% do Marrecas. Que a cada dia a gente possa melhorar nossos índices. Atingimos o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) em 2016, os índices que eram para 2021. A saúde tem que abrir o (hospital) Materno-Infantil e a UPA da Zona Norte, fazer mais 80 km de asfalto no interior é uma marca. Fazer funcionar a Maesa. Sonho em quatro anos ter dado um grande salto no turismo de nossa cidade.