Desde o governo do ex-presidente José Sarney quando as mulheres pesquisavam os preços dos produtos nos supermercados, as pessoas não falavam tanto de economia. O tema virou assunto central nas discussões das famílias brasileiras. Desta vez, a nova crise econômica tirou o emprego de milhões de brasileiros e ameaça o fechamento de empresas.
Para o coordenador-executivo do TecnoUCS (Parque de Ciência, Tecnologia e Inovação), Enor Tonolli Jr, os gestores públicos e da iniciativa privada devem trabalhar com a perspectiva de geração de valor futuro. Ele salienta a necessidade de seguir as tendências mundiais de opções de valor, de nova matriz econômica e novas oportunidades de negócios.
– Muitas vezes, nos preocupamos com o presente. Se a gente não tiver um olhar persistente para o assunto, vamos ver problemas como a desindustrialização e problemas sociais cada vez mais graves – ressaltou Tonolli.
Para o coordenador do TecnoUCS, o modelo econômico de Caxias do Sul está se esgotando, a matriz econômica da cidade declina e não há uma leitura do atual cenário.
– Essa leitura ainda não está sendo feita. Não existe uma aceitação de que o mundo muda e o mundo muda rápido. Os grandes concorrentes dos segmentos que nós trabalhamos virão de lugares que a gente não suspeita que possa ocorrer – ressalta.
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Na avaliação de Tonolli, a cidade precisa de novos modelos de negócios, tanto na economia como nas áreas sociais. Segundo ele, a universidade pode ser um agente da mudança econômica nessa nova perspectiva de negócio.
Tonolli não tem uma opinião formada sobre qual seria a melhor alternativa para a nova matriz produtiva da cidade, mas é categórico ao afirmar que o município deve buscar atrair novas empresas.
– O mundo todo faz isso. Não sei por que Caxias não faria isso. O fechamento para novas economias é a mais pura condenação ao caos que a gente pode cometer. Nossa região é muito reativa – ela reage ao movimento que outros fazem antecipadamente. A ideia é que a gente se antecipa a essas ações.
Regularização fundiária como prioridade
Apesar dos esforços, o município precisa avançar na regularização de loteamentos espalhados pela cidade. A cidade cresceu e se desenvolveu desordenadamente, sem controle. Centenas de famílias vivem em áreas invadidas e colocam em risco suas vidas por falta de condições melhores. O loteamento Monte Carmelo, na zona sul da cidade, é uma das cerca de 200 áreas irregulares e com o crescimento desordenado. Em 2003, chegaram as primeiras 20 famílias, no ano seguinte já eram 200. Segundo o presidente da Associação de Moradores, Kiog Dias, atualmente 1,2 famílias moram no Carmelo.
– O loteamento cresceu muito rápido. A prefeitura tem 600 famílias cadastradas, mas acredito que é o dobro.
Para Dias e a comunidade, a principal necessidade do local é a regularização fundiária – a posse de propriedade dos lotes. Ele aponta ainda a falta da infraestrutura como saneamento básico, calçamento de ruas e melhorias na energia elétrica.
– Com a regularização, os avanços das obras para a comunidade vêm mais rápido. Cerca de 300 famílias construíram suas casas em encostas, em área de risco. Temos muito deslizamento de terra. Nossa preocupação é grande.
O líder comunitário ainda reivindica a construção de uma UBS, uma escola e um centro comunitário. Segundo Dias, unidade de saúde mais perto fica a dois quilômetros de distância e as crianças precisam caminhar um quilômetro até a escola.