A decisão do presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), que surpreendeu a população e o meio político ao anunciar a anulação do processo e da votação do impeachment na Câmara preocupou boa parte dos líderes da região devido à insegurança jurídica que produz.
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No âmbito das prefeituras, prefeitos da região lembram que, além da crise política, a máquina administrativa está paralisada em Brasília, o que prejudica bastante e até inviabiliza o atendimento a demandas dos municípios. Dirigentes de entidades empresariais focam o prejuízo das indefinições políticas para a economia regional.
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Mas a questão ainda é centralmente política, e também jurídica. O entendimento da legitimidade ou não do impeachment no caso específico da presidente Dilma Rousseff permeia as avaliações. Os líderes da região ouvidos pelo Pioneiro também tentam projetar os próximos passos. A preocupação principal é com a retomada de um ambiente com o mínimo de estabilidade.
Lídio Scortegagna (PMDB), prefeito de Flores da Cunha
"Acaba nos prejudicando porque acaba tendo um travamento na economia. O país engessou. A nossa preocupação no dia a dia, não é minha, é de todos os prefeitos, é que nós temos de atender o aluno na escola, atender o doente no posto, e com isso tudo a economia acabou se encolhendo. Os munícipes exigem isso do poder público. Sempre disse que gostaria que se respeitassem as instituições hierarquicamente corretas, que se fizessem todos os procedimentos corretos, que parem de olhar para o seu umbigo e olhem para a nação como um todo".
Guilherme Pasin (PP), prefeito de Bento Gonçalves
"Traz uma grande instabilidade, porque o Brasil precisa voltar a se desenvolver e essa situação toda está paralisando nosso país, colocando as coisas políticas acima das questões executivas. As condições de tirar o país dessa situação difícil praticamente ficaram numa agenda de segundo plano. A briga, a disputa política está mais importante, me parece, que o Brasil. Como correligionário dele (Waldir Maranhão), sinto-me extremamente constrangido. Estou brabo com ele. Mas, independentemente de qualquer coisa, passou pela Câmara. O que a gente não pode é ficar indo e voltando. Nesse meio tempo, os interinos estão como ministros, os recursos estão parados, os projetos estão sendo cancelados nos ministérios. Está uma situação muito difícil para os municípios".
Getulio Fonseca, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias (Simecs)
"Esse (Waldir) Maranhão não tem respaldo nenhum. A decisão dele afundaria ainda mais a economia. A política brasileira está mesmo na UTI. Esse tipo de voto político, pensando apenas no cargo de alguns e sem focar na população, é irresponsável".
Pedro Simon (PMDB) Ex-governador e ex-senador
"A Câmara dos Deputados já esgotou a matéria no momento em que votou no plenário. No Senado, a comissão já votou também. Acho que ele (Waldir Maranhão) quis marcar posição, é um deputado do chamado baixo clero e com isso acabou aparecendo. Agora, lá no Senado fica uma situação delicada, porque agora é para valer. Todas as informações que a gente tem dessa primeira votação no plenário, que é muito singela, é que basta a presença da maioria dos senadores e 21 votos favoráveis para ser aprovada (a abertura do processo de impeachment) e a presidente ser afastada por até seis meses".
Mauro Corsetti, diretor de Economia, Finanças e Estatística da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC)
"Falta uma argumentação sólida para a decisão. Parece uma atitude pessoal, isolada (do presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão). Se isso prosperar, é o pior dos mundos. Toda a expectativa de sair dessa retração econômica fica frustrada. Nos últimos dias, estávamos notando uma tendência de estabilidade econômica. Agora, em um cenário de o processo de impeachment cair, a crise econômica não vai apenas se prolongar: vai se agravar".
Claiton Gonçalves (PDT), prefeito de Farroupilha
"Nós passamos a viver instabilidade, prova disso é essa variação cambial, a variação do dólar. Nós temos uma instabilidade muito grande. E estamos vivendo essa celeuma que não vai levar a lugar algum. Estamos muito preocupados que se resolva essa questão da forma mais imediata possível e que se discuta adiante a grandeza de cada ato. O barco precisa ser realinhado, porque está andando velozmente contra o iceberg. Precisamos botar ele em rota de andança livre sem risco".
João Ignácio Pires Lucas, sociólogo e doutor em Ciência Política
"O Senado dará prosseguimento e a presidente deve ser afastada. Caso a decisão (pela anulação) se mantenha no STF, pode ser que retroaja. Mas quando envolve o Judiciário, é diferente, eles não sofrem tanto a pressão popular. Agora, é de surpreender que o pedido pela anulação não tenha sido rejeitado por Eduardo Cunha. Ele poderia ter rejeitado, mas deixou a bola picando".