O ex-prefeito de Caxias do Sul José Ivo Sartori, embora fosse considerado o nome preferencial para representar o PMDB na disputa ao Piratini, desde a metade do ano passado, aceitou colocar seu nome à disposição do partido somente no último dia 17 de fevereiro. A demora para assumir a pré-candidatura causou insegurança na base do partido e fez surgir o nome presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, como outra alternativa para a disputa. Os dois participam da pré-convenção marcada para 15 de março, quando será definido o nome do candidato a ser oficializado na convenção de junho.
Na última quinta-feira, nomes históricos do partido, como Pedro Simon, Germano Rigotto, José Fogaça e Ibsen Pinheiro, divulgaram um manifesto em apoio a Sartori na disputa prévia. Sartori prega que é preciso saber ter unidade no partido.
Sartori, 66 anos, natural de Farroupilha, foi prefeito de Caxias do Sul por dois mandatos (2005/2008 e 2009/2012). Formado em Filosofia pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), Sartori é professor e começou a carreira política como vereador de Caxias na legislatura 1977/1982, pelo então MDB. Foi deputado estadual por cinco mandatos, a partir de 1983. Presidiu o Legislativo gaúcho em 1998. Em 2002 foi eleito deputado federal. Foi também secretário estadual do Trabalho e Bem Estar Social, entre 1987 e 1988, no governo de Pedro Simon (PMDB). Confira a entrevista com Sartori:
Pioneiro: O seu nome vinha sendo anunciado há vários meses como o preferencial. Por que demorou tanto para admitir entrar na disputa?
José Ivo Sartori: Só sou candidato para a prévia. Simplesmente achava que era muito cedo e também porque eu não estava convencido dessa responsabilidade.
Pioneiro: E o que o convenceu dessa responsabilidade?
Sartori: Diante da solicitação de vereadores, de prefeitos, de todas as coordenadorias regionais, quando foi feito O PMDB que eu Quero (encontros regionais do partido), de deputados estaduais, ainda no começo do ano passado, dos três deputados federais, do (Pedro) Simon (senador), do (José)Fogaça (ex-prefeito de Porto Alegre), do Ibsen (Pinheiro, ex-deputado-federal), do Sebastião Melo (vice-prefeito de Porto Alegre), do Germano Rigotto (ex-governador), do (Luís Roberto) Ponte (ex-deputado federal), do Professor Garcia (vereador do Porto Alegre), do presidente da Juventude (Daniel Kieling), das mulheres. Como você vai dizer que não depois de tanto tempo militando. Eu acho que alguns acharam que era fraqueza. Não, tem que estar convencido de que isso é importante. Então, quando eu compreendi, na semana que passou (a entrevista foi concedida no dia 27 de fevereiro), que devia fazer isso, quando eu fui convencido, não titubeei. Porque eu nunca fui candidato de mim mesmo, nem de um grupo, sempre fui pelo partido, desde que comecei como vereador, deputado estadual, federal, prefeito. Sempre foi nessa condição, não é apenas um desejo pessoal. Às vezes você não tem desejo, mas passa a ser necessário. E os outros têm necessidade, acho que para o partido foi isso. E no que eu tenho participado, eu tenho visto que quando me coloquei diante da solicitação, eu consenti. Dei o meu consentimento para todas essas pessoas.
Pioneiro: A indefinição do senador Simon também ajudou na demora da sua decisão?
Sartori: Não, o partido encaminhou uma pré-convenção, que será realizada no dia 15. O partido encaminhou que não ia escolher o candidato a senador agora. Isso é o partido que está dizendo, não é indefinição do Simon. Se o Simon desejar ser candidato, ele é candidato natural, porque é detentor de mandato, tem direito garantido.
Pioneiro: O fato de ter prévias pode resultar numa divisão no partido?
Sartori: Eu defendo que nós temos que saber ter unidade na diversidade. Eu sou daqueles que pensa que as divergências devem sempre resultar em soma, nunca em redução ou em divisão. Toda essa mobilização que está havendo passa a ser importante agora porque o partido todo nos municípios, nas regiões, está se mobilizando. E eu espero que toda essa energia que está se construindo dentro do PMDB, através dessa mobilização, sirva para dar uma resposta concreta à descrença e à desilusão. Resposta a isso só nasce da unidade, não existe outra maneira.
Pioneiro: Se Paulo Ziulkoski for o escolhido no dia 15 terá seu apoio.
Sartori: Claro, claro, sem problema nenhum.
Pioneiro: O senhor aceitou ter seu nome colocado. Então, por que quer ser governador?
Sartori: Estou apenas indo para a pré-convenção, a escolha do candidato a governador vai acontecer do dia 10 de junho a 30 de junho. E eu não vou dizer nada antes disso, porque eu só defendi que a pré-convenção tem que ter as diretrizes para a elaboração de um plano de governo consultando toda a sociedade gaúcha, não apenas o meu partido.
Pioneiro: O que o senhor defende para o Estado?
Sartori: Mas eu não sou candidato ainda.
Pioneiro: Sim, mas na sua visão, o que o Rio Grande do Sul mais precisa?
Sartori: Todo mundo sabe o que o Rio Grande precisa. Equilibrar as finanças, tem ansiedade na educação, na segurança, no transporte, na infraestrutura, na rede metropolitana, na saúde e também nas coisas mais estratégicas que se vive nos dias de hoje, meio ambiente, cultura. O que nós queremos são as diretrizes para construir um plano de governo que será aprovado na convenção do partido que escolherá o candidato a governador, do dia 10 a 30 de junho. Eu demorei muito para decidir se eu aceitava o convite, se eu aceitava a solicitação dos companheiros de partido para ir para este desafio, porque eu pensava que deveria ter uma articulação entre os diversos segmentos partidários, mas, como todo mundo já lançou as pré-candidaturas, isso evidentemente veio precipitar a minha decisão. Porque eu desejava que devia haver uma convergência no Rio Grande do Sul entre os diversos segmentos partidários para a construção de um mínimo de um pacto pelos interesses do Rio Grande do Sul e pela superioridade que todos nós devemos ter nesse processo, fazendo uma caminhada coletiva. Porque mudanças e transformações precisam ser feitas e as transformações e mudanças requerem sustentação política. Alguém poderá dizer: "Mas isso pode ser feito no segundo turno". E se não tiver segundo turno? Alguém poderá dizer: "Ah, mas fica para depois". Mas pelo menos agora, que já tem pré-candidaturas colocadas, essas conversas devem permitir da mesma maneira que se faça a construção disso.
Pioneiro: O senhor tem posição contrária à união do PMDB com o PT em âmbito federal.
Sartori: Eu nunca falei isso para vocês. E vocês nunca me consultaram sobre isso. Nós do PMDB do Rio Grande do Sul temos que estar voltados para o Rio Grande do Sul. A questão nacional é uma questão que o partido tem que resolver.
Pioneiro: Caso o senhor venha a ser o escolhido...
Sartori: Aí é outra conversa, aí vamos chegar num outro patamar. Quem tem que encaminhar qual é a situação das composições no Rio Grande do Sul e nacional é o PMDB, a executiva do partido.
Pioneiro: Mas, e pessoalmente?
Sartori: Se eu for candidato, aí evidentemente eu também vou ter que conversar. Embora eu já tenha mantido conversas, diálogos, com outros segmentos, gente de outros partidos, inclusive daqueles que já têm candidato. Depois eu poderei fazê-lo, se consagrado na convenção da pré-candidatura. Daí posso me mobilizar. Hoje não tenho autoridade para conversar com ninguém.
Pioneiro: Esses contatos que o senhor fala com outros segmentos partidários são do grupo tanto de Eduardo Campos quanto de Aécio Neves?
Sartori: Não, não, não. Nessa esfera nacional eu não tratei com ninguém.
Pioneiro: Só em âmbito estadual?
Sartori: O nacional depende do partido. O partido é que tem que resolver.
Pioneiro: Caso o senhor não seja o escolhido pelo partido para ser o candidato ao governo do Estado, concorreria a outro cargo eletivo, a deputado federal, por exemplo?
Sartori: Por enquanto estamos voltados única e exclusivamente para a pré-convenção.
Partido
José Ivo Sartori diz que PMDB precisa ter diretrizes para elaborar um plano de governo
Ex-prefeito de Caxias do Sul disputa com Paulo Ziulkoski as prévias do partido que definirão pré-candidato ao Piratini
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