O sonho de a Serra Gaúcha ganhar um campus da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) está cada vez mais perto, mas ainda há muitas lacunas que cercam o assunto, principalmente quando o tópico são a definição dos cursos a serem ofertados na unidade. Um dos movimentos que está trabalhando ativamente para trazer os estudantes, empresas e todos os interessados para a discussão é o Fórum das Entidades, Movimentos e Pastorais Sociais, coordenado pela ex-vice-prefeita Marisa Formolo. Com mais de 30 integrantes de todas as cidades da região como Caxias do Sul, Farroupilha, Bento Gonçalves e Veranópolis, o grupo tem como objetivo fazer uma "ponte" com a UFRGS para explicar quais são as necessidades dos moradores da região quando o assunto é ensino superior gratuito.
Conforme explica a coordenadora Marisa Formolo, o fórum busca traduzir os anseios da região sobre o mercado de trabalho, desenvolvimento humano e sustentabilidade para o futuro.
— Então, estamos discutindo, enquanto entidades, o que é que a nossa região gostaria que se pensasse numa universidade federal para este momento da história, mas que também pudesse responder a outras questões históricas da região. E para isso, nós estamos propondo um grande diagnóstico regional para que se possa não só desenvolver o que nós temos, melhorar o processo de desenvolvimento da região, especialmente aumentando o índice de desenvolvimento humano (o IDH), mas projetar novos nichos de desenvolvimento econômico, social, cultural e ambiental — destacou Marisa.
A coordenadora também comentou que o Fórum cresceu consideravelmente depois da confirmação da vinda da universidade federal para a região, mas que o grupo trabalha por meio de reuniões online e que todos os passos são discutidos e aprovados pelos integrantes.
— Como aumentou muito, eu não tenho conseguido fazer reunião com todos de uma vez só. Então, como é que funciona? Nós temos feito duas ou três reuniões com grupos de entidades discutindo o mesmo assunto e chegando a um consenso. Quando eu consigo juntar as ideias de todos, transformo em um documento, coloco o documento para todos apreciarem e vamos ouvindo as sugestões, até entrarmos em um acordo coletivo sobre as ideias — destacou Marisa.
Antes dos cursos, tem a escolha das áreas
Sobre a definição dos cursos, a coordenadora do fórum comentou que o grupo está aguardando as análises do Comitê da UFRGS que está colhendo dados da região, mas que o movimento tem trabalhado nas áreas de conhecimento, como saúde e meio ambiente, em vez dos nomes de cursos. O comitê da UFRGS é composto pela professora Maria Beatriz Luce, responsável pela criação do campus da Unipampa; pela professora Liane Loder, responsável pelo Campus Litoral Norte da UFRGS; além da própria reitora Márcia; das técnicas Nara Magalhães, Gabriela Branco e Irma Bueno; mais os estudantes de pesquisa da instituição Hector de Oliveira, Jéssica Pereira da Silva e Marcela Duarte.
— Nós não estamos lutando por um curso específico neste momento, porque nós precisamos que a UFRGS defina quais os cursos que eles podem ofertar aqui. Por exemplo, nós queremos cursos na área da saúde. São muitos os cursos, como o de Medicina, mas você não pode pensar cursos na área da saúde e não pensar em agroecologia, porque tratar de saúde e não estimular a produção de comida sem veneno é uma incoerência para as políticas públicas. Cursos na área da formação continuada dos professores, cursos na área da integração social. O nome, neste momento, não importa. O que importa é a área que precisamos para desenvolver, qualificando o que temos e ampliar a nossa região — comentou Marisa.
Além disso, a líder do Fórum ressaltou como o movimento prioriza o direito à educação e uma formação voltada para as políticas públicas.
— Garantir o direito de estudar para quem tem menos é prioridade para nós enquanto luta social. E sei que nós vamos estar conversando com os dirigentes empresariais, porque nós temos que fazer em etapas essas discussões. A UFRGS vai ouvir todos os setores e nós também, mas a universidade pública tem que fazer formação para as políticas públicas. É isso que nós queremos defender. Nós não queremos uma Medicina para o setor privado, queremos uma Medicina para a saúde pública. Queremos um curso de Direito para entender a defesa dos direitos sociais, não só das empresas e das instituições econômicas — reforçou Marisa.
Marisa revela que o fórum deve se reunir com o Comitê da UFRGS na próxima semana para definir como devem trabalhar juntos na instalação do campus.
— Eles têm essa disposição, porque eles sabem que, se não tem a região envolvida, conhecendo o que pode ser feito e se animando para estudar, os cursos poderão não ter participação — afirma Marisa.
Democratização do acesso
Outro ponto destacado pela coordenadora do Fórum de Entidades foi que a discussão da instalação do Campus da Serra não deve se limitar apenas na definição dos cursos, mas, sobretudo, na acessibilidade ao filho do trabalhador ao espaço, desde o vestibular até o transporte público.
— No último seminário que organizamos (realizado em Caxias no dia 12 de novembro, com a presença da reitora Márcia Barbosa), uma das reivindicações dos alunos das escolas públicas foi um curso pré-vestibular social, porque eles não têm como pagar um cursinho particular. Eles precisam que os ônibus mudem os roteiros de toda a cidade para que eles possam ir ao Campus 8, caso seja escolhido. Então, nós vamos trabalhar com o setor público. Já estamos trabalhando com a 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE), mas nós queremos discutir com as prefeituras e vamos começar pela de Caxias do Sul. Não só discutir o processo para a formação de professores, mas de pesquisa, de extensão, além de ouvir o setor privado — disse Marisa.