Uma mulher identificada como Angélica Schena, 28 anos, natural de Farroupilha, morreu após ser arrastada, presa a um Gol, por um trajeto de aproximadamente 1,12 km na noite deste domingo (27), no bairro Marechal Floriano, em Caxias do Sul. A ocorrência foi registrada por volta das 19h40min.
Segundo o delegado Rodrigo de Assis, que iniciou a investigação do caso, o motorista de 72 anos dirigiu, com parte do corpo da mulher para fora do veículo, pela Rua Bento Gonçalves, partindo do cruzamento com Rua José do Patrocínio. Ele foi até a Rua La Salle, seguiu até a Francisco Lermen e trafegou por mais três quarteirões até acessar a Rua Cristóforo Randon.
Conforme o delegado, o motorista só parou o carro quando colidiu contra outro veículo que estava estacionado em frente a um posto de combustíveis. Ele foi preso em flagrante e será investigado por homicídio qualificado pelo meio cruel (que causa, desnecessariamente, maior sofrimento à vítima), e, segundo o delegado, por motivo torpe, pelo que se apurou até o momento. O nome dele não foi divulgado.
A vítima sofreu lesões no lado direito do corpo, sobretudo no pé direito, que foi parcialmente amputado, e também apresentava lesões no rosto quando foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Ela foi conduzida até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Central, mas não resistiu.
— Pelas informações que obtivemos até o momento, por algum motivo, eles se desentenderam dentro do veículo. Em dado momento ela foi jogada pra fora do carro, sendo arrastada — relata o delegado que refez o trajeto junto do indiciado, coletando informações de testemunhas e também a partir de imagens de câmeras de segurança de estabelecimentos próximos dos locais por onde o carro passou.
Assis ainda afirma que o homem foi detido no posto de combustíveis por populares, e agredido, até a chegada da Brigada Militar (BM) que o conduziu para a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA). Em depoimento inicial, alegou que estava estacionado no ponto inicial do percurso, quando teria sido abordado pela mulher, além de outras duas pessoas, em uma tentativa de assalto.
— Ele disse que não queria que ela entrasse no carro, que ela então se pendurou na porta e ele, então, acelerou. Mas testemunhas viram que parte do corpo dela estava dentro do carro, e também encontramos sangue dentro do veículo. Pela circunstâncias, dificilmente ela estaria fora (do carro). Ele também disse que parou algumas vezes no trajeto pra ela descer e que ela não quis sair. Só que o trajeto no qual ela foi arrastada é muito grande e, segundo testemunhas, o carro estava a uma velocidade que não era baixa — observa o delegado.
Segundo a polícia, provas coletadas ainda serão analisadas, incluindo laudos que comprovem se houve ou não relação sexual entre as partes. A causa da morte também deverá ser confirmada por necropsia.
Em abordagem da polícia, o motorista foi submetido ao teste do etilômetro e, segundo o delegado, o homem não estava alcoolizado. Após prisão em flagrante, o delegado também encaminhou um pedido de prisão preventiva que ainda será analisado pela Justiça:
— Ainda que ele alegue que não teve a intenção de matar, as circunstâncias do que ele fez demonstram que assumiu o risco e não se importou com o fato dela estar presa ao veículo.
A investigação do caso segue agora com a Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP).
Rastros de sangue e confusão: moradores relatam o que viram
Uma confusão na rua no início da noite de domingo fez com que uma moradora da Rua Francisco Lermen, de 33 anos, que prefere não se identificar, fosse até a janela para verificar o que estava acontecendo. Ela testemunhou o momento em que o carro ao qual a vítima estava presa foi parado por um grupo de motoboys, no cruzamento da rua em que ela mora com a Cristóforo Randon.
— Ele parou no trevo e a mulher estava caída do lado de fora do carro, presa, talvez pelo cinto. Foi neste momento que o motorista arrancou bruscamente com o carro, invadiu a pista contrária, pela Cristóforo Randon, e colidiu contra o carro que estava estacionado em frente ao posto. A mulher estava sendo arrastada com o rosto e o peito no chão — completa.
Ainda conforme o relato da moradora, o motorista aparentava estar alcoolizado; outras pessoas que viram ele desembarcar do carro disseram que ele chegou a cair em um momento. A polícia afirma que ele passou por teste do etilômetro e não estava embriagado.
Ainda antes do carro parar, em outro trecho, um pedestre que trafegava pela Rua José Bassani, no cruzamento com a Rua José Gollo, conta que avistou o carro passando pela Rua Ministro Toledo em alta velocidade.
— Ele passou com a porta aberta e tinha muita poeira no local, demorei um segundo até perceber que tinha alguém com a metade do corpo pra fora, no banco da frente, do carona, presa pelo cinto — relata um vendedor de 29 anos, que também não quis se identificar.
No final da manhã desta segunda-feira (28), marcas de sangue ainda eram aparentes em um trecho da Rua Francisco Lermen, após o cruzamento com a Rua da República. Onilce Schmitz, 65, que reside na Cristóforo Randon, bem em frente ao local da colisão, diz que teve dificuldades para dormir após a cena que assistiu pela janela, logo após ouvir o impacto.
— Vi aquele monte de gente e a moça que estava caída. Ela nem se mexia, achei que tivesse sido atropelada — relata a dona de casa.
A moradora também conta que muitas pessoas que estavam no local quiseram agredir o motorista do carro que, segundo ela, entrava e saía do carro até a chegada da polícia.
O Peugeot 206 atingido pelo Gol em que estava Angélica permanecia estacionado no mesmo ponto na manhã seguinte à colisão, no acostamento da Cristóforo Randon, sentido bairro-Centro, com a dianteira esquerda danificada.
— O carro sempre fica estacionado aqui — relatou Valmir Antônio de Sousa, 65, marido da proprietária do carro, que reside no bairro há mais de 50 anos e foi avisado por conhecidos logo depois do acidente.
* Colaborou Leonardo Portella