O clima era de tensão e medo entre os funcionários que entravam no Hospital São Pedro, em Garibaldi, onde um paciente foi morto a tiros na madrugada desta segunda-feira (15). Eles acessavam à instituição pela mesma porta por onde o autor do crime invadiu o prédio e executou Rodrigo da Silva, 26 anos, que estava internado desde a madrugada de domingo (14), quando foi atingido por disparos de arma de fogo no bairro Vale do Pinheiro. A onda de crimes assusta os moradores e motivou pedidos de providências por parte da prefeitura da cidade.
Por nota, o município afirma que entrou em contato com a Secretaria Estadual de Segurança Pública, solicitando a urgência na adoção de medidas para apoiar o efetivo local e proteger a população. O prefeito Sérgio Chesini solicitou reuniões com o delegado Regional de Polícia, Augusto Cavalheiro Neto, e o comandante Regional da Brigada Militar, Márcio Luz. O encontro com a Polícia Civil será nesta terça (16) e com a Brigada na quinta (18). Em agenda em Porto Alegre, Neto e Luz não poderão comparecer, sendo representados pelo comandante do 3º Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas das Brigada Militar (BPAT), Artur de Barcellos, e o delegado do município, Clóvis de Souza.
Adiantando as ações de segurança, o Batalhão de Polícia de Choque já está no município para auxiliar no combate à violência. A chegada foi através de pedido do Comando Regional de Polícia Ostensiva da Serra (CRPO/Serra). A equipe trabalhará, sem previsão de término da operação, com a Força Tática de Bento Gonçalves.
A reportagem conversou com funcionários que chegavam ou deixavam o local pela porta que foi acessada pelo autor do crime:
— A cidade está assustada. É um município pequeno e não estamos acostumados com isso. Nunca vi nada assim aqui — contou um funcionário.
Outra jovem também relatou que o clima era de tensão:
— Estamos assustados. Tem uma tensão no ar.
O medo também estava presente entre os moradores. Alguns ressaltam que a cidade, que sempre foi tranquila, um bom lugar para morar e onde se podia caminhar tranquilamente à noite, está mudando. Outros consideram que as mortes ainda não afetam a segurança da população por acreditarem que as vítimas são alvos procurados por envolvimento com o crime.
Em um café na área central da cidade, o receio com a onda de violência era um dos assuntos entre as funcionárias.
— Moro aqui há 11 anos e nunca vi tanta violência assim. Estou começando a ter medo do que pode acontecer. É uma cidade tranquila. Estou apreensiva. Entraram em um hospital, que seria um lugar seguro — ressalta a atendente Marieli Estulane, 28.
Um morador do Centro, que prefere não se identificar, considera que o aumento da violência acontece justamente pela guerra de facções no município serrano:
— Por enquanto, as mortes são entre eles, que têm envolvimento com o tráfico. Então, não impacta ainda na segurança da cidade.
Já a professora aposentada Marlene Maria Manica Delazzeri, 70, que estava em uma farmácia, teme pelo futuro da cidade.
— Nossa cidade pequena e tranquila agora pode ser comparada a cidades grandes com esse tipo de violência. A maioria das vítimas são jovens. Algo tem que ser feito. Temos filhos e netos crescendo e temo pelo que a cidade pode se tornar. Somos uma cidade pacata do interior — lamenta ela.
Sete mortes em 40 dias
Com este assassinato, o município registra 10 mortes violentas em 2022, o mesmo número contabilizado em 2021 durante todo o ano. De acordo com o delegado de Garibaldi, Clóvis Rodrigues de Souza, destas 10 mortes, sete ocorreram nos últimos 40 dias, o que mostra a constante escalada da violência.
— Chama a atenção de todos esse aumento estrondoso da criminalidade, mas vai passar e vamos apresentar resultados para a comunidade. Tem havido uma troca constante de informações entre os órgãos de segurança de Garibaldi e de cidades da Serra para combater esses crimes. Estamos investigando vários crimes e ainda não sabemos se há relação ou não entre eles, mas vamos chegar na autoria. Estamos investigando as motivações para descobrir quem está determinando a morte dessas pessoas — destaca o delegado.
A vítima tinha antecedentes criminais. Inclusive, envolvimento com drogas, segundo o delegado. Ele lembra que o tráfico ganhou força na cidade em 2017, quando um grupo criminoso se apropriou do bairro Fenachamp. Na época, foi identificado o líder dessa organização, que está em um presídio federal. Contudo, novos líderes surgiram e, hoje, há uma disputa pelo controle de pontos de tráfico em Garibaldi.
— Esses grupos decidiram disputar território da maneira mais violenta possível. Atribuímos esse crescente número de homicídios a uma disputa territorial entre grupos criminosos. Estudamos o tráfico e monitoramos o número de homicídios desde 2002 e vamos combater esses casos. Traçamos o perfil da criminalidade, quem é natural da cidade, quem não é, os bairros onde têm acontecido os crimes. O bairro onde tudo começou não registrou nenhum caso nesse ano. Isso mostra que as ações têm produzido resultado.
A Polícia Civil já está com as imagens das câmeras de segurança para tentar identificar o autor dos tiros.
O que diz o município
"Os episódios de violência ocorridos em Garibaldi nos últimos dias são graves e inaceitáveis. Esse é o reflexo de uma realidade que, cada vez mais, tem feito parte do cotidiano de pequenas e médias cidades do Rio Grande do Sul.
Tão logo ocorreram esses casos, a Prefeitura Municipal entrou em contato com a Secretaria Estadual de Segurança Pública, solicitando a urgência na adoção de medidas para apoiar o efetivo local e proteger a nossa população. O prefeito municipal Sérgio Chesini já está marcando reuniões com o delegado Regional de Polícia, Augusto Cavalheiro Neto, e o comandante Regional da Brigada Militar, Márcio Luz. As mesmas devem ocorrer nas próximas horas.
De acordo com a Constituição Federal, a segurança é responsabilidade do Governo do Estado. Porém, a Prefeitura Municipal, tem realizado uma série de ações. Entre outras iniciativas, aumentamos o auxílio-moradia, beneficiando 27 policiais militares e 9 policiais civis; chegamos a 28 pontos de câmeras de cercamento eletrônico; investimos fortemente no reforço da iluminação, com mais de 2 mil lâmpadas de LED; implantamos uma escola cívico-militar; adquirimos, junto com o CONSEPRO e a comunidade, 15 pistolas 9mm; através do Governo do Estado, conquistamos uma viatura HYLUX, semi blindada, para melhorar o patrulhamento urbano; e, na última sexta-feira (12), o Batalhão da Polícia Rodoviária Estadual de Garibaldi recebeu uma HYLUX, 4X4, semi blindada, com investimento do Governo Estadual.
Desde janeiro de 2021 até o momento, resultado da nossa permanente mobilização, conseguimos aumentar o número de policiais militares de 13 para 27. Precisamos seguir evoluindo, para garantir o bem-estar e a tranquilidade que são próprios da nossa comunidade."