Mais uma vez, o Cemitério Municipal de Caxias do Sul amanheceu depredado. Túmulos e lápides quebrados, vidros espalhados, caixões à mostra e até tornozeleiras eletrônicas rompidas foram encontradas nesta segunda-feira (11). Os furtos de metais e ornamentos são recorrentes há anos, geralmente, praticados por dependentes químicos que vendem os objetos para comprar drogas. Mas, para além disso, o que tem incomodado a comunidade é que, recentemente, o que se vê é vandalismo.
Uma simples caminhada entre os túmulos mostra a precariedade da situação. Ornamentos de metais não existem, porque foram arrancados muito tempo atrás. As argolas das tampas dos túmulos também foram furtadas. A maioria dos jazigos estão sem identificação, porque os letreiros e as fotos também foram vandalizados. Agora, os bandidos quebram as estruturas para arrancar qualquer pedaço de metal.
— Tinha mausoléus lindos, mas eles quebram todos vidros para retirar filetes de metal. Quebram estruturas de pedras para levar qualquer pedaço de metal. Não está sobrando nada. Levam portas inteiras por cima dos muros. De noite, o cemitério é deles — lamenta um veterano servidor do cemitério, que pede para não ser identificado.
O cemitério é mantido fechado entre 18h e 8h, e não conta com serviço de vigilância, apenas com rondas feitas de forma mais geral no entorno pela Guarda Municipal. É na escuridão que acontecem as invasões. Nas manhãs seguintes, cabe à administração fazer o levantamento dos estragos.
— É um problema há anos, mas que piorou muito. Infelizmente, estas pessoas fazem o que querem. Estão vandalizando e levando coisas que não têm qualquer valor. Tem capela que quebram só por quebrar, por vandalismo. De 15 em 15 dias, vamos até a delegacia com uma lista dos estragos. Se for fazer por dia, passaria mais tempo na delegacia do que no cemitério, infelizmente — admite Rochele dos Reis, responsável pela administração local.
Foi Rochele que encontrou os pedaços rompidos de uma tornozeleira utilizada para monitorar eletronicamente presos que cumprem pena em regime semiaberto. O equipamento foi levado para a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), que tentará rastrear a que apenado pertencia o equipamento.
— Foi diferente, mas não surpreende. Eles deixam de tudo, principalmente relacionado a drogas. Reviram tudo. A sujeira, além da destruição, é grande — relata.
Quando um túmulo é vandalizado, a equipe do cemitério tenta contato com a família, contudo a maioria não é encontrada porque não tem o cadastro atualizado. A manutenção é feita, com apoio da Codeca, com limpeza e recolhimento dos destroços. Por empatia, a equipe fecha novamente os túmulos, evitando que caixões e restos mortais fiquem à mostra.
Prefeitura aponta projeto de câmeras como solução, ainda sem prazo
A administração do cemitério e as famílias que mantém túmulos já procuraram a prefeitura por mais de uma ver para solicitar medidas de segurança. Câmeras, cerca elétrica e aumento dos muros já foram cogitados, contudo todos esbarram na "falta de verbas" e a não certeza de solução do problema.
Procurada pela reportagem sobre o que aconteceu neste final de semana, a assessoria de imprensa da prefeitura informou que foram registrados vandalismos na última sexta-feira (8). Estas ações seriam praticadas por dependentes químicos que invadem o local para drogadição e furtos para sustento do vício. Como a área é grande, eles utilizam entradas de acesso à vila que fica ao lado para fazer uso de drogas.
Diante dos novos relatos, o comunicado aponta que a Guarda Municipal intensificou rondas na região do cemitério e mantém sempre os atendimentos quando chamados.
Sobre uma solução definitiva, a assessoria aponta que o projeto do cercamento eletrônico da cidade irá contemplar aquisição de câmeras de monitoramento e um centro de vigilância integrada, o que beneficiaria também a vigilância no cemitério municipal. O cercamento eletrônico é uma das metas da Secretaria Municipal de Segurança Pública, mas esbarra em burocracia e ainda não tem prazo para acontecer.