O delegado Cleber dos Santos Lima, 59 anos, é quem assume a 8ª Delegacia Regional de Polícia (DRP), que tem sede em Caxias do Sul, após a saída delegado Paulo Roberto Rosa da Silva, 64, que se aposentou após três décadas na função - neste ano ele assumiu a Secretaria Municipal de Segurança Pública de Caxias. Além de Caxias, Lima é responsável por mais 11 municípios da Serra.
Delegado de Polícia desde 1999, Lima fez carreira na Região Metropolitana de Porto Alegre e teve passagens pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), na Delegacia de Roubos a Banco, e como diretor de investigações do Departamento Estadual de Narcotráfico (Denarc). Recentemente, estava à frente da 17ª Delegacia de Porto Alegre, que é responsável pelo centro da Capital.
— Só trabalhei em delegacias importantes e cujo o envolvimento da criminalidade era alto. É um desafio assumir esta delegacia do interior. Depois de Porto Alegre, a região mais importante, tanto em economia como em criminalidade, é a Serra. Tem que ser dada uma atenção especial — avalia.
Na Serra, Lima coordenará 22 delegados em Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Farroupilha, Flores da Cunha, São Marcos, Garibaldi, Carlos Barbosa, Nova Petrópolis, Veranópolis, Antônio Prado, Cotiporã e Nova Roma do Sul.
Confira a entrevista na íntegra:
Pioneiro: Já conhecia a Serra?
Cleber dos Santos Lima: Sim, morei em Flores da Cunha por oito anos. Fiz o pré-vestibular em Caxias do Sul. Saí de Uruguaiana, onde nasci, e com 14 anos vim trabalhar em Flores da Cunha. Fiquei até vinte e poucos anos, quando fiz concurso para o Exército, para a Escola de Sargento das Armas de Minas Gerais, e fui aprovado. Lembro que o teste físico foi no Aeroporto de Caxias e a prova no salão de São Pelegrino. Me formei em Direito no Rio de Janeiro, onde vivi por 10 anos. Lá fiz concurso para oficial do Exército e voltei para Porto Alegre como assessor jurídico do Comando Militar do Sul. Fiquei 14 anos no Exército até fazer o concurso para ser delegado de polícia.
Por que trocou o Exército pela Polícia Civil?
Razão econômica. Era 1º tenente a época, mas ganhava menos. Optei pela Polícia Civil, onde me adaptei e me sinto muito bem no trabalho. O Exército te prepara para uma guerra, já na Polícia Civil tu tens uma comunidade para cuidar.
O que o senhor sabe sobre o trabalho policial na Serra?
A resposta que tive foi extremamente positiva sobre as equipes e pessoas que trabalham aqui. É uma comunidade engajada, tanto que recentemente se construiu uma Central de Polícia maravilhosa. Isso é importante. Os índices (de crimes) estão caindo. Eventualmente há um ou outro índice que aumenta em decorrência da guerra de facções, que sabemos que existem, facções de Porto Alegre e Região Metropolitana que acabam se deslocando para o interior. Mas Caxias do Sul tem uma gama de profissionais de segurança pública, tanto da Polícia Civil quanto da Brigada Militar, que são engajados em dar à comunidade a tranquilidade que merece. Evidente que temos demanda que, às vezes, não são atendidas adequadamente devido a uma questão já sabemos: recursos humanos insuficientes. Este é o principal ponto. Podemos ter viatura e armamento bom, mas se não tivermos o elemento humano, sempre estaremos reféns.
Alguma característica da região que requer mais atenção?
Não especificamente. Trabalhamos em todo o Rio Grande do Sul com índices pré-determinados pelo (programa) RS Seguro. Toda a Polícia Civil prioriza o que chamamos de CVLI: Crimes Violentos Letais Intencionais. Nesta sigla, estão englobados os homicídios, latrocínios, roubos de veículos, roubos a pedestre e roubos a estabelecimentos comerciais e de ensino. É nestes índices que temos que trabalhar e manter em níveis adequados.
Qual é o trabalho de um delegado regional?
O delegado regional é o que coordena as ações dos demais. Tenho sob minha responsabilidade 22 delegados de polícia. A regional tem sede em Caxias do Sul, mas é responsável por mais 11 cidades. Temos que coordenar o trabalho dos colegas, neste sentido administrativo, de fazer o trabalho destes delegados dar resultado. Também cabe ao delegado regional dar todo o suporte, seja de viaturas, de pessoal ou de móveis e estrutura. Também há o trabalho correcional, sobre um desvio de conduta.
Há alguma caraterística pessoal que queira implementar no trabalho na Serra?
Quero que todos trabalhem no absoluto diálogo, com firmeza quando for necessário, mas com franqueza. Ninguém trabalha sozinho. Temos que aprender a dirigir equipes. Costumo dizer que sou o treinador do time. Se, por ventura, meu time está perdendo de meio a zero, eventualmente vou ter que chamar este ou aquele jogador e colocá-lo no banco para esfriar a cabeça. Quando o time ganha, ganha todo mundo. Quando perde, perdem todos. No time da Polícia Civil temos que apresentar resultados positivos. Quero uma equipe coesa, que brigue dentro de campo contra a criminalidade e que tenha muita integração com todos os órgãos de segurança.
Como é substituir um delegado que atuou por três décadas na Serra?
É um desafio, mas quando recebi o convite liguei para o Paulo. Conheço o delegado há mais de 15 anos, da época de quando era delegado de roubo a banco e cansei de vir para Caxias atrás do José Carlos dos Santos, o Seco, um dos maiores assaltantes de carro-forte. Eu troquei tiros com o Seco. Foi na entrada de Monte Belo do Sul, quando perseguimos o carro dele e disparamos um monte de tiros. Não acertamos nenhum, mas graças a Deus ele também não acertou porque também estava armado. Vim falar com o delegado Paulo sobre a região e quero manter esta integração com ele. O Paulo é um ícone da Polícia Civil e foi devidamente homenageado durante a minha posse. Quero seguir tudo de bom que o ele fez na Serra. O difícil é manter estes índices baixos (de crimes). Este é o nosso desafio. Se roubo a pedestre tivemos quatro e no mês seguinte deu cinco, foi um crime a mais, 25% de aumento. A porcentagem é terrível.
A Delegacia Regional atuará no enfrentamento de facções?
É obrigação nossa estar junto. O colega está lá sobre pressão, cabe à figura do delegado regional ajudar e resolver em termos de mais pessoal, material e contato com outros órgãos. O delegado que tem resolver os 25 homicídios em um mês, como foi em outubro em Caxias. O delegado regional que tem que estar junto na parte de inteligência, conseguir mais cinco agentes, colher as informações dos delegados e fazer contato com o Judiciário para conseguir uma transferência de um líder criminoso.
É uma preocupação o quanto o descontrole dos presídios traz reflexos na criminalidade?
Como delegado regional, pretendo manter um diálogo muito estreito com o pessoal da Susepe. Muitos crimes, principalmente homicídios, são armados e arquitetados dentro das casas prisionais. Esta informação que corre dentro dos presídios é muito importante para todas as investigações. Precisamos delas. Com relação à administração das casas, obviamente que não é nosso papel. É preciso ser integrado, mas respeitar a responsabilidade de cada um.
A Polícia Civil apoia o investimento em um laboratório de perícias na Serra?
É uma ideia interessante e do ponto de vista da persecução criminal é absolutamente necessário. Agilizaria a realização de todas as perícias na Serra. Teríamos agilidade na conclusão dos laudos e dos inquéritos policiais, que ficam pendentes de perícias. Outro fator importante é evitar que policiais tenham que ir até Porto Alegre para levar as armas apreendidas. Eu apoio a ideia, que é excelente. Queremos nos somar a esta luta do IGP, mas reconheço que é uma luta difícil porque o IGP carece dos mesmos recursos que nós: pessoal e recursos.