Caxias do Sul é peça central na reestruturação do Instituto Geral de Perícias (IGP) no Estado, que acumula quase 200 mil exames em atraso. Em visita a Serra na sexta-feira, o diretor geral do IGP, Cleber Ricardo Teixeira Muller, afirmou o compromisso de criar na cidade um laboratório aos moldes do que existe em Porto Alegre. Para sair do papel, o plano dependeria do apoio de outras instituições e empresas. Não há estimativa de quanto recurso é necessário.
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Além de ampliar a produção de laudos, a implementação de um laboratório mais especializado diminuiria o tempo que policiais e peritos gastam apenas para transportar os vestígios de um crime para serem analisados na Capital. Mais importante: a estratégia ajudaria a combater a impunidade em toda a região, pois qualificaria a elaboração das provas de autoria de crimes.
O plano é considerado fundamental diante de uma constatação: mais da metade dos processos de homicídio e tentativas que chegaram às varas do Júri foi arquivada por falta de autoria ou fragilidade nas provas. Segundo levantamento do Tribunal de Justiça, ao qual a Zero Hora teve acesso, 9,6 mil processos ficaram sem solução entre 2011 e 2015 no Rio Grande do Sul, o que inclui casos de Caxias do Sul e região.
– Quando foi implementada no interior, a perícia era só para atender local de morte, ou seja, não deixar os corpos esperando. Este é um dos principais pontos que nossa gestão quer mudar. Os próprios peritos daqui (de Caxias), pelo comprometimento da chefia, foram sensíveis às necessidades da região e agregaram cada vez mais exames. Todos têm interesse na prova material. O aparelhamento do IGP em Caxias beneficiaria toda a região – resume o diretor geral.
O impedimento da expansão é a questão financeira. Enquanto o Governo Estadual procura formas de reduzir gastos, o diretor geral do IGP acredita no crescimento das parcerias na Serra para o aparelhamento do novo laboratório.
– Temos uma série de projetos que podem melhorar a segurança pública. Só depende deste investimento compartilhado com o Ministério Público, do Judiciário, da sociedade organizada, da prefeitura de Caxias e das associações de municípios da região (o IGP de Caxias atende a 55 municípios) para aquisição de equipamentos. Os números mostram que investir em ciência criminal compensa – garante Muller.
O QUE PODE AVANÇAR
Confira os serviços de perícia disponíveis somente em Porto Alegre, mas que poderiam ser realizados a partir de Caxias do Sul:
Balística
É uma das provas mais importantes de uma investigação de assassinato, pois determina a arma utilizada no crime. Há crimes de 2013 parados na Delegacia de Homicídios e Desaparecidos (DHD) aguardando o resultado desse exame que confirma de qual arma partiu projéteis.
Papiloscopia
Há um projeto avançado para trazer uma base de dados de digitais para confronto criminal. O equipamento é capaz de apontar suspeitos a partir de fragmentos de digital coletados na cena de um crime ou em uma arma. Além de questões técnicas, há treinamento de servidores previstos para implementar esse serviço o quanto antes na Serra.
Perícia ambiental
É solicitada pelo MP para comprovar autoria de queimadas, cortes ilegais de plantas ou poluição de águas. Existe uma única equipe em Porto Alegre capacitada para esta análise. Há uma demanda grande em Caxias devido às grandes áreas verdes.
Análise de chassi de veículos
Aplicada na comprovação de clonagem de veículos ou na adulteração de placas. Na Serra, automóveis apreendidos ficam em média seis meses parados em depósitos até serem periciados.
Análises clínicas
Análise em sangue de vítimas é outra perícia feita somente em Porto Alegre. O exame pode determinar, por exemplo, se uma vítima de assassinato estava grávida ou se a vítima de um acidente de trânsito estava alcoolizada.