A prevenção é melhor opção contra o crime que mais cresce no Rio Grande do Sul. O estelionato teve aumento de 120% de 2019 para 2020. Foram mais de 62 mil pessoas enganadas por golpistas no ano passado, uma média de 170 casos registrados por dia na polícia. Apenas 49 dos 497 municípios gaúchos não tiveram aumento neste tipo de crime.
O crescimento é explicado pela expansão do acesso à internet, pela facilidade de transações bancárias virtuais e exposição de informações pessoais em redes sociais. Pela pujança econômica, a Serra sempre foi alvo dos golpistas. Em Caxias do Sul, o salto foi de 636 vítimas em 2011 para 4.074 pessoas enganadas no ano passado — um crescimento de 540%.
— Hoje para abrir contas em banco digitais é muito fácil. Estes falsários conseguem falsificar documentos e abrir contas fantasmas. Mesmo que a investigação identifique, esses dados não serão reais. Para a vítima reaver o seu dinheiro é muito difícil. Por isso, o melhor caminho é a prevenção — aponta o delegado Edinei Albarello, da 3ª Delegacia de Polícia de Caxias do Sul.
Segundo a Polícia Civil, há duas dezenas de golpes diferentes sendo praticados em Caxias do Sul. Mesmo golpes antigos e que parecem superados, como o conto do bilhete premiado, fazem vítimas de tempos em tempos. Os estelionatários também estão sempre atentos a novas possibilidades de enganar e conseguir dados de suas vítimas, como aconteceu após o anúncio do auxílio emergencial para enfrentar a pandemia de coronavírus.
Os golpes mais comuns
Com apoio da Polícia Civil, a reportagem elenca os golpes mais comuns em Caxias do Sul e as dicas básicas de prevenção.
:: Golpe do cartão clonado
O modo de ação mais comum é os estelionatários se passarem por um funcionário de banco e simularem que o cartão da vítima foi utilizado para fazer uma compra em uma outra cidade. A ligação telefônica é, supostamente, para confirmar o débito de uma compra que a vítima afirma não ter feito, o que leva a pessoa a crer que seu cartão foi clonado.
O suposto funcionário do banco, então, inicia o cancelamento e a troca do cartão. O estelionatário aproveita as restrições da pandemia e informa que um funcionário do banco irá até a casa da vítima para buscar o cartão que foi clonado. Durante a ligação, o golpista aproveita para colher diversas informações da vítima, inclusive a senha do cartão.
Logo após buscar o cartão, o golpista realiza diversas transferências, pagamento e até empréstimos. Há casos em que os prejuízos a vítima ultrapassam os R$ 10 mil.
— Eles costumam andar com estas máquinas de cartão para realizar as transações o mais rápido possível. É um golpe que tem feito muitas vítimas em Caxias do Sul. A preferência deles é por vítimas idosas e negociações por telefone fixo, onde fingem desligar para que a vítima ligue para o 0800 que tem atrás do cartão, mas na verdade continuam na linha e se passam pelo atendimento — descreve o delegado Albarello.
Segundo a Polícia Civil, esse golpe costuma ser praticado por quadrilhas especializadas que têm informações privilegiadas da vítima. O delegado Albarello ressalta que o esquema é antigo e sofre alterações na trama para ludibriar a vítima, mas tem por base o falso funcionário do banco que vai até a casa da vítima.
COMO EVITAR O GOLPE: nunca entregue o cartão ea senha para ninguém. Não é uma prática dos bancos enviarem funcionários para buscar cartões na casa de clientes. Tenha calma e estranhe quando o atendente do banco tem muita pressa ou te pressiona para tomar decisões. Se possível, vá até a sua agência bancária para esclarecer a suspeita de fraude.
:: Clonagem do WhatsApp
Esse golpe inicia quando o golpista tem acesso ao número de telefone da vítima, geralmente que foi divulgado em um site de vendas ou rede social. O estelionatário liga para a vítima e se diz um representante desta empresa. Em seguida, pede uma atualização ou mais uma informação para ativar o anúncio. Para confirmação, eles encaminham um código e pedem que a vítima informe.
O código, na verdade, é uma mensagem automática do WhatsApp quando alguém tentar cadastrar seu número em outro telefone. Quando a vítima informa o código, perde acesso ao aplicativo e o estelionatário terá acesso a todos os seus contatos. Na sequência, o falsário envia mensagens para os familiares e amigos da vítima pedindo empréstimos ou ajuda em dinheiro.
Para captar o código, os golpista também podem se passar por funcionários de um hotel ou loja que a vítima frequentou recentemente. Nessas tramas, o código de confirmação seria para participar de uma promoção.
— Há várias formas de ludibriar a vítima para conseguir este código. A vítima perde o controle do seu WhatsApp, mas quem irá perder o dinheiro são os familiares e amigos. Como hoje todas as transações são pelo celular, é tudo muito rápido, principalmente com o Pix, e acontece em minutos. São milhões de vítimas justamente por esta facilidade de aplicar pelos golpistas — explica o delegado da 3ª DP.
COMO EVITAR O GOLPE: A orientação é jamais repassar códigos para terceiros. As senhas enviadas por mensagem costumam ser para uso pessoal, e não para informar a terceiros. Outra medida é habilitar a identificação em duas etapas oferecida pelo próprio aplicativo. Para familiares e amigos, a dica é sempre desconfiar de pedidos de dinheiro por aplicativos e buscar mais informações sobre o que está acontecendo. Preferencialmente, tente ligar para o seu ente querido e confirmar este pedido.
:: Golpe dos nudes
Esse é um caso de extorsão, mas que inicia com uma trama típica de estelionato. O falsário cria um perfil fake com fotos de uma jovem mulher bonita. Ele procura por homens, faz convites em redes sociais e mantém diálogos. A suposta jovem seduz o alvo até que aconteça uma troca de fotos íntimas.
Após concluir a troca de fotos, um segundo falsário surge se passando como um parente dessa menina, que ele diz ser menor de idade e portanto o caso seria um crime de pedofilia. O golpista passa a exigir um pagamento para não levar o caso à polícia e nem informar a esposa, familiares e amigos da vítima.
— Como a maioria das pessoas se expõe demais nas redes sociais, o falsário tem todas as informações dos familiares e amigos da vítima, o que facilita a extorsão. Por vezes, o estelionatário também se faz passar por policial. Há casos em que simularam estar dentro de uma delegacia, com banners, uniforme e até o boletim de ocorrência. Tudo para ludibriar a vítima a pagar esta extorsão.
COMO EVITAR O GOLPE: Nunca compartilhe fotos íntimas por redes sociais, pois perderá o controle da imagem que poderá girar o mundo. Cuidado com conversas online com possíveis menores de idade em redes sociais, afinal é crime trocar fotos íntimas com adolescentes. Policiais nunca exigem dinheiro para evitar o registro de ocorrência ou uma investigação.
:: Depósito do envelope vazio
O depósito do envelope vazio não é um golpe específico, mas um meio de enganar as vítimas em negociações variadas de compra e venda. Esse depósito é feito em caixas eletrônicos, onde é informado o valor combinado com a vítima ou até mais. O valor aparece no extrato como bloqueado ou a compensar. Contudo, muitas vítimas acreditam que o dinheiro já entrou e finalizam a negociação. O depósito, contudo, só é compensado após o banco verificar o envelope - que estará vazio e, portanto, a transação bancária será cancelada.
Esse truque, que vem sendo utilizado em diversos enredos de golpes, é mais aplicado antes de finais de semana ou feriados, pois o banco só irá verificar o conteúdo do envelope no próximo dia útil.
A forma mais comum dos golpistas encontrarem suas vítimas é por ofertas em redes sociais ou sites de produtos usados.
COMO EVITAR O GOLPE: Espere a confirmação do depósito e a compensação do valor para depois encerrar a negociação. Para evitar golpes, é sempre importante ter calma em negociações. Os estelionatários utilizam a pressa para enganar a vítima, oferecendo vantagens, tudo para evitar que a vítima tenha chance de pensar ou pedir a opinião de um conhecido.
:: Falso empréstimo
A pessoa busca na internet por empréstimos. Geralmente, os sites com as melhores condições são de golpistas. As negociações são rápidas e sem burocracia, com condições favoráveis e aceitando qualquer cliente. Quando a pessoa contrata o empréstimo, o falsário começa a exigir taxas para liberar o dinheiro. A vítima paga a taxa, mas aparece outra e depois outra, até que a pessoa perceber que caiu num golpe.
— É um golpe para o Brasil inteiro, que aponta para vítimas e falsários em todos os Estados. A pessoa procura um empréstimo de R$ 10 mil e paga de R$ 2 mil a R$3 mil de taxas antes de perceber o golpe — descreve o delegado de Caxias do Sul.
COMO EVITAR O GOLPE: Tenha sempre muito cuidado com sites na internet. Desconfie de promoções e condições muito vantajosas. Para conseguir empréstimos, normalmente, não é preciso realizar pagamentos prévios.