Apenas no primeiro trimestre, 511 pessoas foram enganadas por golpistas em Caxias do Sul. Neste ritmo, a cidade terminará com mais de 2 mil estelionatos — o que representaria um crescimento de 25% na comparação com 2019, que teve 1,6 mil casos. As estatísticas mostram que o estelionato é um crime que continua em crescimento no Rio Grande do Sul e nem a crise do coronavírus parece reduzir. Aliás, a pandemia está sendo utilizada por golpistas para fazer novas vítimas. Uma pesquisa feita por empresa de segurança na internet mostra que mais de 7 milhões de brasileiros acessaram páginas de golpes que usam o auxílio emergencial do governo como tema.
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Os dados são do laboratório especializado em segurança digital da empresa PSafe. O estudo relata que a pandemia tem sido utilizada por cibercriminosos como tema de várias armadilhas e que o golpe do coronavoucher é o maior deste ano.
— Para tornar o ataque mais verídico, alguns golpes se aproveitam de ações reais que grandes empresas e o governo estão realizando para enfrentar o coronavírus, como a doação de álcool gel e pagamento de benefícios à população. E a tendência é que o número de ataques e de vítimas aumente nos próximos dias, principalmente em decorrência do agravamento da situação do país neste momento de crise — explica o diretor Emilio Simoni.
Na Serra, a Polícia Civil afirma que são incomuns registros de estelionatos envolvendo o coronavírus. Ainda assim, o delegado Álvaro Becker aponta que há relatos sobre golpe do coronavoucher e teme um aumento constante em razão das pessoas estarem mais em casa e, consequentemente, mais ativas em redes sociais.
— É preciso sempre ficar alerta. Estelionatos pela internet temos em alta escala. Com mais pessoas em casa, tem diminuído os furtos e roubos, então os criminosos tem recorrido à estas ações pela internet ou pelo telefone. Já tivemos algumas pessoas que receberam ligações, passaram os dados e depois tiveram dificuldades para acessar o benefício — aponta o chefe da 2ª Delegacia de Polícia.
Em todo o Rio Grande do Sul, os estelionatos tiveram aumento de 6% em março, em relação ao mesmo período do ano passado. Foram 2.165 ocorrências no Estado ao longo do mês. Ou seja, média de 70 casos por dia. O dado é um dos indicadores criminais divulgados na última semana pela Secretaria da Segurança Pública (SSP).
— Sempre que existe uma situação que mobiliza as pessoas e resulta em envio de mensagens, um fato social, e os golpistas se aproveitam disso. Nesse caso, é a covid-19, onde eles usam diversos argumentos. As pessoas têm de redobrar os cuidados nessa época — alerta a titular da Delegacia do Idoso de Porto Alegre, delegada Cristiane Ramos.
COMO O GOLPE FUNCIONA
:: Em maioria, os links falsos são disseminados pelo aplicativo WhatsApp ou outras redes sociais, mas também podem aparecer em propagandas falsas de sites não confiáveis.
:: Ao acessar um desses links, o usuário é incentivado a responder algumas perguntas criadas para dar veracidade ao golpe, como "Você é beneficiário do Bolsa Família?".
:: Após respondê-las, o usuário é induzido a compartilhar o link com contatos ou grupos para ter acesso ao falso benefício, tornando-se assim mais um vetor de disseminação do golpe.
:: Na sequência, o usuário é direcionado a uma página para fornecer os dados pessoais, ou até mesmo visualizar publicidades, o que torna o golpe extremamente lucrativo ao estelionatário.
Os prejuízos
Sobre o coronavoucher, o objetivo do golpe parece ser colher os dados para fazer o saque do benefício que a vítima tem direito. Com os dados de documentos em mãos, contudo, os criminosos podem praticar outros golpes, como "sequestro" das redes sociais e e-mail, compras falsas, abertura de novas contas ou solicitações de crédito.
Alerta para falsos apps
Durante a pesquisa, o laboratório da PSafe também identificou dois aplicativos falsos que tentam se passar pelo app oficial da Caixa — responsável pelo cadastro dos interessados em solicitar a bolsa auxílio do governo. Os falsos aplicativos receberam mais de 200 mil downloads antes de serem removidos da loja do Google.
Como não cair em armadilhas
:: Desconfie de links e procure pelo sites oficiais. No caso do governo brasileiro, os sites terminam com ".gov.br". No caso do auxílio emergencial, o site é o https://auxilio.caixa.gov.br.
:: Só forneça dados pessoais em aplicativos que você confirmou a procedência.
:: Não repasse senha ou códigos que foram enviados ao seu telefone.
:: Duvide de notícias ou links compartilhados se forem temas polêmicos e/ou alarmistas. Procure fontes confiáveis. Esta dica também vale no caso de promoções e outras oportunidades "exageradas".
:: Evite conversas por meio de aplicativos com prefixo telefônico desconhecido.
Falsa Transferência e "nudes" estão entre outras farsas
O pagamento falso é o golpe que mais fez vítimas nos últimos três anos em Caxias do Sul. Criminosos fazem anúncios em redes sociais ou sites de produtos usados, fazem a negociação pela internet e utilizam uma transferência falsa para enganar as vítimas. Alguns golpistas enviam fotos de falsos comprovantes de transferência, enquanto outros fazem depósitos em envelopes vazios. Em ambos os casos, o objetivo dos criminosos é buscar o produto à venda antes que a vítima verifique a conta e perceba que nenhum dinheiro entrou.
O depósito do envelope vazio não é um golpe específico, mas um meio de enganar as vítimas. Este depósito é feito em caixas eletrônicos, onde é informado o valor combinado com a vítima ou até maior. Este valor aparece no extrato como "a compensar". Porém, muitas vítimas acreditam que o dinheiro já entrou e concluem a negociação. O depósito, contudo, só é compensado após o banco verificar o envelope. Que, neste caso, está vazio, e a transação é cancelada.
Este truque, que pode ser utilizado em diversos enredos de golpes, é mais utilizado na véspera de finais de semana ou feriados, pois o banco só irá verificar o envelope no próximo dia útil.
Golpe dos nudes
A trama possui um roteiro comum que inicia com o perfil de uma mulher jovem em alguma rede social. Ela conhece e conversa com homens por mensagens e, no desenrolar da relação, ambos enviam fotografias íntimas — os chamados "nudes". Logo depois, o perfil falso afirma que a mulher das fotos é uma menor de idade. Quase que simultaneamente, um outro contato aparece se dizendo pai da menina e faz uma revelação: afirma ser um policial civil e promete denunciar o homem para as autoridades, a não ser que pague pelo silêncio.
Na última semana, a foto de um delegado de Caxias do Sul foi utilizada em pelo menos dois destes golpes.
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