Cinco pessoas são enganadas por criminosos a cada dia em Caxias do Sul. Esta média foi calculada com base nas estatísticas do primeiro trimestre de 2020, quando 511 estelionatos foram registrados. O alerta sobre golpes pela internet foi reforçado neste período de isolamento social diante da pandemia de coronavírus. Uma das artimanhas dos golpistas é utilizar fotos e dados de policiais para enganar e intimidar suas vítimas. Nos últimos três dias, agentes de Caxias do Sul se viram envolvidos em dois casos diferentes. No primeiro, pela prisão em flagrante de um casal suspeito de estelionato. No outro caso, o delegado Rodrigo Kegler Duarte soube que uma foto sua foi utilizada em golpes na Região Noroeste do estado e em Santa Catarina.
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A imagem do policial caxiense foi utilizada no chamado "golpe dos nudes". A trama possui um roteiro comum que inicia com o perfil de uma mulher jovem em alguma rede social. Ela conhece e conversa com homens por mensagens e, no desenrolar da relação, ambos enviam fotografias íntimas — os chamados "nudes".
Logo depois, o perfil falso afirma que a mulher das fotos é uma menor de idade. Quase que simultaneamente, um outro contato aparece se dizendo pai da menina e faz uma revelação: afirma ser um policial civil e promete denunciar o homem para as autoridades, a não ser que pague pelo silêncio.
— Não utilizaram o meu nome ou outros dados, apenas uma foto minha registrada pela imprensa. É algo que já aconteceu com vários colegas. Estão aparecendo mais casos, sendo um na Região Noroeste e outra em Santa Catarina. Esperamos a cópia destas ocorrências para fazer um registro por aqui e decidir por onde será feita a investigação — diz o delegado Duarte, que é titular na 3ª Delegacia de Polícia (3ª DP).
A imagem utilizada pelos estelionatários é de 2017 e foi retirada de uma entrevista publicada pelo Pioneiro sobre os números de homicídios daquele ano. O telefone utilizado para a extorsão é da área 51, mas a Polícia Civil não descarta que seja utilizado por criminosos da Serra. Geralmente, estes golpes por telefone e internet são praticados de dentro de presídios.
Casal foi preso após utilizar dados de delegado de Novo Hamburgo
No domingo (12), um casal foi preso durante a investigação de um estelionato envolvendo o nome do delegado Rafael Sauthier, da Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Novo Hamburgo. Conforme a investigação, os golpistas utilizaram documentos em nome do policial civil para ludibriar mais de 30 vítimas desde o final do ano passado. Os criminosos utilizavam um envelope vazio (leia abaixo) para criar uma transferência falsa e enganar suas vítimas, que entregavam os produtos à venda sem receber o dinheiro.
Os envolvidos foram presos após um motorista de guincho ser acionado e reconhecer o nome do delegado. O rastreamento levou os policiais até o bairro São Caetano, em Caxias do Sul, onde o casal foi capturado com a motocicleta da vítima.
Na ação, o delegado Sauthier contou com apoio da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco). Além do veículo, foram recuperados outros produtos oriundos de estelionatos, como eletrônicos, móveis, maquinários e colchões. Os objetos, avaliados em aproximadamente R$ 100 mil, serão devolvidos às vítimas após os procedimentos legais. Segundo a Polícia Civil, o casal teve a prisão preventiva decretada e permanecia recolhido no sistema penitenciário até esta terça-feira (14).
:: O envelope vazio
O depósito do envelope vazio não é um golpe específico, mas um meio de enganar as vítimas. Este depósito é feito em caixas eletrônicos, onde é informado o valor combinado com a vítima ou até maior. Este valor aparece no extrato como "a compensar", porém, muitas vítimas acreditam que o dinheiro já entrou e concluem a negociação. O depósito, contudo, só é compensado após o banco verificar o envelope — que, neste caso, está vazio — e a transação é cancelada.
Este truque, que pode ser utilizado em diversos enredos de golpes, é mais utilizado na véspera de finais de semana ou feriados, pois o banco só irá verificar o envelope no próximo dia útil.