O desaparecimento de um empreiteiro e dois pedreiros no interior de Vacaria ficará sem respostas. Eles trabalhavam na construção de uma casa de lazer às margens do Rio Pelotas quando sumiram sem deixar vestígios, em abril de 2018. Sem provas ou suspeitos, a Justiça acolheu o pedido do Ministério Público (MP) e determinou o arquivamento do caso. A investigação nunca esclareceu o que aconteceu com as três vítimas.
O inquérito policial e a análise do MP não foram capazes de responder as perguntas básicas sobre o caso. Sem encontrar os corpos das vítimas ou vestígios de sangue, a investigação não pode nem descartar que os três homens estejam vivos — por mais improvável que pareça após quase três anos do sumiço.
Morador de Caxias do Sul, o empreiteiro Eleandro Aparecido Rodrigues Moraes, 40 anos, contratou os pedreiros Nelson Jair Soares, 44, e Alexsandro do Amaral Corrêa, 22, e os levou até a localidade de Capela do Caravaggio, distante cerca de 60 quilômetros da área urbana de Vacaria. A intenção era passar uma semana trabalhando na casa de lazer à beira do rio, sonho antigo do empreiteiro.
Para acessar o terreno, era preciso passar pela porteira da Fazenda do Churrasco, pelas três casas da família de Dinarci Perotoni, dono da propriedade e um antigo amigo de Moraes e descer dois quilômetros morro abaixo, em uma estrada improvisada até o rio. Foi a família Perotoni quem viu o trio pela última vez, no dia 3 de abril de 2018, e avisou a polícia sobre o sumiço, dois dias depois.
Na obra, a Polícia Civil não encontrou nenhum sinal de luta ou qualquer vestígio de um crime. No local, ainda estava a comida, as ferramentas e o caminhão utilizado por Moraes para chegar ao local. Como um barco foi encontrado à deriva nas águas sem os remos, a hipótese inicial foi de afogamento.
Foram 15 dias de buscas com apoio dos bombeiros, mergulhadores, cães farejadores e um helicóptero. Sem nenhum sinal dos corpos, a investigação liderada pelo delegado Anderson Silveira de Lima focou na possibilidade de um crime.
A principal linha de investigação era sobre a conduta de Moraes, que pegava dinheiro emprestado de um e reemprestava para outro com juros maiores — mas não foi comprovado, na época, se poderia se tratar do crime de agiotagem, afinal este não era o objeto da investigação. Também foi levantada a hipótese de um dos três sumidos ter matado os dois colegas e fugido para um estado da Região Centro-Oeste. As principais suspeitas, contudo, recaíam para a família Perotoni. Afinal, o único acesso ao local do desaparecimento era pela porteira e moradia deles.
A investigação cumpriu 10 mandados e ouviu 60 pessoas, inclusive oito vizinhos que passaram por detector de mentiras. Os resultados foram inconclusivos e o inquérito com mais de 600 páginas terminou sem provas. Um ano após o desaparecimento, o inquérito foi arquivado e remetido ao Ministério Público.
Quem analisou a investigação foi a promotora Bianca Acioly de Araújo que, em agosto de 2019, solicitou novas diligências. O caso possuía 12 linhas de investigações e a maioria estava refutada. Mas haviam "duas ou três que faltavam algumas informações", segundo o MP, à época. Sem estes esclarecimentos, a promotora Bianca dizia não ser possível nem arquivar o processo e nem denunciar qualquer investigado. Junto àquelas novas diligências, o MP solicitou segredo de Justiça ao processo e, por isso, poucas manifestações foram feitas sobre o caso.
Quebras de sigilo telefônico, mapeamento de ligações e análises financeiras foram feitas, principalmente sobre as anotações de Moraes. Em abril do ano passado, diante da estiagem que teria baixado em 50 metros a profundidade do Rio Pelotas, a Polícia Civil realizou novas buscas, que novamente terminaram sem pistas.
Sem nenhum indício novo, o MP recomendou o arquivamento em 26 de abril de 2020. O processo foi analisado pela juíza Greice Prataviera Grazziotin, da 2ª Vara Criminal de Vacaria, que determinou o arquivamento em 25 de agosto do ano passado. O processo poderá ser reaberto diante do surgimento de qualquer nova prova — o que, agora, seria considerado um milagre para as famílias das três vítimas.
O que dizem os investigadores
A Polícia Civil já havia se manifestado sobre o esgotamento das investigações em abril de 2019. Procurado pela reportagem, o Ministério Público emitiu um comunicado via assessoria de imprensa:
Após novas diligências solicitadas pelo Ministério Público, foi pedido pela promotoria e deferido pela Justiça o arquivamento do inquérito, visto que não houve comprovação de crime. O MP não irá passar mais detalhes.