O arquivamento do processo dos três desaparecidos no interior de Vacaria é mais uma dor para as famílias das vítimas. A investigação não foi capaz de responder as perguntas básicas sobre o que aconteceu com ao empreiteiro Eleandro Aparecido Rodrigues Moraes, 40 anos, e os pedreiros Nelson Jair Soares, 44, e Alexsandro do Amaral Corrêa, 22. Para as famílias, a decisão significa que o caso será esquecido sem qualquer resposta.
— O arquivamento não é uma surpresa. Mas, sempre tínhamos a esperança de que fossem achar uma pessoa ou alguma outra forma que levaria a uma resposta. Hoje, só temos a revolta. Deixaram três vidas, três famílias assim. Vivemos um luto diário porque não conseguimos concretizar as coisas. Não tem um ponto final nessa história. Não sabemos o que aconteceu. É triste. Só nos resta lidar com isso para vida inteira — lamenta Milena, mulher do empreiteiro Moraes, que prefere não ser identificada para preservar os dois filhos do casal.
As famílias negam a possibilidade que o trio tenha se afogado no Rio Pelotas. Moraes sabia nadar e tinha um barco próprio para a pesca, por isso não usaria o caiaque que foi encontrado à deriva. Mais jovem do trio, Corrêa foi criado em rios da região e também adorava nadar na praia. Ele era natural de Vacaria e havia se mudado para Caxias do Sul a procura de emprego.
— (O arquivamento) é pior, porque a gente tinha uma esperança. Sempre vou ter essa esperança de encontrar ele. Mas, ficou mais difícil, porque se procurassem uma hora teria que aparecer algo. Enquanto não aparecer algo, vou acreditar que ele está vivo. Hoje não existe nada, não ouvimos nada. O que tenho é fé — desabafa a servidora pública de Vacaria, Marilei do Amaral Almeida, 43, mãe de Alexsandro Corrêa.
A falta de respostas é o que mais incomoda as famílias. A última lembrança que eles têm é dos seus entes queridos saindo para trabalhar. O pedreiro Soares deixou seis filhos e nove irmãos.
— Se encontrassem o corpo, a gente sofreria, mas tentaria entender. É muito triste ficar nessa situação, sem saber o que aconteceu. É um sofrimento constante para a família, em cada final de ano, Natal ou aniversário, quando todos se reúnem, mas falta um. São três pais de família, mas parece que irá cair no esquecimento — reclama a babá Janice de Fátima Soares, 41, que é irmã de Nelson Jair e mora em Itaqui, na Região Sul.
Para advogado, investigação deixou muitas pontas soltas
Em busca de respostas, a família do empreiteiro Eleandro Moraes contratou um advogado para acompanhar e oferecer auxílio à investigação policial. Para Sezer Cerbaro, o inquérito foi concluído sem esgotar todas as possibilidades. O advogado aponta que há diversos depoimentos que não foram confrontados.
— Estivemos em contato, fizemos questionamentos e tentamos acompanhar. A investigação não andou, não esclareceu nenhuma situação. Nunca teve nada de concreto (no processo). Também fizemos os mesmos questionamento ao Ministério Público, que pediu diligências. Mas, ao final, não se descobriu nada. Onde estão os corpos? Foi um crime? Quem foi o autor? Não existe nenhuma conclusão — aponta Sezer Cerbaro.
Entre as hipóteses, que foram levantadas pelo próprio trabalho policial, há denúncias em aberto sobre dívidas, vizinhos violentos, possíveis relacionamentos amorosos, ex-funcionários do empreiteiro com ficha policial e conversas que apontavam onde foram escondidos os corpos. A falta de escavações na propriedade rural do desaparecimento é outro detalhe que incomoda o advogado da família.
— O inquérito tem muitos depoimentos, mas havia muita falácia. São informações desencontradas que precisavam ser mais checadas. Chamar de novo (estas testemunhas) e confrontar um depoimento com o outro. Não quero dizer como a polícia deve fazer o seu trabalho, mas ficam muitas dúvidas (para a família). Existem várias hipóteses que julgamos necessárias e colocamos ao delegado e à promotoria — relata Cerbaro.
Apesar da revolta da família, o advogado afirma que não há o que ser feito em termos judiciais. A única possibilidade de reabertura do processo é o surgimento de uma nova prova.