Estar preparado para qualquer ocorrência. É com este pensamento que a Brigada Militar de Bento Gonçalves firmou parcerias para adquirir um veículo blindado. O carro-forte foi doado por uma empresa de transporte de valores e, com apoio de empresários locais, foi adaptado para o uso policial. A novidade é descrita como um automóvel de aproximação — ao perigo — que propicia maior segurança aos policiais militares.
O veículo lembra o Caveirão, nome popular do blindado utilizado pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro para incursões em favelas onde o tráfico de drogas está conflagrado. A BM afirma que a realidade da Serra é bem diferente e que o emprego do blindado será preventivo e em ações específicas que possam surgir, como negociações e rompimento de obstáculos.
— É uma proteção ao policial. Ele vem de um projeto que trabalhamos há mais de um ano por meio de parcerias e teve custo zero para a comunidade. Preferimos ter este veículo e não precisar utilizá-lo nunca do que precisar dele e não ter à disposição — explica o major Álvaro Martinelli, comandante do 3º Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas (3º BPAT), que tem sede em Bento Gonçalves e atende a outros 24 municípios da região.
O blindado pode ser usado para crimes comuns na Serra, como ataques a banco, por exemplo. Esse tipo de roubo é problema histórico e esses assaltantes costumam utilizar armamentos mais potentes, como fuzis. Por isso, o blindado será utilizado em patrulhas preventivas por municípios que costumam sofrer com o chamado Novo Cangaço — assaltos a banco em que criminosos invadem cidades com poucos policiais, rendem moradores e obrigam os reféns a fazerem um escudo humano.
— É um veículo para ações pontuais e específicas, principalmente contra estas quadrilhas mais organizadas e que portam armamento de grosso calibre — afirma o comandante do 3º BPAT.
PARCERIA COM EMPRESAS
Por questões de segurança, a Brigada Militar não informa dados técnicos do novo blindado. O veículo tem base em um carro-forte que foi doado pela empresa Brinks. A partir de doações de empresários de Bento Gonçalves, Carlos Barbosa, Garibaldi, Nova Prata e Veranópolis, o veículo foi adaptado para o uso policial. O comando do 3º BPAT ressalta que o blindado teve custo zero para os cofres públicos. O veículo terá uso estratégico para aproximação, negociações e rompimento de obstáculos.
Entrevista
Major Alvaro Martinelli fala mais sobre o blindado na Serra:
Pioneiro: Quando surgiu a ideia de ter um blindado?
É uma ideia de longa data, desde quando trabalhava em Passo Fundo (foi comandante daquele Batalhão de Choque até março de 2015, quando assumiu na Capital do Vinho) e por vezes sentíamos a necessidade de uma plataforma que oferecesse maior segurança aos policiais. Buscávamos este apoio e, há pouco mais de um ano, surgiu essa possibilidade por meio desta doação da Brinks.
O veículo lembra o do Rio de Janeiro para ingresso em favelas e confronto com traficantes...
Nosso Estado tem uma realidade bem diferente. No Rio de Janeiro, os confrontos nestas comunidades em que delinquentes portam armas de grosso calibre é algo diuturno, uma situação que fugiu do controle estatal. Nosso Estado não vive esta realidade. O que tentamos é nos antecipar e estar preparados para qualquer situação. No momento, a atuação será nas cidades da Serra de maneira preventiva e em situações pontuais.
O veículo terá uso regional?
A base é Bento Gonçalves, mas é uma viatura da Brigada Militar. (O blindado) foi concebido para a área do 3º BPAT, que são 25 municípios, mas nada impede ser empregado em qualquer região que tenha demanda. Há outros veículos blindados de ação policial em Porto Alegre. A Polícia Civil também possui um.
O blindado exige um treinamento especial dos PMs?
É um veículo de características específicas de dimensão e porte, por isso necessita uma capacitação. Pela blindagem, o peso é muito superior ao de um veículo normal. Há um treinamento e uma atenção ao motorista para não criar uma situação de risco.
A BM de Bento tem tem feito parcerias com empresários.
Existe, na Serra, essa característica de parcerias com a iniciativa privada. Sabemos das limitações e carências que o nosso Estado tem para investimentos e tivemos a felicidade de conseguir estas parcerias. Hoje, temos (em Bento) um dos mais modernos centros integrados de Operações do interior, que foi todo projetado com recursos da iniciativa privada e canalizado pelo Consepro (Conselho Comunitário Pró-Segurança Pública). Recentemente, conseguimos construir uma garagem para conservar a frota dos efeitos do clima. São ações que retornam à própria comunidade.