Depois de três anos sem Carnaval de Rua em Caxias do Sul, os tamborins ressoaram pela Rua Sinimbu exatamente às 20h17min. Se tratava do aquecimento da bateria da escola de samba Acadêmicos do Arsenal, que preparava-se para retomar a festa mais popular do Brasil, entre as ruas Alfredo Chaves e Dr. Montaury .
— O Carnaval em Caxias é de retomada. De uma forma muito simples, este ano convidamos as escolas a participar da forma que elas puderam. Este ano, damos início a uma festa, neste momento pequena, mas realizada com muito amor no coração — disse o secretário de Cultura Paulo Périco, no protocolo de abertura.
Esta edição do Carnaval de Rua não teve jurados, nem concurso para escolher a melhor escola. Mas neste ano, mesmo de forma tímida, como frisou Périco, cerca de 3 mil pessoas estiveram reunidas na rua mais movimentada da cidade, em frente à Praça Dante Alighieri, a mais popular da cidade.
— Estamos promovendo o resgate de um espaço para a cultura popular, porque a última vez que isso ocorreu foi na rua Plácido de Castro, em que reunimos dez escolas com mais de 30 mil pessoas, que fizeram um dos melhores carnavais que tivemos em Caxias — defendeu o vice-prefeito Édio Elói Frizzo.
Mas o que de fato identifica uma festa popular? Quando a festa é feita pelo povo e para o povo, em um espaço público, sem nenhuma cobrança de ingresso. E ainda, que na plateia estejam famílias com seus filhos, convivendo em paz e harmonia com jovens e idosos, pessoas de todos os gêneros, estilos, cores e amores. Não por acaso, o samba enredo entoado pela Acadêmicos do Arsenal, que desfilou com 350 componentes, dizia: "Somos todos iguais / somos todos irmãos / levantando a bandeira da paz".
Logo após, às 21h30min, foi a vez da Associação Cultural e Esportiva São Vicente desfilar na Sinimbu. Com o tema "Das águas surge o milagre da fé", a escola entoava o refrão "Meu coração vai sambar a noite inteira / canta São Vicente escola guerreira / me dê a mão, cuida do meu coração / Nossa Senhora padroeira". O cortejo da escola foi conduzido por 320 pessoas, mas que na frente da Praça Dante era acrescido por mais de uma centena de foliões que iam atrás da bateria.
Sinimbu do povo
Com o fim dos desfiles por volta das 22h, era a vez de o povo invadir a Sinimbu para ficar bem pertinho de um palco erguido ao lado do camarote das autoridades. Neste espaço, a partir das 22h30min de sábado até por volta a 1h de domingo, três baterias de escolas de samba se revezavam para animar a festa de quem estava no centro de Caxias do Sul.
A sinergia contagiante colocou para dançar foliões, sob a regência das baterias da Sociedade Recreativa Cultural e Carnavalesca Incríveis do Ritmo, Escola de Samba Acadêmicos da Pérola Negra e Sociedade Recreativa e Cultural Gaúcho - Protegidos da Princesa. O clima era o mesmo dos ensaios que as escolas realizam no pré-Carnaval, só que dessa vez, foi realizado em praça pública, no encerramento dos festejos de 2020.
Depois que o último estampido de tamborim ressoou na Sinimbu, aos poucos a calmaria tomava conta do centro de Caxias. Na dispersão dos foliões, um casal tomado de paixão, cantava, abraçadinhos: "O sol há de brilhar mais uma vez / A luz há de chegar aos corações / O mal será queimada a semente / O amor será eterno novamente". E foi assim, que Caxias fechou o Carnaval de 2020, cantarolando, à capela, Juízo final, samba de Nelson Cavaquinho em parceria com Élcio Soares.
Pipoqueiro no Carnaval
Há cinco anos vendendo pipoca em Caxias do Sul, o vendedor Rafael Marques desfilava alegria na Rua Sinimbu. O assédio não era só das crianças, mas também dos adultos, que invariavelmente pediam mais por pipoca doce.
— O movimento está bom hoje, eu acho que vai me render uns R$ 300.
Nova Era para a cidade
Durante o protocolo, o vice-prefeito de Caxias, Édio Elói Frizzo chamou para ficar ao seu lado o Valdir Negrão, presidente da Império da Zona Norte. Entre um desfile e outro, Valdir disse à reportagem que o Carnaval de 2020 vai ficar na história, mas que, em 2021 ele quer ver uma mobilização ainda maior dos carnavalescos.
— Pra mim, é uma nova Era do Carnaval. Apesar de todos os problemas que tivemos nos últimos anos, e do pouco tempo que tínhamos para nos mobilizarmos nesse ano, pelo menos conseguimos ter duas escolas para desfilar e três baterias de escola para se apresentar. O Carnaval deste ano é um termômetro para 2021. As pessoas em Caxias gostam tanto de Carnaval que mesmo depois de três anos sem desfile o povo veio para a Sinimbu. Ano que vem estaremos aí, mais firmes do que nunca.
As primeiras a chegar na Sinimbu
O sol estava se pondo no entardecer de Caxias, quando a auxiliar de limpeza Ana Cristina Moreira, 52, e a aposentada Marli Moreira, 64, abriram as cadeiras de praia, próximo à escadaria da Catedral, para acompanhar o Carnaval de Rua.
— Não quero ver ninguém na minha frente — disse Marli, abrindo um largo sorriso.
Com elas estavam as estudantes Kemeron Pereira Moreira, 15, que já desfilou pelas escolas Nação Verde e Branco e Pérola Negra e Rayane Moreira Baumgarten, 14, que já desfilou pela Nação Verde e Branco. As meninas são netas de Marli, que sempre fez questão sambar ao lado das adolescentes.
— Eu desfilo junto, porque assim fico de olho nelas — diverte-se.