Dez lideranças da sociedade caxiense se mostram favoráveis à construção do terceiro presídio na cidade. O argumento principal é a falta de vagas devido à interdição das duas cadeias — o Presídio Regional, antiga Pics, e a Penitenciária no Apanhador — e o risco da cidade ter, em um futuro próximo, presos mantidos em delegacias e viaturas da Brigada Militar (BM).
A Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) quer evitar uma discussão política na escolha do município para construir o novo presídio. Por isso, houve a desistência da obra em Osório, no Litoral Norte, após campanha contrária liderada pelo prefeito da cidade, Eduardo Abrahão (PDT). Em Caxias do Sul, uma das cogitadas para receber o recurso federal, o prefeito Daniel Guerra (PRB) decidiu realizar uma consulta popular por meio das redes sociais para saber se a população quer uma nova cadeia. Ainda não foram divulgados detalhes do processo que começa na segunda-feira.
Leia mais
Prefeitura vai usar redes sociais para saber se população quer terceiro presídio em Caxias
Caxias do Sul está entre as cogitadas para receber novo presídio
Com lotação limite em presídios, novos presos podem ficar em delegacias de Caxias do Sul
Juízes relatam domínio de presos no Apanhador e sugerem interdição de casas prisionais
O novo presídio será construído com recursos do Departamento Penitenciário Nacional (Depen). O valor conquistado via projeto pela SSP não pode ser utilizado para outra finalidade — como a construção de escolas, por exemplo. Caxias do Sul tem a vantagem de já possuir um terreno do Estado disponível para a construção de um presídio. O lote é anexo à Penitenciária Estadual, no distrito do Apanhador. Pela distância com a zona urbana, também não significaria uma mudança na rotina do município.
— Querer mais presídios ninguém quer, pois não é uma solução. Há outras prioridades sociais. Mas, hoje, precisamos de mais vagas — aponta o advogado Jean Carbonera, presidente do Conselho da Comunidade.
Apesar da opinião unânime, os especialistas fizeram ressalvas. O comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM), major Jorge Emerson Ribas, ressalta a necessidade da vinda de recursos humanos com a nova casa prisional. O oficial teme que ocorra uma ação semelhante a vista no módulo 2 da Penitenciária de Canoas (Pecan 2), onde PMs foram destinados temporariamente para acelerar a utilização do novo prédio.
— Em paralelo, é preciso ser pensado no aumento de agentes penitenciários e dos agentes necessários para a guarda externa de um presídio. É algo que, ao longo dos anos, vimos que não acontece. Normalmente, perdemos policiais nas ruas para fazer a guarda.
Já o promotor de Justiça João Carlos de Azevedo Fraga destaca a necessidade de, junto com a nova estrutura, ser pensado um novo modelo prisional, capaz de romper o atual ciclo de violência e as chamadas faculdades do crime — quando novos presos são abandonados junto a criminosos de maior periculosidade.
— O mais interessante é que esta casa seja pensada de forma a cumprir com a Lei de Execuções Penais, o que não ocorre hoje. O estado não pensa na forma que este preso voltará para a sociedade, apenas está preocupado em contê-lo. É preciso oferecer trabalho prisional e condições para que este detento esteja preparado para a reinserção social.
POPULAÇÃO CARCERÁRIA
A comarca de Caxias do Sul também recebe presos de Farroupilha, Flores da Cunha, Nova Petrópolis, São Marcos e Antônio Prado — municípios que não têm casas prisionais.