Foi dada a largada para a caça de tampinhas em Caxias do Sul. Nesta semana, cerca de 500 estudantes do Colégio e da Faculdade Murialdo foram incumbidos de apadrinhar a Campanha Tampinha Legal, que é promovida em mais de 150 cidades do Rio Grande do Sul. A ação consiste na coleta do material plástico, que pode ser retirado tanto de garrafas de bebidas quanto de recipientes como tubos de creme dental, embalagens de cosméticos, higiene pessoal, domésticos, medicamentos, produtos alimentícios, entre outros. Além de promover a conscientização ambiental com jovens, a iniciativa busca gerar recursos para entidades assistenciais com a venda dos itens à reciclagem.
Durante apresentação do projeto na cidade, a coordenadora da campanha, Simara Souza, enfatizou que apesar do trabalho de coleta de tampinhas ser aparentemente simples, muitas das instituições beneficiadas estão conseguindo subsidiar parte dos serviços com o dinheiro arrecadado pela campanha.
— A Liga de Combate ao Câncer de Tramandaí conseguiu, com os recursos obtidos da Tampinha Legal, manter o serviço um profissional do serviço de fisioterapia, que corria o risco de ser demitido por falta de verba — exemplifica.
Sobre a mobilização em Caxias, ela se disse impressionada pela grande adesão recebida por parte do Murialdo.
— Nos surpreendeu, nunca palestramos para um público tão grande e engajado. O objetivo principal é formarmos multiplicadores, e se conseguirmos em Caxias, teremos um resultado excelente — avaliou.
Como parte da campanha, alunos do Ensino Médio e da graduação do Murialdo receberam também oficinas gratuitas que ensinaram a confecção de andadores constituídos de canos de PVC para serem utilizados na praia por crianças com deficiência. A estrutura dos equipamentos é construída de forma voluntária e, todos os anos, no veraneio, os andadores são disponibilizados para empréstimo em unidades do Sesc existentes no litoral gaúcho.
A professora da Faculdade e Colégio Murialdo doutoranda em Qualidade Ambiental, Karen Caon, ressalta que ações práticas de caráter ambiental estimulam uma conscientização mais clara e proveitosa no ambiente escolar.
— É muito bom às vezes sairmos dos livros e mostrarmos na prática como cada um pode contribuir para tornar a utilização dos nossos meios e resíduos de forma mais sustentável. Além disso, há toda a finalidade social que os projetos pregam e reforçam valores positivos aos alunos — observa.
Caçadores de tampinhas
Crianças de 10 e 11 anos demonstravam surpresa a cada revelação da existência do plástico em objetos do dia a dia durante a palestra concedida a alunos do 5º ano na última quarta-feira. A importância da utilização e do descarte do material era destacado pela palestrante e coordenadora da campanha, Simara Souza, com vídeos voltados ao público infantil e ensinamentos com linguagem acessível e ferramentas lúdicas, incluindo o encerramento que contou com uma chuva de tampinhas para celebrar a ação. O esforço de tornar compreensível o tema e estimular o envolvimento das crianças surtiu o efeito esperado.
— Achei muito interessante porque a gente às vezes nem imagina que o plástico está presente nas nossas vidas, até no tubo da pasta de dente. E muito legal ela (a palestrante) mostrar que o plástico pode ser reutilizado para o bem — comenta a aluna do 5º ano do Colégio Murialdo, Ana Carolina Abramo de Araújo.
Aos 10 anos, a estudante também garante comprometimento em ser uma "caçadora de tampinha" e influenciar amigos e familiares a se envolverem com a causa. Até porque, a partir da palestra, os alunos estão aptos a serem multiplicadores da divulgação da coleta de tampinhas.
— Toda vez que eu ver uma garrafinha de água ou refri indo pro lixo vou garantir de tirar as tampinhas — conta.
Os estudantes das turmas do 5º ano ficaram encarregados de formar grupos e repassar as orientações para crianças de séries menores. Inicialmente, há um coletor disponível apenas na recepção da sede do Murialdo — no Centro —, onde podem ser feitas doações de tampinhas pela comunidade. Com o tempo, a intenção é dispor de galões confeccionados pelos próprios alunos para aumentar os pontos de depósito do material. A entidade coletora — no caso, o Murialdo —, é responsável pela separação dos itens por cores. Todas as quartas-feiras, as tampinhas podem ser enviadas ao depósito da Fundação Gaúcha dos Bancos Sociais (Fiergs), em Porto Alegre, que então realiza a venda para recicladoras. O valor obtido na negociação é repassado pela própria empresa de reciclagem para as contas das entidades que encaminharam o material.
— Elas recebem o recurso proporcional ao que arrecadaram. 100% desse valor. Não cobramos taxas, nem comissão. Nosso objetivo é criar uma rede sustentável com soluções inovadoras de baixo custo — informa Simara Souza.
Ainda não está definida como será a escolha da entidade que receberá os recursos oriundos da venda das tampinhas em Caxias.
Andadores inclusivos para diversão no verão
A mais popular ação promovida pelo Tampinha Legal é a chamada oficina solidária. Por meio da atividade, há orientações sobre a confecção de andadores para que crianças com deficiência — de até 12 anos — possam utilizar o equipamento na praia. Os protótipos são compostos de canos e ligações de PVC. Após a estrutura de plástico montada, o equipamento pintura e assento por empresas parceiras do próprio projeto. Durante as oficinas realizadas em Caxias do Sul foram produzidos quatro andadores.
A estudante Vitória Rocha participou da oficina para montar andadores, atraída pelo espírito solidário.
— A gente precisa pensar não só em nós, mas sim no próximo e nos outros. Poderia ser a gente (na condição de baixa mobilidade). E são crianças. As crianças não podem ficar presas em uma cadeira. Eu acho temos de ter esse olhar além de nós, além da nossa vida — afirma a aluna do 1ª ano do Ensino Médio que participou da sessão de confecção de um dos andadores na última quarta.
A cada semestre, uma equipe do Tampinha Legal vai retornar a Caxias para promover as oficinas de produção de andadores. Na primeira edição, foram produzidos quatro equipamentos por estudantes do Ensino Médio e da Faculdade Murialdo.
Apesar de não participarem do processo de aprendizado, os andadores também chamaram a atenção dos alunos do 5º ano.
— Imagina um cadeirante podendo ir na praia? Isso é muito legal. Minha mãe trabalha com pessoas com deficiência e meu pai já trabalhou com plástico, eles vão ficar bem interessados pelo assunto — relatou Ana Carolina Abramo de Araújo, 10 anos.
No próximo verão, cerca de 30 equipamentos estarão distribuídos em unidades do Sesc espalhadas pelo litoral gaúcho, de Torres a Laranjal. (colaborou Rádio Gaúcha Serra)
COMO PARTICIPAR
:: Para haver o transporte das tampinhas até Porto Alegre são aceitas parcerias. Interessados em ajudar podem entrar em contato com a Faculdade Murialdo pelo (54) 3039-0245 (falar com Karen Caon).
:: Também são aceitas doações de materiais para a confecção dos andadores (canos e ligações de PVC e rodinhas de triciclo). Mais informações podem ser obtidas através do e-mail tampinhalegal@congressodoplastico.com.br
:: Entidades, empresas e escolas interessadas em aderir ao Tampinha Legal podem entrar em contato com a campanha pelo e-mail citado acima. Mais informações sobre o projeto podem ser encontradas em tampinhalegal.com.br.
:: Para doações de tampinhas, a comunidade pode procurar os pontos de coleta na sede do Murialdo, na Rua Marquês do Herval, 701, Centro. São aceitas tampas de todos os tipos, contanto que de plástico.
SOBRE O PROJETO
O Tampinha Legal foi lançado em outubro de 2016 e em um ano de atividades conseguiu conquistar adesão em mais de 150 cidades e distribuir 500 pontos de coleta em todo o Rio Grande do Sul. Neste período, foram coletadas aproximadamente 20 toneladas do material, o que reverteu uma verba de cerca de R$ 40 mil para 42 entidades vinculadas à Campanha.