A interdição das casas prisionais por superlotação e a possibilidade de presos serem mantidos em delegacias aproximam cada vez mais Caxias do Sul do cenário de colapso da segurança pública visto em Porto Alegre. A diferença é que, enquanto a Capital recebe apoio da Força Nacional de Segurança Pública e reforços de policiais militares de outras regiões, a principal cidade da Serra aguarda alguma ação concreta do governo estadual. O avanço da violência amplia o sentimento histórico de que a distância do Palácio Piratini resulta em descaso do governadores com a segunda maior cidade gaúcha.
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Para o presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviço (CIC), Nelson Sbabo, o município não recebe a contrapartida de sua contribuição econômica e tributária ao Estado.
– Parece que foi um pecado Caxias do Sul ser uma cidade próspera. Por termos um PIB alto, a violência sobe a Serra, mas os investimentos (em segurança) pelo Estado não. O governo precisa nos ver com olhos diferentes e dar dignidade a estes milhares de trabalhadores que contribuem com impostos – opina Sbabo.
A cobrança se refere ao fato de a Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) não cumprir uma estratégia oficial: priorizar investimentos em cidades com maior incidência criminal. Conforme o balanço do primeiro trimestre divulgado pela própria SSP, Caxias do Sul é o quarto município com mais roubos de veículos e latrocínios e aparece como segundo colocado no Estado no índice de furtos. O consenso é de que nenhum investimento ou mobilização ocorreu em Caxias e região, além do próprio esforço de integrantes da Brigada Militar (BM), da Polícia Civil e do Instituto Geral de Perícias (IGP) caxienses.
O novo argumento sobre o descaso surgiu após a formatura de 223 novos policiais civis, no início deste mês. Na prática, Caxias do Sul recebeu apenas quatro novos servidores. O resto das movimentações foram de agentes que pediram para trocar de comarca.
– De mais de 200 policiais formados mandar só quatro para Caxias? É uma desconsideração muito grande. Precisamos de mais atenção. Nós realmente ajudamos (o governador José Ivo Sartori). Os empresários sempre ajudaram e muito a segurança pública. Pelos bombeiros, administramos as multas e aplicamos mais de R$ 5 milhões. Foram três caminhões adquiridos – afirma Humberto Valerio Tomé, presidente do Consepro.
Presidente da Comissão Temporária Especial para Enfrentamento da Violência, a vereadora Paula Ioris (PSDB) busca encontros periódicos com representantes da SSP. Na crise atual, ela acredita que não adianta procurar culpados e propõe parcerias em projetos para o sistema penitenciário e de prevenção da violência.
– Encontramos portas abertas no sentido de nos receberem. Só que aguardamos um retorno positivo, especialmente quanto ao efetivo. Acreditamos que a solução é integrar as forças de segurança, a sociedade e ações de prevenção. Mas precisamos de mais policiais – opina a vereadora.