A comunidade de Monte Bérico do 3º Distrito de Farroupilha parou neste domingo para reverenciar e despedir-se do fisioterapeuta Rafael Corrêa Gobbato, uma das vítimas do trágico acidente áreo que vitimou a equipe da Chapecoense nesta semana. O corpo do fisioterapeuta-chefe do time de Chapecó chegou na cidade no começo da madrugada deste domingo. Após passar pela funerária, foi transladado para a capela Nossa Senhora do Monte Bérico, onde familiares e amigos prestam as últimas homenagens até 14h30min, horário previsto para o sepultamento no cemitério ao lado.
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Ainda que o jovem tivesse morado boa parte da vida em Porto Alegre, os pais são naturais da comunidade que fica no interior de Farroupilha, próximo ao Burati, justificando assim a escolha pelo local do velório. Mas a distância não foi empecilho para a despedida, já que amigos vieram de Porto Alegre e de diversas partes do Estado para lotar a singela capela interiorana. Inclusive colegas de Chapecó despencaram-se até a Serra Gaúcha em carros particulares nesta madrugada.
O advogado Márcio Floriano, 32 anos, era um dos amigos mais próximos de Gobbato. Tão próximo que a última conversa entre os dois aconteceu momentos antes dele embarcar no primeiro vôo, em São Paulo, na última segunda-feira, via WhatsApp. Gobbato contava ao companheiro de escola que estava ansioso para a partida de futebol, e muito feliz com a viagem. Escreveu, inclusive, palavras que costumava repetir a quem gostava de verdade: eu te amo, amigo.
– Ele demonstrava afeto o tempo todo entre os amigos. Até eu que não sou muito disso, com ele, saía espontaneamente, por ser tão afetuoso. Ele me escreveu que estava feliz por ser tio, já que minha filha ia nascer e nos considerávamos irmãos, e feliz também pela final. Era um grande momento da carreira dele – descreve o amigo, advogado de 32 anos, de Porto Alegre.
A carreira de Gobbato estava, de fato, em ascensão. Isto porque além de ter a responsabilidade de ajudar a preparar os atletas que estavam diante de um título tão almejado em Chapecó, ele recebia propostas de outros clubes foram do eixo sul para atuar. Estudava a possibilidade de trabalhar no próximo ano nos Emirados Árabes, por exemplo. O foco agora, é claro, era com o time catarinense.
A trajetória profissional do farroupilhense é bastante intensa. Ele chegou a atuar como professor do Centro Universitário Franciscano (Unifra) e foi vice-presidente do Riograndense, time da cidade de Santa Maria, em 2015. Morou em Santa Maria alguns anos, onde conheceu a noiva, a também professora Vivian da Pieve Antunes, com quem se relacionava há quatro anos, segundo o amigo Márcio. A qualidade do trabalho do rapaz era reconhecida também pelos jogadores, lembra o amigo.
– A última vez que viajei a Chapecó para assistir a um jogo, um dos jogadores, o Cléber Santana, disse para ele: 'está aí o melhor dos melhores'. Quando estive lá, fiquei impressionado com o carinho do pessoal da Chape com ele– afirma Márcio.
Além da namorada, ele deixa os pais Lurdes e Paulo, e o irmão mais novo Gláuber. A família foi comunicada sobre o acidente ainda na madrugada da terça-feira, e aguardou a confirmação da morte até pouco depois do meio-dia. A angústia de esperar por quase uma semana para velar o corpo do rapaz tornou o momento ainda mais difícil, mas deu tempo de preparar uma cerimônia bonita, com música, cânticos e discursos emocionados de amigos sobre Gobbato.
Os amigos de Porto Alegre depositaram no caixão a bandeira de uma das paixões do colorado: o time Galo Etílico. Gobbato foi um dos fundadores do informal time de colegas de colégio, integrado por cerca de 30 porto-alegrenses. Todos são unânimes em dizer que Gobbato parte muito antes de realizar uma série de sonhos importantes, muitos relacionados à carreira que indicava apenas o começo do sucesso que esperava. Mas também concordam que o jeito afetuoso de quem não poupava declarações de amor e amizade, deixa claro que ele gostava muito da vida que levava.
– Ele era muito bom tecnicamente e um cara de muita emoção. Era, mesmo, o melhor dos melhores – resume o amigo.