Amigos do empresário Fernando Weber, 43 anos, assassinado na noite de quinta-feira, em Caxias do Sul, realizaram uma caminhada na tarde deste domingo para chamar a atenção para a violência que assusta a cidade. Organizado pela profissional de marketing Simone Cadorin Lopes, 50, o ato reuniu cerca de 40 pessoas, que partiram do largo em frente à igreja São Pelegrino e seguiram pela Avenida Rio Branco até a Praça das Feiras, onde foram soltos balões brancos para simbolizar a paz. Além dos balões, os participantes levaram flores, fazendo referência à profissão de Weber, que era florista.
– Quem semeia flores não pode colher violência. E o Fernando passou o amor através das flores. Quantas milhares de pessoas receberam carinho, afeto por meio do trabalho que ele realizava – refletiu Simone.
Conforme Simone, o objetivo é repetir periodicamente atos como o deste domingo, mobilizando cada vez mais a população, incentivando ações conjuntas no combate à violência.
– Não podemos esperar apenas o paternalismo dos órgãos públicos. De alguma forma, temos de nos mobilizar, criar grupos de enfrentamento contra algo que afeta a todos nós. Estamos nos sentindo cada vez menos seguros. Esperamos que seja a primeira de muitas ações. Temos de fazer o que está ao nosso alcance, não apenas esperar que o governo tenha dinheiro para a segurança – conclamou a organizadora, citando entre os exemplos grupos no WhatsApp onde informações possam ser compartilhadas.
Moradora de São Pelegrino, a relações públicas Alexandra Gobbi, 51, lembrou da época em que a violência não assustava tanto a população:
– A gente ia e voltava a pé da escola. Hoje, temos que levar e buscar nossos filhos para tudo. Temos de deixar as janelas fechadas, ficar atrás de grades porque está cada vez mais difícil.
Viúva do florista, a empresária Rozemeri Bastos Weber também participou da caminhada.
– É muito doloroso. Espero que a morte do Fernando chame a atenção e ajude a melhorar essa violência que está por todos os lugares – disse Rozemeri, enquanto recebia o carinho de familiares, funcionários e amigos na concentração para a caminhada.
Irmão do empresário assassinado, o ator e designer floral Felipe Weber, 28, contou que veio do Rio de Janeiro no último domingo, dia 30, para auxiliar o irmão nos eventos para o qual havia sido contratado nas próximas semanas.
– Vim do Rio de Janeiro e as pessoas me perguntavam se eu não tinha medo de morar lá por causa da violência e aconteceu aqui justamente com meu irmão (o assassinato). Aconteceu com o nosso irmão, e não queremos que aconteça com outros – lamentou Felipe.
Atual coordenador do Programa Justiça Restaurativa para o Século 21 do Tribunal do RS, o juiz Leoberto Brancher acompanhou bastante emocionado a manifestação silenciosa.
– Vim pela solidariedade. Apesar de ser uma dor particular (referindo-se à família de Fernando Weber), é um problema de toda a sociedade. Sinto que falta às pessoas colocarem-se no lugar dos outros. Outro dia participei de uma caminhada em memória ao papeleiro Carlos Miguel dos Santos (morto em setembro de 2012 após ter tido 85% do corpo queimado por chamas ateadas por adolescentes enquanto dormia) e havia o carrinho que ele usava para recolher os resíduos. Se fôssemos colocar naquele carrinho todos os corpos de vítimas de mortes violentas em Caxias desde aquele episódio, seriam mais de 500 pessoas – salientou Brancher.
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Na Praça das Feiras, os comerciantes Márcia Padilha, 34, e Zigomar Falkoski, 36, assistiram ao ato com atenção. Proprietários de uma fruteira na Rua Sinimbu, no bairro São Pelegrino, contaram acompanhar com apreensão a escalada da insegurança na cidade. Até este domingo, 131 pessoas haviam sido assassinadas em Caxias do Sul, conforme o Contador da Violência do Pioneiro.
– Nos preocupa porque nunca sabemos se vamos ser os próximos e como pode acontecer. Temos dois filhos pequenos (Cauã, de 11 anos, e Giovani, de nove), e precisamos ficar sempre atentos. Estávamos aqui conversando sobre como podemos fazer a nossa parte, mas a gente percebe que não há muito a fazer – disse Márcia.