Caxias do Sul ultrapassou a marca de cem assassinatos no ano, e jovens entre 12 e 30 anos representam mais da metade das vítimas. Entretanto, pouco se vê de ações eficientes no combate à violência e, principalmente, na prevenção de conflitos, já que boa parte dos crimes possui motivações banais. Como o poder público não consegue oferecer algo capaz de sanar a criminalidade, uma nova geração decidiu agir. Eles ainda não chegaram à maioridade, mas já têm a convicção de que somente com a disseminação da cultura da paz se pode mudar essa realidade.
Inconformados com a insegurança e com o crescente número de jovens envolvidos com o crime, Cecília Costa da Luz, 16 anos, e Luiz Henrique Nolasco, 15, se formaram como voluntários da paz. Hoje, os dois estão habilitados para mediar desentendimentos familiares e escolares em busca da pacificação. Parece pouco, mas essa atitude pode evitar que casos simples se transformem em atos violentos.
– Não consigo e não posso me acostumar com a realidade que temos hoje. Ver adolescentes desistirem de estudar e optando pelo caminho do crime me incomodou e me fez querer mudar tudo isso – diz Luiz, que também é presidente do grêmio estudantil da escola Basilio Tcacenco, além de ser professor de catequese e membro do grupo de jovens da Igreja Nossa Senhora Aparecida, no bairro Consolação, Zona Sul.
A vontade de criar um futuro diferente também é o sentimento de Cecília. Por um ano, ela morou fora do país, em uma comunidade carente dos EUA, e teve a oportunidade de conhecer formas diferentes de coibir todo o tipo de violência, seja criminal ou até mesmo o escolar e familiar. Porém, ela acredita que a tarefa de tornar uma cidade mais segura depende do envolvimento da comunidade.
– As pessoas precisam entender que está na hora de unir forças, de dar as mãos e fazer algo prático em busca da paz. Diante do que temos hoje, o futuro não nos dará chances de reverter essa situação. Precisamos fazer agora, o quanto antes possível – afirma ela, que estuda no colégio Santa Catarina e pretende atuar com o direito internacional.
Mesmo sem saber por onde poderiam começar, o sentimento de querer ajudar levou Luiz e Cecília para o caminho certo. Agora, mesmo enfrentando um trabalho de formiguinha, os dois já deram o primeiro passo em busca da paz generalizada.
– No começo, minha família pensava que essa vontade de consertar o mundo era uma brincadeira de criança. Mas não desisti e aos poucos consegui mostrar que um futuro melhor também é feito pelos jovens – explica Luiz.
Engajados e pensando em como viver em uma cidade longe da violência, a dupla planeja as primeiras ações práticas com o grupo de voluntários. As primeiras abordagens serão com círculos de conversa em escolas, na tentativa de buscar um bom relacionamento entre estudantes e professores.
– É uma maneira de formarmos um ambiente harmonioso e longe de conflitos. Se conseguirmos plantar a semente da mudança e da paz, já vou estar realizada – conta Cecília.
No período que compreende a Semana da Paz, em setembro, e a Semana da Justiça Restaurativa, em novembro, a reportagem conta histórias de pessoas que se engajam contra a violência em Caxias.