A taxista de 33 anos que passou cerca de 30 minutos em poder de Robes Dolinski, preso pelo assassinato de duas mulheres e que havia fugido do presídio na sexta-feira passada, só teve coragem de falar sobre o caso com a reportagem nesta segunda-feira. Não fosse a reação da mulher na tarde de domingo, que lutou com Dolinski, possivelmente o desfecho seria outro.
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O drama da taxista começou cerca de 48 horas após a fuga do homem da Penitenciária Industrial de Caxias do Sul (Pics). Na tarde de domingo, ele embarcou no táxi da mulher em um posto de combustíveis na entrada do bairro Santa Fé, às margens da RSC-453. Dolinski anunciou o assalto e ameaçou a vítima com uma faca.
Com dois anos de profissão, a motorista dirigiu até a ERS-122, em Farroupilha, onde foi ordenada a parar no acostamento. Ela conseguiu escapar do suposto assaltante e houve luta corporal até que um patrulheiro rodoviário estadual interviu e prendeu o foragido da Pics.
– Fiquei com um braço esfolado, um galo na cabeça de um soco que levei e outro arranhão no queixo (feito por faca). E estou com dores por todo o corpo. Mas estou bem. Tirei forças não sei de onde. Eu só sabia que não ia desistir sem lutar – comenta a vítima.
Confira a entrevista completa:
Como foi a corrida?
Ele pegou o táxi no posto (de combustíveis às margens da RSC-453, entrada do bairro Santa Fé). Perguntou quanto daria a corrida até o shopping Iguatemi. Respondi que seria uns R$ 30 e ele embarcou. Já na Perimetral (Bruno Segalla, no bairro Floresta) com a RSC-453, ele colocou a faca na minha barriga e anunciou o assalto. Dizia que era um foragido e mandou eu ficar quieta. Caso contrário, iria "abrir meu bucho de fora a fora". Me mandou seguir reto (pela RSC-453) até que, no pedágio de Farroupilha (na ERS-122), mandou encostar naquele retorno (próximo ao antigo desvio do pedágio). Só que tinha uma viatura próxima e ele falou para ir mais para frente. Voltei para a faixa e andamos mais um pouco para frente, só que ainda próximo à viatura da polícia. Ele me ameaçou ainda mais até que me mandou descer do carro. Ele começou a me empurrar porta afora, só que eu consegui puxar as chaves do veículo e correr.
Foi neste momento que entraram em luta corporal?
Ele me alcançou e me derrubou. Acho que ele estava procurando o meu pescoço, mas a faca pegou no meu queixo (só arranhou). Não sei como, mas consegui desarmar ele. Ficamos naquela luta corporal e caímos na valeta. Foi aí que eu consegui segurar ele pelas costas e gritar por socorro. Primeiro, apareceu um rapaz atravessando a rodovia e, logo depois, a polícia. Ele foi preso, fomos para o hospital fazer os exames (de corpo de delito) e depois para delegacia. O que entristece mesmo é que muita gente viu ou ouviu meus pedidos de socorro (na RSC-453) e não ajudou. Uma mulher pedindo ajuda e tantos (veículos) passam fingindo que não viram. Mas consegui sobreviver. Isso é o mais importante.
O que ele queria? Era realmente um assalto?
Acho que ele estava querendo o carro. Parece que queria ir para Porto Alegre. Ele me disse "Tu não sabe com quem está falando! Eu acabei de fugir do presídio, sou foragido, estou com fome, cansado e já matei duas pessoas". Mas ele ficava mudando de ideia. Depois disse que tinha sido acusado injustamente e que não iria me fazer mal. Mas, se eu reagisse, "ia abrir o meu bucho de fora a fora". Mas não sei qual era a intenção dele. Eu vinha encostando (o carro na estrada), mas ele sempre mandava seguir. Não sei nem se ele sabia dirigir. Afinal, por que não tentou ir para uma estrada escondida?
Como foi passar por tudo isso?
Eu nunca tinha sido assaltada. Com certeza fiquei com medo. Foi a primeira vez e já foi inesquecível. Ainda estou me sentindo "um peixe fora da água". Alguns colegas vieram me socorrer (no local), um deles reconheceu (o assaltante) e falou que era o assassino de duas mulheres. Disse que eu tinha nascido de novo. Mas só estou assimilando tudo nesta manhã (segunda-feira), depois de dormir. Mas é bola para frente. Não podemos desanimar e não vou desistir sem lutar. Com certeza vou continuar (sendo taxista). Gosto de dirigir e de lidar com o povo. Não vai ser esse “sustinho” que vai me derrubar.