Desde a tarde de quinta-feira, a família de Dionei Soares, 38 anos, segue sem um lar em Caxias do Sul. O pintor passou a noite ao lado de um fogão a lenha sob uma lona, em um acampamento improvisado montado na rua, depois que uma determinação judicial tirou ele, a mulher e duas filhas de casa. A Fundação de Assistência Social (FAS) ofereceu abrigo provisório em um albergue ainda na noite de quinta, mas a proposta que foi recusada. A mulher, Juliana Sappe Bernal Vieira, 25, e as crianças Letícia, nove, e Ana Carla, dois, dormiram na casa de uma vizinha.
– Vivemos uma vida inteira trabalhando, não vamos ficar jogados igual a um bicho em um albergue. Que me arrumem qualquer lugar para ficar – diz Soares.
Leia mais:
A família foi retirada de casa na tarde de quinta por meio de uma reintegração de posse. Segundo Soares, era por volta de 14h quando uma equipe acompanhada de oficial de Justiça retirou todos os móveis da pequena casa de material, de dois pisos e apenas duas peças estreitas. A porta ficou lacrada com uma fita preta e amarela. Sofá, colchões, armários, alimentos e roupas foram acomodados sob uma lona preta na Rua São Mateus, no lado oposto ao da residência. Para suportar o frio, Soares instalou o fogão a lenha. Ele passou a noite em um sofá ao lado do fogo, sem pregar o olho, com medo de que algo fosse roubado
– Nos sentimos como bichos quando vieram aqui, tiraram até panela que estava no fogo – reclama o pintor.
O diretor do albergue municipal, Júlio Cézar da Silva Chaves, explica que visitou a família por volta de 22h de quinta-feira, quando vizinhos telefonaram informando da situação. Chaves acrescenta que ainda na noite de quinta-feira foi oferecido abrigo para a família, e que os pertences poderiam ser levados a um depósito da prefeitura, até que uma solução definitiva fosse encontrada.
Na manhã desta sexta-feira, Chaves e uma equipe da FAS retornaram ao local, no loteamento Portinari, região do bairro Cruzeiro. Uma reunião na secretaria da Habitação ficou marcada ainda para a manhã desta sexta-feira.
De acordo com a presidente da FAS, Marlês Andreazza, a família é acompanhada há vários meses. Ela explica ainda que a Fundação ofereceu encaminhamento para emprego e atendimento por um Centro de Referência da Assistência Social (CRAS). Soares teria procurado a FAS há cerca de um mês para pedir ajuda.
– O que a família quer é uma casa, e isso nós não temos para oferecer – aponta Marlês.
A residência onde a família vivia foi comprada por cerca de R$ 10 mil, pagos com um carro e dinheiro. Soares explica que não fez qualquer documento comprovando a compra e que o vendedor não vive mais na cidade. A área onde fica a residência é uma invasão. Conforme o diretor do albergue, a família havia sido notificada de que deveria deixar o imóvel há cerca de seis meses.