
Objeto comum na vida de quem convive com a diabetes tipo 1, as canetas de insulina são essenciais para garantir qualidade de vida aos pacientes. No entanto, pouco se fala sobre o impacto delas no meio ambiente. Afinal, um paciente pode usar até três canetas por mês, dependendo da orientação médica.
Desde setembro de 2024, um grupo de voluntários de Farroupilha se reúne semanalmente para transformar as canetas que iriam para o lixo em canetas para uso escolar — se fossem descartadas de forma incorreta, poderiam levar mais de 50 anos para se decompor.
Além da preocupação com o meio ambiente, a iniciativa surgiu como forma de alertar sobre o que é, quais são os sintomas e como age a diabetes tipo 1, principalmente nas crianças.
A ideia surgiu porque o filho de Neusa Pietta, uma das voluntárias, tem o diagnóstico da diabetes desde os três anos de idade.
— Ele sentia vontade de tomar bastante água, fazia bastante xixi, e ele estava meio molengo naqueles dias. Ele emagreceu bastante, mas achavam que era uma virose ou covid-19. Foi muito triste o momento que passei. E aí eu vi a necessidade de falar sobre isso, porque não tem informação sobre diabetes tipo 1 e vem crescendo muito. Quando aconteceu tudo isso, eu vi a necessidade de criar projetos pra falar sobre isso — relembra Neusa.
Junto da professora Sonia Táparos, que deu aulas ao filho de Neusa, Mateus Pietta, no primeiro ano de diagnóstico da doença, há cerca de três anos, decidiu criar o grupo Insulife.
— A gente quer levantar esta bandeira. A importância de se olhar pra uma doença que não é visível, mas existe. É um diagnóstico de uma doença autoimune. Então, precisamos falar sobre isso — afirma Neusa.
De lixo a material escolar

Com canetas de insulina ou de Ozempic que seriam descartadas, o grupo conta com o auxílio de dois professores, Edson Francisquetti, pós-doutor em Ciências dos Materiais, e Antônio Forest, professor de Física, que orientam sobre o descarte dos materiais. A professora Luciana Cioato também faz parte do grupo.
Os voluntários formam uma linha de produção, em que cada um tem uma tarefa. Por dia, conseguem produzir até cem canetas.
A primeira etapa é retirar o recipiente de vidro em que fica o remédio dentro da caneta. Depois, é necessário retirar uma peça de plástico. A seguir, os voluntários cortam as canetas esferográficas e encaixam na carcaça do medicamento.
— A gente se reúne aqui, às vezes uma vez por semana, às vezes duas, às vezes uma leva um pouco para casa. A gente pretende distribuir 50 canetas para cada escola do município de Farroupilha. Agora, a gente também está entregando para o hospital da cidade, para alguns médicos que são parceiros, clínicas. Para que eles também possam falar com os pacientes sobre a doença — explica Sonia Táparos.
Depois de prontas, as canetas são embaladas em um pacote com um recado informativo sobre a diabetes tipo 1 e sobre os impactos do descarte incorreto de plástico.

Projeto viralizou nas redes sociais
Desde a criação do Insulife, em setembro, Neusa e Sonia postam nas redes sociais particulares sobre o projeto e as entregas das canetas.
As postagens já chegaram aos quatro cantos do Brasil. Inclusive, por conta disso, o grupo recebeu canetas vindas de Minas Gerais, Tocantins e São Paulo, por exemplo. Além das canetas que seriam descartadas, a marca de marcadores esferográficos Pilot enviou uma caixa com 600 canetas para a produção da Insulife.
— Quanto mais pessoas a gente conseguir atingir, é muito gratificante. Plástico e vidros, às vezes, tu não sabe onde colocar, onde levar e que órgão que vai fazer essa reciclagem de forma correta. Então, por isso que a gente busca, também, pessoas para nos auxiliar e nos dar informação da melhor forma possível. E também de mostrar para as pessoas que a gente está aqui para se ajudar e dar as mãos — diz Neusa.
Quem quiser ajudar a campanha, pode entrar em contato com as voluntárias pelo instagram @projetoinsulife.