Anunciado em dezembro do ano passado pelo governador do Estado, Eduardo Leite, o programa RS Seguro COMunidade, segundo eixo do programa RS Seguro, tem o bairro Fátima, na Zona Norte de Caxias do Sul, como território contemplado para receber uma série de ações que visam promover mais oportunidades à população, através de políticas sociais construídas junto com os moradores. A premissa do projeto é priorizar programas de geração de renda, engajamento jovem, educação, saúde da família e meio ambiente.
Executado em parceria com entidades como a Central Única das Favelas, o programa terá, neste mês de setembro, os primeiros encontros para definir diretrizes de aplicação do recurso recebido através da Secretaria de Segurança Pública (o valor destinado a cada um dos 17 municípios não foi divulgado, mas o total a ser investido pelo programa é de R$ 90 milhões em 10 anos, conforme o anúncio oficial). A Escola Municipal Professora Ester Justina Troian Benvenutti irá ceder uma área em seu ginásio onde irá ocorrer a etapa de mapeamento das demandas da comunidade.
– É na escola que iremos reunir os moradores, para que eles possam ser a voz que vai nos dizer o que eles querem, o que almejam em termos de tecnologia, de inovação, para que, através das parcerias, a gente possa chegar com este suporte. Se por um lado há o objetivo de dar mais oportunidades a pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade, ou que são invisíveis por muitos, por outro lado a gente acredita que as pessoas precisam se reconhecer como protagonistas de suas ações – comenta Amarildo Rubinei Moreira, coordenador da Cufa em Caxias do Sul.
Além da Cufa, outra entidade parceira é a Fundação Marcopolo, através de seus projetos Amplificador, Geração Consciente e O Futuro Que Queremos. A iniciativa ocorre na Escola de Criatividade da entidade, mas, através da parceria com a EMEF Ester Benvenutti, seus alunos também estarão envolvidos em oficinas de cinema, música, desenho e de moda, que irá culminar na realização de um desfile-show na escola, no dia 25 de outubro.
- É um projeto que convida essa juventude a desenvolver o seu repertório criativo e sua identidade, através da produção de videoclipes, de composição musical, de fanzine e criação de peças de vestuário. Também estamos construindo junto com a escola uma programação voltada para a cultura hip hop, com oficinas breaking dance, rimas e grafitagem, envolvendo educadores sociais como Chiquinho Divilas e DJ Hood - explica Daiane Luza, especialista de Responsabilidade Social da Fundação Marcopolo.
Daiane acrescenta que as ações, por meio de diferentes projetos, visam o objetivo comum de, por meio de ações de educação, de cultura e de esporte, alcançar índices de redução de criminalidade:
– Estamos alinhados com o objetivo proposto pelo governo do Estado através do programa RS Seguro, trabalhando com as regiões mais violentadas na nossa cidade, para que os jovens possam desenvolver seu repertório de vida e assim ampliar suas perspectivas de trabalho. O olhar da Fundação Marcopolo é este de trazer uma ampliação da visão de mundo dos moradores das periferias, buscando também entender qual o futuro que eles querem daqui para a frente.
Segurança é demanda prioritária
Entre os moradores do bairro Fátima, especialmente pais e mães de crianças e adolescentes, é consenso que o bairro precisa de mais segurança, principalmente por entender que falta policiamento e maior presença da Guarda Municipal nas proximidades das escolas. Vários citam a retirada de um módulo da Brigada Militar, em 2015, quando houve a substituição pelo policiamento comunitário, como um agravante para a sensação de insegurança.
- A escola, que deveria ser um ambiente mais seguro, poderia ter um controle maior de quem entra e quem sai, para que pais e mãe possam trabalhar em paz. Alguns dias atrás meu filho quase foi agredido por outras crianças que nem estudam na escola - comenta Fernanda Paim Subtil, 33, mãe de Gustavo, de 13 anos, e de Sophia, de 5.
Cassiano de Souza Gomes, 26, embora seja morador do bairro Jardelino Ramos, frequenta o Fátima nos dias em que a filha, Emanuelle, de 8 anos, tem aulas de dança, e também aos finais de semana, onde passa a tarde na pracinha para a menina brincar, considera que oferecer mais opções de lazer aos jovens é fundamental para que um bairro com problemas de segurança comece a mudar sua realidade.
- No Jardelino nós montamos um time de futebol que leva o nome do bairro, e que já conta com 20 crianças e adolescentes de até 17 anos. Estamos agora na luta para conseguir comprar mais equipamentos e uniformes. Quem já passou por essa fase da vida sabe a importância de ter algo saudável para se envolver e ocupar a cabeça. Como pai, a gente quer o mesmo para nossas crianças.
O que é o RS Seguro
Lançado em 2019, o programa foi criado com o objetivo de reduzir os principais indicadores criminais por meio da focalização territorial, priorizando 23 municípios com os maiores índices de violência e criminalidade: Alvorada, Bento Gonçalves, Cachoeirinha, Canoas, Capão da Canoa, Caxias do Sul, Cruz Alta, Esteio, Farroupilha, Gravataí, Guaíba, Ijuí, Lajeado, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Pelotas, Porto Alegre, Rio Grande, Santa Maria, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Tramandaí e Viamão.
O programa está estruturado em quatro eixos: combate à criminalidade; políticas sociais, preventivas e transversais; qualificação do atendimento ao cidadão e valorização profissional; e sistema prisional. Todas as ações são executadas de forma articulada e integrada, com o envolvimento de diversos atores públicos e da sociedade civil.