Pacientes com câncer de Veranópolis e região contam, desde a semana passada, com uma nova opção para receber tratamento quimioterápico. Referência local em quimioterapia, o Grupo Tacchini ampliou o alcance do serviço abrindo uma unidade no Hospital Comunitário São Peregrino Lazziozi. A medida, que já era prevista, ganhou importância após a destruição da BR-470. A barreira física que se impôs entre os pacientes do outro lado do Rio das Antas tornou o acesso ao tratamento, em Bento Gonçalves, mais difícil.
— O período de chuva trouxe a necessidade emergencial de ampliar os atendimentos. Muitos pacientes do lado de lá do rio não estavam conseguindo chegar até Bento Gonçalves para dar continuidade ao tratamento. Usamos esse momento para estruturar e organizar o espaço junto ao hospital de Veranópolis — explica a Coordenadora do Instituto do Câncer, Diana Bruscato.
O espaço tem capacidade para três atendimentos simultâneos, todos exclusivos para quimioterapia. Atualmente, a unidade recebe apenas pacientes particulares e conveniados ao grupo. Contudo, a ideia é estender os atendimentos para outras seguradoras e para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Isso porque a maior parcela dos pacientes oncológicos atendidos na região recebem o tratamento via SUS. Dados do Grupo Tacchini compartilhados com a reportagem mostram que entre as 14 cidades da região basáltica, 1.200 têm acesso ao tratamento via SUS, enquanto 300 fazem o tratamento via plano de saúde.
— Há muitos processos burocráticos para abrir um novo centro de tratamento para câncer. Sabemos que o crescimento dos casos é uma tendência mundial. Por isso, a necessidade de ampliar a capacidade. No primeiro momento conseguimos autorização para os pacientes conveniados ao Tacchini e particulares. Mas as tratativas para realizarmos os atendimentos por outros convênios e o SUS seguirão ao longo do ano — detalha Diana.
Conforme a coordenadora, as salas utilizadas no Hospital São Peregrino Lazziozi têm capacidade para atender a demanda atual de pacientes conveniados ao grupo e particulares. No entanto, a unidade de tratamento oncológico poderá ser ampliada com o crescimento do público atendido.
Aproximação que encurta a espera
Os atendimentos na unidade de tratamento oncológico em Veranópolis começaram no dia 24. A veranense Simone Hilaria Marcon Torresan foi a primeira a realizar sessões de quimioterapia no espaço, inaugurando oficialmente o local.
Na primeira quinzena de operação, a unidade contabiliza 15 atendimentos a pacientes da região. No entanto, até que o Grupo Tacchini obtenha a autorização para realizar o tratamento de pacientes SUS, os 1.200 pacientes da região basáltica precisarão lidar com as adversidades para chegar em Bento Gonçalves.
Deixar a casa às 3h30min e retornar apenas às 21h. Desde que a BR-470 foi fechada para obras, a rotina de Rejiane da Silva se transformou. Moradora da área central de Veranópolis, ela começou a quimioterapia para tratar um câncer de mama em janeiro.
Nas primeiras sessões, o percurso até Bento Gonçalves era feito com o carro da família, na companhia dos filhos. Entre a ida e o retorno, eram necessárias cerca de três horas. Depois de maio, chegar até a cidade vizinha se tornou quase impossível.
— A Secretaria de Saúde até marcava a nossa ida de avião, mas quando chegava na hora o tempo estava ruim. Acabei perdendo uma das sessões. Depois, comecei a ir com o transporte da prefeitura. Tinha que levantar de madrugada porque o caminho era mais longo. Era cansativo, eu sentia bastante cansaço, náusea e tontura — conta a paciente.
O caminho alternativo para chegar no centro oncológico do Tacchini, em Bento Gonçalves, passa por Antônio Prado. São cerca de 110 quilômetros, com vários trechos de estrada de chão.
A abertura parcial da BR-470 diminuiu o tempo e melhorou as condições de viagem de Rejiane e dos outros pacientes. Na semana passada ela percorreu a rodovia para realizar a última sessão de quimioterapia, conquista duplamente celebrada.
— Achava que não ia conseguir fazer o tratamento. Tinha pensado em desistir porque era muito difícil. Mas consegui! Recuperei a sessão que faltou, segui em frente, enfrentei. Agora é me preparar para começar a radioterapia, que também vai ser em Bento — comemora com esperança.