Com o futuro no horizonte, Flores da Cunha tem uma iniciativa para dar oportunidade a crianças e adolescentes. Desde o início de julho, o InTec - Núcleo de Extensão Educacional oferece o contraturno escolar para estudantes da rede pública que estão entre o 4º e o 9º ano. Não trata-se, porém, de atividades convencionais. Com os pilares de tecnologia, inovação e esportes, o objetivo do InTec não é apenas o preparo dos jovens para o mercado de trabalho, mas também para a vida. Em um mês, o projeto mostrou-se um sucesso, atraindo 1,2 mil estudantes. Conforme a Secretaria de Educação, Cultura e Desporto de Flores, o número representa praticamente a maioria dos alunos da rede municipal e estadual que podem ter acesso ao núcleo.
Como lembra a coordenadora pedagógica da prefeitura, Graziele Dall Acua, 39 anos, desde o nascimento do projeto, em 2021, a intenção era de que o InTec fosse, primeiro, atrativo aos estudantes, já que os alunos não são obrigados a participarem dos cursos. O conceito também leva em conta a saúde mental dos estudantes, habilidades sociais e o bem-estar, uma vez que a pandemia trouxe impactos a este público.
— Hoje, o principal papel da educação é fornecer também este cidadão para o mercado de trabalho, para que ele esteja apto e, lá na frente, se desenvolva. Muitas vezes, a gente não sabe o que vai ser a profissão no futuro, mas se a gente desenvolver neles competências de criticidade, que pense, que consiga resolver problemas, que consiga diagnosticar coisas e botar a mão na massa para construir aquilo, a gente vai dar sugestões para esse aluno se virar sozinho — explica a coordenadora pedagógica.
São cursos que envolvem aulas como pensamento computacional, esportes, empreendedorismo, robótica, manufatura 3D, linguagens, cultura maker, fábricas startups, design de games, informática, culinária, teatro, arte e criatividade. O currículo inovador se une também a uma estruturação diferenciada das salas de aula. Os espaços de ensino foram pensados em cada uma das atividades. Por exemplo, em uma sala há um miniteatro, enquanto outra traz uma disposição com pufes e arquibancada, para ideia de startups. Os jovens podem, assim, sentir-se ambientados.
A própria escolha da área para construir o prédio de 2,5 mil metros quadrados é estratégica. O InTec está entre o Complexo Esportivo Municipal e o Ginásio Poliesportivo Marcos João Pivoto, o que proporciona que as atividades esportivas sejam feitas neles.
— Chegamos ao consenso do lugar por causa das duas estruturas, uma do lado da outra, com aproveitamento dos espaços públicos — conta o secretário de Educação, Cultura e Desporto, Itamar Brusamarello, que participou do projeto de desenvolvimento do núcleo.
"Oportunidade para todos"
O investimento do município para construir o InTec foi de cerca de R$ 9 milhões, tendo também apoio do setor privado. Já a gestão fica com o Instituto Besouro de Fomento Social. Como destaca o secretário florense, um dos princípios é que todos tenham a oportunidade de participar. Para isso, o município também fornece as refeições e o transporte aos estudantes, os levando ou buscando na escola. O núcleo funciona de segunda à sexta, das 9h as 17h.
— Todos os alunos podem se associar. É uma possibilidade para todos. Então, é possibilitar oportunidades para todos. Temos um conceito de que todos os estudantes são filhos dos nossos munícipes. Todos devem ter o mesmo tratamento. Quando eu tenho uma cidade com uma sociedade forte, seja em qualquer aspecto, ela sempre vai ser forte — lembra o secretário.
Com quase um mês de funcionamento, a avaliação é positiva. O próprio secretário tem uma experiência dentro de casa. Feliz, Brusamarello conta que o filho começou a cozinhar após participar das oficinas de culinária do InTec. O mesmo desenvolvimento é visto por quem atua no dia a dia no núcleo. A coordenadora pedagógica do instituto, Fernanda Vieira, percebe a vontade dos jovens de participar das oficinas:
— Então, quando olhamos para os projetos da sala do maker, por exemplo, vemos a galerinha desde os pequeninhos já mexendo nos fiozinhos, fazendo um LED funcionar, pensando de uma forma crítica, se deu certo, se não deu, e também trabalhar com isso. São projetos que daqui a pouco o fiozinho não vai funcionar, é uma frustração. Então, trabalhar essa questão e preparar eles ao longo desta caminhada da educação até chegar num ponto profissional é fundamental.
Um projeto diferenciado
Cinco educadores e três assistentes educacionais atendem aos estudantes no InTec. A maioria dos alunos vai uma vez por semana ao núcleo, ou seja, um atendimento de cerca de 300 estudantes por dia. Os professores contratados são especialistas no tema. Como é o caso do Samuel Borges, 56, que leciona educação maker e elétrica e mecânica. O professor conta que atraiu-se pela proposta de ensino oferecida.
— A proposta do InTec que é de priorizar sempre a parte prática. No meu caso, as minhas aulas são de 10 a 15 minutos de teoria. Depois, vamos direto para a prática. Eu reservo os últimos 10 minutinhos para a gente fazer um questionário e discutir como é que é a aplicação na realidade daquilo que a gente está estudando — conta o professor.
O secretário revela que a educação maker junto com o design de games são as oficinais mais procuradas. Mas, o que acontece na prática é que, ao ir em um dia, os alunos ficam com vontade de passar mais tempo no InTec.
Na aula de educação maker, por exemplo, as colegas Brenda Lacerda, 12, e Elisa Dalsasso, 11, dizem que estão gostando bastante da experiência no InTec.
— Criamos muitas coisas. Até agora a gente estava fazendo um sensor de luminosidade — conta Elisa.
Outra oficina que também prende a atenção delas é a de startups. Na aula, problemas do mundo real são levados para que os estudantes encontrem uma solução.
— Eu gostei de pensar naquele aplicativo que era para economia — diz Brenda.