O preço do alho nacional vendido na região atingiu na última cotação de preços da Ceasa Serra o maior valor de toda a série histórica, que contabiliza a variação de custos desde o ano de 2012. A R$ 33 o quilo, registrado na última terça-feira (23), a planta é um dos itens com maior valor no mercado de hortifrútis. Em comparação com o primeiro ano da série, quando o quilo custava R$ 5,30, o valor sofreu um aumento de 522%, sem considerar a inflação.
De acordo com o secretário de Agricultura de Caxias do Sul, Valmir Antonio Susin, os altos preços deste ano estão relacionados à safra prejudicada no ano passado devido às fortes chuvas que atingiram a região. Em novembro de 2023, o prejuízo na agricultura de Caxias foi estimado em R$ 30 milhões. Conforme o secretário, alguns agricultores chegaram a perder cerca de 60% de toda a produção de alho.
— Por causa das chuvas, acabamos tendo menos produção. A que tinha foi prejudicada, e aí o preço ficou mais elevado. Também houve impacto no alho importado, porque não tinha tanto alho para importar para a Serra, já que a Argentina, por exemplo, também produziu menos. Por consequência, quando tem menos produto, o preço fica mais elevado — avalia o secretário.
Aumento gradativo
Desde que o valor é contabilizado, em 2012, os três maiores registros do preço do alho ocorreram em semanas do mês de julho de 2024. Entretanto, a alta está sendo percebida de maneira gradativa desde abril deste ano.
No quarto mês deste ano, o valor mais alto foi na semana do dia 16 de abril, quando o custo chegou a R$ 29,33. O segundo foi no dia 23, quando chegou a R$ 28,90 e o terceiro no dia 9, com o valor de R$ 28 o quilo.
Foi no mês de junho deste ano que o preço do alho atingiu pela primeira três dezenas. No dia 11 de junho, o valor subiu para R$ 31,40. A partir daí, houve pequenas diminuições até a chegada de julho, quando o custo foi para R$ 32,75, no dia 9, e R$ 32,33, no dia 16. Com a cotação do dia 23 de julho a R$ 33, julho teve os maiores valores registrados desde 2012.
Segundo o diretor do Ceasa Serra, Alceu Thomé, o alho que não foi totalmente perdido por causa das fortes chuvas ficou com uma qualidade inferior à registrada em anos anteriores, quando o município conseguiu produzir e vender a safra inteira.
— Por causa do período de chuva do ano passado, o alho plantado aqui na nossa região acabou não crescendo, ele perfilhou e acabou não tendo a qualidade que nós estamos acostumados. Não formou cabeça, ficou só o bulbo. Então, esse alho não teve um bom aproveitamento, foi um alho fora do padrão — explica Thomé.
Qualidade prejudicada em 2023
A qualidade mencionada por Thomé foi percebida pelo produtor Irineo Cechin, de Vila Oliva, no interior de Caxias do Sul.
— Produtores que colhem no final do ano vendem este ano. Por causa do ano passado, que foi um ano atípico de muita chuva na época da colheita, nós perdemos praticamente 40% da produção na lavoura. Por causa da perda e da chuva, o alho que foi colhido tem uma qualidade muito baixa. Consequentemente, o valor do ganho, que ano passado estava bom, este ano é baixo para os produtores por causa da baixa qualidade — conta Cechin.
Quando a qualidade das safras é afetada por algum fenômeno climático, o ganho para os produtores é geralmente mais baixo. Só que, por outro lado, quando o alho chega aos consumidores, o preço é mais elevado, pois tem menos produto e muita demanda.
— O alho que colhemos de qualidade ruim chamamos de alho indústria. É um alho que não pega ganho. Em anos normais, é possível colher até uns 12 mil quilos por hectare. No ano passado não passou de 7 mil por hectare. E, quando a colheita não é boa, nós ficamos no vermelho, porque o custo de produção é uma média de R$ 90 mil por hectare. Com o que colhemos, tiramos uma média de R$ 70 mil por hectare — detalha o produtor.
Em compensação, a chuva do mês de maio deste ano não chegou a prejudicar a safra prevista para o ano que vem, que será colhida em meados de novembro. Conforme Cechin, o início da plantação, que geralmente ocorre entre maio e junho, não é afetado pelo excesso de água.
— No começo do ciclo, a chuva não prejudica, mas quando o alho começa a fazer cabeça, começa a fazer o bulbo, aí a chuva causa estragos, e foi exatamente o que aconteceu no ano passado. Chegou setembro até novembro, só chuva, o alho abriu e estragou. Agora temos a expectativa de que faça frio no inverno e que, quando chegar o mês de outubro, não chova tanto, para que ele possa se desenvolver e nós tenhamos uma safra de qualidade — diz Cechin.
Impacto aos consumidores
Conforme explica o economista e professor Mosár Ness, o preço do alho em 2012, a R$ 5,30 o quilo, se fosse considerada a inflação atual, estaria sendo vendido a R$ 11,18. O custo com a inflação representa uma variação de 195% em relação aos R$ 33 registrados em julho deste ano.
— O impacto deste aumento para as famílias é expressivo. Embora o alho seja um tipo de alimento que entra nas preparações, que agrega sabor ao alimento, ele não é o prato principal. Mesmo assim essa elevação é bastante substancial para esse tipo de condimento. Assim como os demais itens que são menores e têm grandes variações no preço, eles acabam minando o poder de compra da população. Isso acontece porque dificilmente os trabalhadores receberam um aumento de 195% no salário para acompanhar o custo do alho, a média da população não teve esse aumento. Então, o impacto é uma perda de poder aquisitivo na margem, nos pequenos condimentos e iguarias — acredita o economista.
De acordo com o secretário de Agricultura de Caxias, Valmir Susin, ainda não é possível ter uma estimativa de como estará a safra do alho ao longo deste ano, devido à previsão de que o fenômeno La Ninã atinja a Serra a partir do segundo semestre, podendo causar um período de estiagem em todo o Rio Grande do Sul. Por este motivo, ainda não há expectativa de que o valor do alho diminua.