Até a manhã deste sábado (4), ao menos 170 pessoas estão alojadas em abrigos no município de Caxias do Sul. Além dos resgatados em Galópolis e Vila Cristina, moradores dos bairros Fátima e Reolon também foram acolhidos nos espaços montados pelo poder público no Ginásio do Sesi, no ginásio municipal do bairro São Caetano e no Centro Comunitário de Forqueta. No final da manhã, a prefeitura anunciou que as famílias do Fátima e Reolon poderiam começar a voltar para suas casas.
Cerca de 65 estão alojados no Sesi, no bairro Interlagos. Dentre eles, Rodrigo de Oliveira, 34 anos, a mãe Jaqueline Inês Couzem, além de quatro cachorros e dois gatos, todos moradores de Galópolis. A família que chegou na sexta à tarde no abrigo improvisado viu a casa e uma vizinha serem levadas pelas águas, ainda na quarta-feira (1°), do Arroio Pinhal. Segundo Couzem, a vizinha de 89 anos era cega e acabou não conseguindo sair da residência. Ele conta que quase conseguiu chegar até ela, mas a casa desmoronou antes e as águas a arrastaram. A família morava em uma casa próxima ao posto de combustível que fica na entrada de Galópolis. Eles perderam tudo.
— Eu e meu irmão colocamos a mãe no carro. Aí ela viu e gritou que a casa da vizinha estava desmoronando. Eu corri pra lá e uma das vizinhas consegui tirar. A outra, que tem problema de visão, tentou sair, mas a casa dela desmoronou antes de eu alcançá-la. Eu vi as águas levando ela — lamenta.
A casa que a família de Couzem morava não desmoronou, mas alagou totalmente. A mãe e o irmão saíram primeiro e ele ficou para esperar ajuda para resgatar os animais de estimação: os cachorros Bobi, Lesado, Pandora e Baby, e dois gatos, Miudinho e Macarena. Ele e os bichos foram resgatados no começo da tarde desta sexta-feira (4) pelo caminhão do Exército e com apoio do Corpo de Bombeiros. Ainda não há expectativa da família voltar pra casa.
Na mesma situação se encontra Ivete Aparecida Fioreli, 52. Ela e o esposo foram resgatados com um grupo de vizinhos de Vila Cristina na tarde de sexta. A casa que eles moravam há dois anos ficava em um morro e não chegou a desmoronar, mas alagou e eles ficaram ilhados.
— Os homens da região abriram um caminho no meio do mato, aí os Bombeiros e a polícia conseguiram nos enxergar. Era um local de difícil acesso, saímos só com a roupa do corpo. Todas as pessoas saíram de lá, só a gente não conseguiu tirar meus bichinhos. Agora é um dia de cada vez — afirma a moradora.
Além deles, um grupo de mais de 40 pessoas foi retirado das áreas de risco nesta sexta: destas, 27 foram para o Sesi, algumas estão indo para casa de parentes e outras estão no ginásio de esportes do São Caetano.
Orientações sobre doações e voluntários
De acordo com a Cristiane Grandi Oliboni, diretora de Proteção Social Especial de Média Complexidade da FAS, no Sesi, a quantidade de voluntários está suficiente para a atual demanda.
— Pedimos que a população leve alimentos para o Banco de Alimentos, que é espaço que está preparando as refeições para os abrigados. Tudo que for de roupas, móveis e demais doações é na Fundação Caxias — orienta.
As buscas em Caxias seguem na região de Galópolis, onde ainda há três pessoas desaparecidas - dois homens e uma mulher. Há um bloqueio total da BR-116, em Galópolis, logo após a placa de final do perímetro urbano. Ali o corpo de Bombeiros montou uma estrutura para facilitar a logística. Não é possível voluntários ajudarem nessas buscas devido ao risco de desabamento.
Em Vila Cristina, voluntários e bombeiros abrem trilhas para chegar nas comunidades que estão ilhadas. Ainda não há informação de quantas pessoas ainda precisam ser resgatadas. No município já há registro de quatro mortes ocasionadas pelas chuvas.