Uma comunidade que aguarda para voltar à normalidade. Assim é a situação de 1.250 pessoas que estão fora de casa em Gramado, depois que precisaram evacuar 16 pontos da cidade considerados áreas de risco — no total, 40.134 pessoas vivem no município, conforme o último Censo do IBGE. A classificação é da Defesa Civil. Diversos bairros apresentam deslizamentos de terra e rachaduras, que comprometem a estrutura das construções, e podem desabar.
Em meio ao susto de sair às pressas e não poder levar consigo pertences e documentos, alguns dos moradores atingidos têm histórias parecidas. Já o sentimento vai da frustração em perder a casa ao agradecimento pela acolhida em um dos quatro espaço oferecidos pelo prefeitura aos mais de 240 desabrigados.
Com 72 anos, Marlene Xavier morou a vida toda no bairro Piratini, um dos que foram parcialmente evacuados e mais afetados pela chuva. Junto com o marido Loeci, 78, gerenciava uma pequena pousada, que corre o risco de desabar. O casal está temporariamente na casa do irmão de Marlene, em Canela, e precisando de doações para ter o que vestir, sem informações sobre o que será feito do bairro, e à espera de orientações do poder público.
— Nós não conseguimos tirar as coisas, pegar as roupas. Estamos vivendo de doações que ganhamos. Ninguém nos procurou, ninguém falou nada. Não podemos nos aproximar, nem entrar, não conseguimos fazer nada. É muito triste — lamenta a gramadense.
Resignada com a perda da casa e que também representava o sustento da família, Marlene não nutre esperanças de voltar para onde morava. A ajuda a vizinhos também afetados, para ela e Loeci, serve como sustentação para enfrentarem tudo pelo que estão passando.
— Eu só quero que não caia a casa, já enterrou uma parte. Mas que não caia tudo, para poder recuperar alguma coisa. Mas voltar, não. Porque ela quebrou, rachou. Vimos alguns vídeos e é terrível, muito feio. Eu não tenho a mínima ideia do que vai ser. Vamos seguir ajudando os outros, porque não fomos só nós — afirma.
Acolhimento para quem vem de longe
Os quatro filhos da venezuelana Francis Nairobi brincam no espaço destinado às crianças no Pavilhão São José Operário, no bairro Floresta, enquanto ela conversa com a sogra Lisbeth Nairobi. O abrigo recebe atualmente em torno de 50 moradores.
Os maridos, ambos de nome Maurício, trabalham com serviços gerais em Gramado. A família inteira está abrigada desde o início de maio, quando saiu às pressas da casa que aluga no bairro Várzea Grande em função dos deslizamentos de terra. Com apenas um mês de Rio Grande do Sul, Francis garante que, embora a situação seja de angústia e medo, não deixarão a cidade.
— Nós gostamos muito daqui. Meu marido e meu sogro já arranjaram emprego e os pequenos estão na escola. Agora, com as aulas paradas, não vão, mas logo retornam. Claro que não esperávamos todo esse temporal e o susto que passamos, mas vai acabar, e vamos encontrar outro lugar seguro — diz.
Alimentos e produtos de higiene são necessidades
As instalações oferecidas aos que precisam de teto, roupa e alimentação agradam os abrigados no pavilhão. Não faltam colchões, ou cobertores para os dias que irão esfriar. O pedido da Secretaria de Assistência Social, responsável pela organização da estrutura e das doações, é por alimentos não perecíveis, produtos de higiene pessoal e de limpeza. O titular da pasta, Ilton Gomes, ressalta a participação da comunidade no acolhimento.
— A nossa equipe é muito boa. Os técnicos, os voluntários. Gramado é muito solidária. Estamos conseguindo dar sustentação a essa crise surreal que vivemos aqui, e que o município jamais presenciou — pontua Gomes.
A secretária-adjunta Juliana Fish aborda a preocupação com a saúde mental das pessoas que são assistidas pelo município. Com direito a acompanhamento psicológico feito por profissionais da área.
— Estamos muito bem estruturados nesse sentido, principalmente aos quem perderam suas casas, e o trauma que isso gera. Nos abrigos damos todo o apoio técnico, de assistência, psicológico, médico. Nós vamos todos os dias nos espaços para ver o que falta, o que está precisando. E o apoio dos voluntários é fundamental nesse processo — avalia Juliana.